26.5.10

O 'Alzheimer' português e as faltas dos alunos

3 de Maio – Um conjunto de situações fez-me acompanhei em directo a audição de Armando Vara na Comissão de Inquérito da Assembleia da República. Na sua qualidade de administrador de um dos maiores bancos comerciais portugueses, ele tem conversas sem conteúdo, só sabe das coisas pelo que lê nos jornais e, mesmo quando o informam de qualquer coisinha, é "umas horas antes" dessas tais coisinhas serem públicas. Em suma: uma nulidade. Não sabe, não tem presente, não recorda, terá sido mais ou menos, mas não pode garantir...., tudo acompanhado de uma cara de anjo, de um encolher de ombros. Para responsável pelo meu património não o queria, ele só ganha o ordenado que lhe pagam, e ainda por cima para falar com pessoas que andam perdidas em Lisboa, sem saberem onde é a EDP, ou a REN ( recebendo umas caixas de robalos de vez em quando ). Mas acha tudo isso muito normal. Normalíssimo. Ora, isso deixa-me cada vez mais preocupado. Já conheci pessoas com Alzheimer (alguns sintomas: pequenos esquecimentos, perdas de memória), e acreditem que é frustrante e terrível chegar àquela condição.
Na sociedade portuguesa são muitos os novos casos de cidadãos com esta doença.


8 de Maio - Em Março do ano passado, o Ministério da Educação anunciou que, no primeiro período, o número de faltas caíra 22,5 por cento. Um feito que a então ministra Maria de Lurdes Rodrigues atribuiu ao facto de os alunos faltosos terem passado a ser obrigados a realizar provas de recuperação. "Um progresso absolutamente extraordinário", comentou na altura o primeiro-ministro, José Sócrates.
Na altura, quando os professores contrariavam os dados do ministério e afirmavam que as provas de recuperação tinham provocado o aumento de faltas, algumas escolas eram alvo da inspecção.
Agora ‘tudo’ mudou. O Governo do mesmo partido e com o mesmo primeiro-ministro chegou à conclusão, contida na proposta de alteração ao Estatuto do Aluno aprovada, de que as provas de recuperação terão incentivado os alunos a faltar mais e contribuído para maior abandono escolar.

Com as provas acabou o chumbo automático por faltas, mas os alunos que não obtêm aproveitamento nestas podem ficar retidos por decisão do conselho de turma. Esta premissa não consta da proposta aprovada agora pelo Governo, que opta antes pela obrigatoriedade de aplicação de "medidas cautelares", como a realização de trabalhos na escola. No final de Março, a ministra da Educação já tinha anunciado que os alunos só chumbarão se revelarem insuficiências de aprendizagem, uma situação, aliás, recorrente entre os estudantes faltosos. "Sentimos que não devemos associar a ausência da escola à repetência", acrescentou.

Apesar de lhe dar razão quanto aos efeitos das provas de recuperação, a nova proposta do Governo volta a ser criticada. Afinal de contas, continua-se a promover uma cultura de facilitismo com o objectivo de promover o "sucesso" nas estatísticas a qualquer preço.

Não faz sentido substituir as provas de recuperação por medidas de apoio pedagógico diferenciadas que já são aplicadas, nem continuar a proteger os alunos que faltam sistematicamente e de forma injustificada. De que serve suspendê-los se as faltas não contam para nada?

São estes meninos, agora com doze anos, que daqui a dez vão querer entrar no mercado de trabalho. Um mercado onde não haverá PTs, nem RENs, nem GALPs, nem institutos públicos, nem administração pública, nem subsídios de emprego, nem rendimentos mínimos, nem empréstimos ao consumo, que os valha. Um mercado a sério: difícil, competitivo e selectivo. Onde quem está bem preparado talvez consiga arranjar emprego, casa, carro, ir de férias e fazer compras no Pingo Doce, e onde quem não está preparado, está tramado.
Esses meninos estão agora, hoje, numa escola onde não se chumba, não se exige, não premeia e não ensina. As gerações futuras, além de terem de carregar com a dívida nacional dos paizinhos e pagá-la, vão herdar uma educação miserável que os está a preparar para concorrer ao rendimento mínimo e não ao mercado de trabalho.
P.S. 1 Durante o consulado de Milú Rodrigues à frente do Ministério da Educação, a Dra. Isilda Jana foi, em Abrantes, uma das suas defensoras incondicionais: elogiava-se a ‘mudança’, anunciavam-se ‘novos rumos’, exaltava-se a ‘convicção’ da ministra. Quando saiu da Câmara Municipal, os professores abrantinos esperaram da Dra. Isilda Jana uma atitude coerente: voltar à escola, à ‘sua’ escola como ela diz, experimentar a ‘mudança’, tomar contacto com os ‘novos rumos’, tentar encontrar a ‘convicção’. Ora, em vez disso, a Dra. Isilda Jana preferiu continuar na Câmara, desta vez num local cirúrgico. Ficámos por isso esclarecidos. Todos.
P.S. 2 Se a Presidente da Câmara de Abrantes julga que a ligação ao PS é o único factor de nomeação para cargos institucionais, então começa o seu mandato da pior maneira e há um sem-número de actividades que irão deixar de ocorrer na cidade.
P.S. 3 Agradeço à minha leitora Maria Adelina Lizardo a informação rápida que me transmitiu à questão aqui deixada no último número.

Nova Aliança, 13 / Maio / 2010