30.4.07

A nota lançada ao domingo, o tabaco na AR e Scarlett Johansson

31 de Março – O semanário Expresso noticia na sua edição de hoje que uma das notas do senhor Sócrates na Universidade Independente terá sido lançada a um domingo. Dificilmente encontraremos eficiência maior. Não se arranja aí uma comendazinha para o diligente funcionário? Olhem que vem aí o 10 de Junho…

1 de Abril – Perante a notícia que serve de capa ao semanário de Balsemão, os directores da Rádio Renascença e do Público confessam ter recebido telefonemas com o objectivo de alterar as referências a tal notícia quer nos alinhamentos dos noticiários da rádio, quer no destaque dado na imprensa escrita. O que se chama a isto?

2 de Abril – Que conclusões tirar do relatório do Tribunal de Contas? É, no mínimo, escandaloso que as verbas gastas com assessores, gabinetes e outros penduras dos últimos três governos pudessem pagar quatro Otas. Numa altura em se continuam a pedir sacrifícios aos portugueses, é chocante a vergonha com que se continua a nomear os amigos para isto e para aquilo.

3 de Abril – Perante o diploma que proíbe o fumo no edifício da Assembleia da República, alguns deputados do Partido Socialista já vão avisando que não irão fumar para o exterior. Conclusão que todos deveremos tirar: as leis só servem para os outros cumprirem.

4 de Abril – Ecos do último Benfica-Porto. Os sessenta e três mil adeptos do clube da casa foram revistados à entrada, os três mil que vieram do Norte foram convidados a passar por cima dos torniquetes e não foram revistados. Que se conclui? Que é mais grave uma manifestação âs portas de S. Bento, onde a polícia varre tudo à bastonada do que a prática de selvajaria dentro de um estádio.

6 de Abril – Apesar da pobreza franciscana dos cartazes cinematográficos na cidade, lá vou vendo um filme ou outro. O de Woody Allen, por exemplo. No filme, a personagem de Scarlett Johansson é uma jornalista em início de carreira que, visitada por um fantasma e aconselhada por ele, inicia investigação de um serial killer londrino. A investigação leva Scarlett aos braços de um aristocrata local que é o principal suspeito dos crimes cometidos. Não revelo o final, mas revelo os entretantos: Scarlett é um pequeno desastre porque caiu na tentação de ter piada. Pior: de imitar os tiques de Woody, como se os tiques de Woody funcionassem por osmose.

Não funcionam. Pior: quando Woody entra em cena, a cena é inteiramente dele. E se não fosse Woody Allen, qualquer homem seria mais convincente do que Scarlett. Porquê? Razão simples: Scarlett é demasiado bela para ter piada. E o humor só existe, e praticamente só existe no masculino, porque é ferramenta evolutiva indispensável para que um “macho” conquiste a sua donzela.

Christopher Hitchens, colunista da "Vanity Fair", também reflectiu sobre esse assunto em número recente da revista. Por que motivo as mulheres não têm sentido de humor? Ou, pelo menos, um sentido de humor comparável aos homens? Na sua coluna, Hitchens arranha a explicação sexual, mas acaba por escolher o papel sério da maternidade. O humor só existe por confronto com a morte; e esse confronto está interdito às mulheres, que ao gerarem vida e ao assumirem um papel de protecção e autoridade, não se podem dar ao luxo de desperdiçar cinismo e absurdo por aí.

E as mulheres, precisarão elas de ter piada? Não, as mulheres não precisam de ter piada. Não é por acaso que, numa das cenas antológicas do filme, Woody lhe pede expressamente para ela deixar as piadas para ele. Concordo inteiramente. Uma mulher como Scarlett não precisa de ter piada. Basta-lhe, simplesmente, aparecer. Porque, como dizem os brasileiros com genuína sabedoria, Scarlett Johansson já é, ela mesma, a maior gracinha que existe.

Nova Aliança, 27 / Abril / 2007

10.4.07

O "controle" do senhor Sócrates e o cruzamento de dados

11 de Março - Salazar despachava diariamente com o director da PIDE. Caetano não despachava com o director da PIDE/DGS. Durante trinta anos de democracia nenhum primeiro-ministro despachou em pessoa com qualquer chefe de qualquer polícia. Tudo isto irá mudar. Uma lei já anunciada vai pôr a PSP, a GNR, a PJ e o SEF sob a autoridade de um secretário-geral para a Segurança Interna, com o estatuto de secretário de Estado, que despachará directamente com o senhor Sócrates. Como de costume, esta organização foi copiada. Desta vez, do modelo espanhol. Com duas diferenças. Primeira, em Espanha, o "secretário-geral" está subordinado ao ministro do Interior e não ao presidente do Conselho. E, segunda, em Espanha o terrorismo da ETA e a imigração islâmica teoricamente justificam a necessidade de um único centro de comando.
Em Portugal, nenhum perigo imediato exige que as polícias passem a depender de Sócrates. Pior ainda: o SIRP, que superintende e coordena o Serviço de Informações de Segurança (SIS) e o Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED), dois serviços secretos, também ficará sob a tutela do primeiro-ministro. E a tudo isto, António Costa juntou dois novos meios de fiscalização e vigilância. O bilhete 4 em 1, que reúne o bilhete de identidade, o cartão de contribuinte, o cartão da Segurança Social e o cartão de utente do SNS. E o cartão que reúne a carta de condução, o livrete e o título de propriedade do automóvel.

Dados a cruzar, tendo como fonte o jornal “Público”:

- Identificação e cadastro contributivo das bases de dados da CGA, ADSE, ADM, SSMJ, SAD da GNR e da PSP, DGITA e IIES;
- Nacionalidade, residência e estado civil das bases de dados do Ministério da Justiça;
- Benefícios sociais das bases de dados da CGA, ADSE, ADM, SSMJ, SAD da GNR e da PSP, ISS e IIES;
- Vínculo laboral com a administração pública da base de dados da DGAP, do ISS e do IESS; - Rendimentos da base de dados da DGITA;
- Património mobiliário e imobiliário sujeito a registo das bases de dados do Ministério da Justiça;
- Situação escolar dos alunos, relativamente à frequência e aproveitamento;
- Obrigações acessórias, designadamente, início, reinício, alteração, suspensão e cessação da actividade, das bases de dados da DGITA, ISS, IESS e Ministério da Educação.

Bases de dados a cruzar:

- Subscritores, pensionistas e outros beneficiários da Caixa Geral de Aposentações (CGA);
- Beneficiários da ADSE;
- Beneficiários da Assistência na Doença aos Militares das Forças Armadas (ADM);
- Beneficiários dos Serviços Sociais do Ministério da Justiça (SSMJ);
- Beneficiários da Assistência na Doença (SAD) ao pessoal da GNR e da PSP;
- Funcionários públicos e agentes administrativos da Direcção-Geral da Administração Pública (DGAP);
- Identificação dos contribuintes fiscais da Direcção-Geral de Informática e Apoio aos Serviços Tributários e Aduaneiros (DGITA);
- Identificação civil, residência de estrangeiros e registo predial e automóvel, do Ministério da Justiça;
- Contribuintes e beneficiários do Instituto da Segurança Social (ISS) e do Instituto de Informática e Estatística da Solidariedade (IIES).

Quem começa por ter acesso:

- Todas as "gestoras" das bases de dados referidas anteriormente;
- Direcção-Geral das Contribuições e Impostos;
- Direcção-Geral das Alfândegas e dos Impostos Especiais sobre o Consumo;
- Inspecção-Geral de Finanças;
- Instituto da Segurança Social, nomeadamente através do Centro Nacional de Pensões;
- Centro Nacional de Protecção contra os Riscos Profissionais;
- Solicitadores de Execução.

12 de Março: Parece, pois, pretender policiar-se a vida dos funcionários públicos. Convém recordar que o próprio governo, por definição constitucional, é o órgão máximo da administração, "patrão" da dita função pública. Isto será feito através de "cruzamento de dados" a que, dadas as condições promíscuas em que tudo opera em Portugal, acabarão por ter acesso pessoas e entidades que originariamente não deveriam ter. Mais uma vez quem se pretende atingir são os funcionários públicos. Esta obsessão segregacionista do governo e a persistência em apoucar a função pública como se fosse toda uma choldra inútil a extinguir sumariamente, diz muito sobre o sentido de Estado do governo, que alguns apelidam de “soviético”. Será?


Nova Aliança, 31 / 3 / 2007

Correia de Campos, a violência sobre os professores e a História da Europa

26 de Fevereiro - Correia de Campos, ministro da Saúde, relacionou hoje a diminuição do número de mortes nas estradas com o aumento do preço dos combustíveis. Era suposto, pela expressão do ministro, que a afirmação revelasse o seu fino sentido de humor. Apenas fez lembrar o ministro do Ambiente de Cavaco, Borrego. Um governante não deve cair pelo seu mau gosto. Mas pode cair apesar do seu mau gosto. Correia de Campos, a esta hora, deve estar a caminho das urgências. Pode ser que chegue a tempo.

27 de Fevereiro - A verdade é que a Madeira está para o continente como Portugal está para a União Europeia. A única diferença é que a Madeira tem o mesmo líder há 30 anos, o qual tem sabido "sacar" tudo o que pode para a região, ao invés dos sucessivos governos portugueses que insistem em agachar-se perante a Comissão Europeia e demais instâncias comunitárias. Para comprovar o que digo, experimenta substituir no teu texto Madeira por Portugal e Portugal por UE.

1 de Março - Grande protesto pelo país fora contra a violência sobre os professores. Na minha modesta opinião, incompreensível. Durante anos, a «escola centrada no aluno» e os mestres das «ciências da educação» transformaram as criancinhas em monstros irresponsáveis, ignorantes e prepotentes. Quando uma reportagem televisiva mostrou – com imagens cruas – exemplos dessa violência exercida sobre professores pelos alunos do secundário, logo algumas boas consciências protestaram sim, mas contra a captação dessas imagens, não contra a violência, contra «o estatuto do aluno» e outras alegrias do sistema escolar. A escola «centrada no aluno» é uma festa para os sentidos, mas pouco edificante quer em matéria disciplinar quer em matéria científica ou pedagógica, com técnicos do Ministério da Educação que têm das escolas uma vaga ideia, apenas uma «recordação teórica», no fundo uma visão de poltrona. A escola do “eduquês” quer ignorar palavras como «disciplina», «autoridade» e «recompensa». O aluno é o «bom selvagem». Têm aí o que criaram. Aguentem-se…


4 de Março - «A intervenção de José Sócrates, sabe o EXPRESSO, foi decisiva para que Correia de Campos participasse no debate (Prós & Contras). Foi o primeiro-ministro que lhe deu instruções para aceitar o convite e definiu os moldes em que esta intervenção ocorreria. O ministro não estaria na primeira parte do programa, deixando aos técnicos o palco das explicações.»
EXPRESSO, 3 de Março

5 de Março - A importância que têm alguns verbos em dois títulos do Diário de Notícias:

«120 camiões por hora antecipam acessos à Ota»
«Estudar nova localização atrasará novo aeroporto em três anos»

Eis o DN sempre, sempre ao serviço da nação. Não seria de pedir logo o cartão partidário?...

7 de Março - "The futile top model protegée of an aging fashion designer is forced by circumstances to come into her own as a woman of the world. Intriguing but ultimately incomplete, amateurish melodrama from a director who ought to know better; there’s a strong woman’s picture plot and great performances lost in incomprehensible plotting, inept handling and poor photography (shot on digital videMarcadores: subsidio-dependênciaO ICAM deu 648.500 euros ao filme “Vanitas” de Paulo Costa. Teve 493 espectadores. Dá 1315 euros por cada um. Mil trezentos e quinze euros, por extenso. Défice? Desperdício? Naaaaa. País rico, só pode.

8 de Março – Alguém se lembrou agora de um livrinho único de História da Europa. Já imagino as crianças alemãs, portuguesas, espanholas e italianas a festejar versões comuns sobre tudo o que nos divide. Como é evidente, já existe um modelo franco-alemão a servir de inspiração. Em geral, trata-se de uma operação de limpeza muito adequada. Ficaríamos todos felizes e unidos pela mesma constituição e pelo mesmo manual de história da Europa. Felizmente que os dinamarqueses, os suecos e os checos já disseram que não estão disponíveis, ao contrário da Espanha, desejosa de mostrar que existe. Que haja um manual sobre a Europa, distribuído pelas escolas para sensibilizar os jovens e explicar as instituições europeias, sim; mas pormo-nos de acordo uns com os outros e limparmos cirurgicamente da História as vergonhas de cada um, parece-me já um exagero.

9 de Março – Desde manhã que nos lembram ser hoje o "dia internacional da mulher". Esta absurda convenção faz tanto sentido como outros "dias" quaisquer. Os que julgam que com este folclore unem, limitam-se a separar mais um bocadinho. O que segrega as pessoas é a bolsa, o berço, a cabeça de cada um e o politicamente correcto das "quotas". O feminismo exacerbado e disparatado, os "dias de" e o ramo de flores ou a paparoca de circunstância são apenas faces da mesma velha misoginia. Um ser humano é um ser humano que é um ser humano. Não é mais ou menos isso por ser um homem ou uma mulher ou o que ele decidir ser.

Nova Aliança, 19 / 3 / 2007