16.9.12

Os desvios da Parque Escolar e os enfermeiros a 3,96 euros `a hora

26 de junho - A “festa” da Parque Escolar continua. Depois de o Tribunal de Contas ter arrasado o modelo de gestão da empresa, é agora notícia que foram pagas obras que não se realizaram. E que se gastou mais de 2 milhões de euros num só sistema de ar condicionado, geralmente utilizado em hotéis de cinco estrelas. Está tudo nos relatórios sobre as escolas D. João de Castro e Passos Manuel. Com a chegada destes novos factos, é importante recuperar alguns dos já conhecidos e esclarecer algumas mentes mais ‘céticas’. Facto 1: a empresa endividou-se para além dos limites. Apesar do PEC 2010-2013, foi fixado à Parque Escolar um limite máximo de endividamento para 2010 de 542 milhões de euros. No entanto, o endividamento bancário da empresa no final de 2010 foi de 665,9 milhões de euros, mais 23% do que o limite fixado. Facto 2: houve desvios orçamentais. O programa foi apresentado, em 2007, para requalificar 332 escolas secundárias (2,83 milhões de euros por escola). Com o Plano de Negócios 2008, o objectivo mudou: requalificar 166 escolas (8 milhões de euros por escola). Cerca de 3 meses depois, após a Iniciativa Investimento e Emprego (IIE), o objectivo voltou a mudar: requalificar 205 escolas (11,95 milhões de euros por escola). Em 2010, o número de escolas a requalificar mantinha-se, mas o custo por escola aumentou para 15,45 milhões de euros. O desvio deste valor é de 445% face à apresentação do programa em 2007, de 93% face ao Plano de Negócios 2008, e de 29% face ao estimado após o IIE. Facto 3: os custos aumentaram em 2010. Em 2009 (ano eleitoral), previa-se que a 3ª fase do programa de requalificação fosse a mais barata. Fazia sentido, pois havia experiência acumulada e o país vivia num difícil contexto económico. No entanto, em 2010 (ano pós-eleitoral), a 3ª fase aumenta surpreendentemente os seus custos: no custo médio por escola (de 11,5 para 17,1 milhões de euros) e no custo médio por aluno (9592 para 13 834 euros). Tornou-se a fase mais cara. Facto 4: não se fixaram tectos máximos. A Parque Escolar previu todo o seu programa de requalificação sem fixar tectos máximos de investimento. A opção resultou num descontrolo dos custos, particularmente visível pela variação do investimento por aluno entre escolas. Por exemplo, a Escola D. João de Castro custou, por aluno, 3 vezes mais do que o valor médio. Facto 5: houve luxos. O aumento sucessivo dos custos do programa de requalificação explica-se, em parte, pelos materiais e pelas soluções técnicas utilizadas. Houve madeiras e pedras nobres, iluminação decorativa, e candeeiros Siza Vieira. A ordem para acabar com os luxos veio tarde, a 3 dias das eleições legislativas de 2011, para ser cumprida por quem viesse a seguir. Ora, negou-se a má gestão do programa de requalificação de escolas e negou-se a existência de luxos. Só não se lidou com os factos. Para o partido que governava na altura, ter candeeiros Siza Vieira não é um luxo, é querer o melhor para os alunos. Por isso, para eles, não houve desvios. Gastou-se apenas o necessário, e quem afirmar o contrário é inimigo da escola pública. Fica assim claro, para quem tivesse dúvidas, qual a razão para termos chegado ao estado a que chegámos. 5 de julho – O Diário de Notícias revela que os enfermeiros contratados para os centros de saúde de Lisboa e Vale do Tejo irão ganhar 3,96 euros à hora, isto é, 555 euros por mês (250 a 300 líquidos). São, diz uma das empresas contratantes, as novas regras de pagamento aos "colaboradores" do SNS: a qualidade não conta, é escolhido quem cobrar menos. Quando chegou ao Governo, Paulo Macedo trazia a incumbência de "poupar na saúde" e, para isso, terá adoptado como estratégia o abandalhamento do SNS, empurrando quem não for totalmente indigente para as clínicas privadas de bancos e seguradoras. Ficam os pobres, e na saúde dos pobres pode poupar-se à vontade. Pelo menos assim parecem pensar os "boys" de algumas ARS e administrações hospitalares. E, se em Lisboa poupam prescindindo da qualidade da enfermagem, no Hospital Central Tondela-Viseu poupam, no copo de leite e nas bolachas de água e sal com que, durante a noite, se estabilizavam antes os níveis de glicémia dos diabéticos, deixando estes 12 horas sem comer e em risco de morte por hipoglicemia. Parece que, em outros hospitais públicos, a lei, em relação aos doentes oncológicos, é agora a de "poupar nos medicamentos caros e deixar morrer". Porque, infelizmente, é preciso poupar em algum lado o que não se poupa nas PPPs, nas rendas pagas às grandes empresas do sector energético e na Parque Escolar. in Nova Aliança, 5 / 7 / 2012

Reformas e reformas

9 de junho – Quando um diário como o Correio da Manhã publica trabalhos sobre reformas logo surgem os queixumes e as palmas do costume. ‘Uma vergonha’,. dizem alguns. ‘É preciso dizer algumas verdades’, acrescentam logo outros. Desta vez, o texto apontava as reformas de vários atores de teatro, cinema e televisão. Montantes astronómicos, claro, na casa dos 300, 400, 500 euros. Os mais previdentes, autênticos milionários, conseguiram ir mais acima, até aos 1700 euros mensais. Os menos previdentes, uns tontos, nem reforma têm. Já perceberam que é tudo uma questão de previdência. O que nos leva ao outro caso, o do banqueiro Jardim Gonçalves que, coitado, nem o banco nem os tribunais deixam descansado. Jardim, nascido como o seu homónimo foi, ao que parece, previdentíssimo. Antigo fundador e delfim do banco, assegurou uma reforma fantástica, acrescida de várias regalias em montantes não negligenciáveis, reforma essa que passará inteira para a mulher caso morra. Tem direito ainda a quatro seguranças privados porque foi decidido, em reunião administrativa, que a sua integridade física corria riscos. Isto tudo porque trabalhou imenso e, obviamente, merece. Entrou para os quadros do banco em 1985, como diretor, e ali se manteve presidente até 2005. Por estas duas singelas décadas garantiu uma pensão mensal de (dizem do banco) 167.650,73 euros mais um contrato de seguro e encargos diversos no valor de 730 mil euros por ano. Isso porque não trabalha. Porque se voltasse ao banco, nem que fosse para matar moscas e limpar o pó da secretária, ganharia 650 mil euros anuais, que é o que ganha hoje, garantem de lá, o administrador mais bem pago. Mas voltemos ao exemplo anterior. Vejamos, por exemplo, o caso de Lia Gama, actriz que todos conhecem de inúmeros filmes e peças de teatro. Estreia profissional em 1963, uma carreira a caminho de completar 50 anos. Quanto tem de reforma? 330 euros mensais. O mesmo que Sinde Filipe. Um pouco abaixo de Margarida Carpinteiro, com 370. Ou Irene Cruz, 400. Simone de Oliveira conseguiu 560, Rui de Carvalho 1029. Consoante os descontos. Os milhares de aplausos que tiveram ao longo da vida deixaram-lhes isto. Mas querem saber? Estão tão protegidos quanto uma abelha na chuva mas não se queixam. Dizem que o que é preciso é ter saúde. Sorrisos do destino ou nós por cá todos bem. Mas Jardim queixa-se. Foi apenas ator e dramaturgo, não aplaudido, de uma única peça com um título de três letras, e mesmo assim queixa-se. Diz ele em sua defesa, por via do seu advogado e por escrito, que a culpa é de ter entrado "no circo mediático o inenarrável Berardo" e protesta contra a intenção do banco lhe cancelar as regalias extraordinárias ( seguranças, motoristas, cinco automóveis com gasolina talvez de 98 octanas, despesas com avião particular ), argumentando, lê-se no CM, com o facto de "o banco ter pago, ao longo de 13 anos [tais quantias], sem dúvidas ou hesitações quanto à validade". Fantástico argumento, sem dúvida. O que dirá então um qualquer funcionário público ao Estado, que lhe pagou o subsídio de Natal e de férias todos os anos, sem "dúvidas ou hesitações quanto à validade" e agora lhos tira a pretexto da crise? Dirá que antigamente é que era bom? Recordará as armas e o povo dos idos de 75? Ou ficará a olhar o fio do horizonte, a pensar se lá fora também será assim? A moral desta história, se existe alguma, é que mais vale ( pelo menos em euros ) ser ator de uma má peça que ninguém vê mas que todos pagam, do que subir aos palcos toda a vida. Mesmo assim, os artistas, os verdadeiros, são mais felizes. É deles que nos recordaremos, mesmo sem dinheiro algum. in Nova Aliança, 20 / 6 / 2012

Isaltino (outra vez) e as exceções

12 de maio – A propósito do caso Isaltino, reparem bem como se passam as coisas neste país ao nível da justiça: "O requerimento deu entrada no Tribunal da Relação, que deverá pronunciar-se sobre a sua admissibilidade" - até aqui tudo bem - "sendo que a lei estabelece um conjunto de apertados requisitos para que o tribunal aceite" - mau - "Em caso de indeferimento na Relação" - a coisa acaba, certo? Errado. Isso é que era bom - "o arguido terá a possibilidade de recorrer dessa decisão para o Constitucional." - mas quantas vezes se pode recorrer para o Constitucional? - "Em caso contrário" - a coisa acaba? Acaba, não acaba? - "a admissibilidade do recurso será ainda objecto de uma nova avaliação no TC" - n-n-nova avaliação?! Mas acabou de sair de lá!! - "que não fica vinculado pela eventual admissão do recurso pela Relação" - claro que não. Isso seria demasiado fácil - "Uma vez no Palácio Ratton, o apelo pode ser objecto de decisão sumária do juiz relator, se - há sempre um "se" - "a questão a decidir já tiver sido objeto de anterior decisão do TC, ou se" - estão a brincar, certo? - "for julgada manifestamente infundada" - manifestamente infundada. De certeza que a coisa acaba aqui. Não. Esperem. Em que país julgam que estão? - "Dessa decisão sumária o interessado pode também reclamar para a conferência de juízes" - e para o júri dos "Ídolos", imagino. "No caso de ser admitido o recurso, Isaltino terá um prazo de 30 dias para apresentar alegações" - sim, porque, afinal, ainda só teve meia dúzia de anos para se explicar - "Em apoio das mesmas, poderá apresentar pareceres encomendados a especialistas em Direito Constitucional. O processo vai depois ao Ministério Público junto do TC, que tem mais dez dias" - Ah, ah. Ah, ah, ah-ah-ah - "para se pronunciar, após os quais os juízes dispõem de cinco dias" - aaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhh - "para apreciação, a seguir aos quais" - isto acaba, não é? Acaba. Ou bem que o prendem ou bem que o soltam - "é MARCADO O JULGAMENTO". Eutanásia, por favor. Onde é que eu assino? 16 de maio – O leitor já percebeu por aquilo que vai vendo e ouvindo que Portugal é um país muito especial. Podemos até chamar-lhe o País das Excepções. Afinal, o pagamento da crise não é igual para todos. Já todos o sabemos e não é uma surpresa. Os cortes são só para alguns. Os senhores que comem caviar, que se banham em perfumes, que se passeiam de Bentley e jogam golfe não podem ser prejudicados nas suas vidinhas. Era descaramento a mais do Governo tratar todos de forma igual. Rapazes bens cheirosos, charmosos e de porte elegante merecem o estatuto de excepção. É justo. Os que vieram ao mundo para sofrer e suportar os sacrifícios é que devem pagar a crise. Pensar de outra forma é revelador de inveja, sentimento mais mesquinho do indivíduo. E se refilarem, porrada neles. Com o fim do colonialismo, em que tínhamos brancos e negros, agora temos brancos de primeira, segunda e terceira categorias. É a estratificação social mais adequada e proporcional à importância do custo e do cheiro do perfume de cada um. É assim que está o País, cheio de gente que luta sem esperança. Tiram-lhes tudo sem sequer pedir licença. E todos consentem no silêncio do sofrimento. Para além do estatuto de excepção, o Governo criou uma espécie de apartheid social. Obrigar os homens do caviar a conviver, no mesmo espaço social, com gente que nada tem, mal nutrida e que não é solidária com o estatuto de excepção é de uma violência sem limites e piedade. Só a razão pública pode potenciar a criação de sociedades menos injustas. Governar é fazer escolhas. As escolhas foram feitas e a lista dos privilegiados, que gozam deste estatuto de excepção, tem crescido. No Orçamento para a Assembleia da República, aprovado por todos os partidos, os deputados e os funcionários da AR mantêm os subsídios de férias e de Natal em 2012; à semelhança do que se passa na TAP Portugal, para a SATA, para a CGD e para o Banco de Portugal. Reparem bem: este ano, o Governo autorizou vinte e três empresas e institutos públicos a terem regras mais abertas e flexíveis no que toca às reduções salariais, quer dos trabalhadores, quer dos gestores. Os principais beneficiários das excepções são os administradores de empresas públicas, que levaram muitas delas à ruína financeira. A lista está a crescer não na medida das necessidades, mas da ganância: CTT, NAV, ANA, Parque Expo, Instituto Nacional de Estatística e Infarmed… Haja decoro! Nenhuma razão pública justifica esta afronta de excepção na não partilha dos sacrifícios. É muito injusta a sociedade que estamos a criar. in Nova Aliança, 6 / 6 / 2012

Mário Soares, Miguel Portas e Marinho Pinto

25 de abril – Há muito tempo que me habituei a declarações sem sentido de Mário Soares. Hoje aconteceu mais uma. Recordo ao leitor que são os nossos impostos que lhe pagam carro, motorista e, aparentemente, multas de trânsito. Pelo seu passado, tem responsabilidades institucionais e o dever de as cumprir. A sua "solidariedade" com os militares de Abril é das atitudes mais vergonhosas da sua longa carreira, e é sobretudo uma hipocrisia do tamanho do défice português. Esse senhor esqueceu-se de certeza que trouxe o FMI para Portugal num dos seus governos. Esqueceu-se também de ter pago os subsídios de Natal aos funcionários públicos em certificados de aforro. Nessa altura, onde é que estava Abril? Mais recentemente, não se cansou de louvar o visionário Sócrates e a sua política desastrosa que nos levou à falência e nos colocou de mão estendida diante da troika. E agora é este senhor que nos vem dar lições de democracia? Por favor, haja alguém que o ajude a passar os seus dias com dignidade. 26 de abril – Não conheci pessoalmente Miguel Portas. Só sabia que era filho de e irmão de. Dizem-me que foi também um político cordato. É bom saber que tinha família notável e que a convicção não obriga à antipatia. Na hora dos obituários – generosos e abundantes, como é costume entre nós - cai bem que se diga bem. Contudo, não havia muitas informações. Os jornais, pelo menos, não as deram. Sabemos que passou pelo PCP e fundou o Bloco de Esquerda. Mas isso não é necessariamente um grande feito. Muitos devem ter feito o mesmo caminho entre as duas forças. De repente, dei-me conta de um vídeo: "Não consigo compreender como um eurodeputado no dia em que viaja pode receber 300 euros em ajudas de custo, mais o subsídio de distância e mais um subsídio de tempo...", protestava o eurodeputado Miguel Portas, de forma educada (mas não foi só isso que anotei), no Parlamento Europeu, em fevereiro de 2010, já em tempo de crise, onde se acabava de votar um aumento para eles próprios, os eurodeputados. "Temos a obrigação de dar o exemplo e hoje demos um mau exemplo", concluiu ele. Discurso bonito mas isolado. Pelo menos, não me recordo de mais nenhum eurodeputado português com o mesmo tipo de discurso. Ontem, escrevia um correspondente em Bruxelas: "Ele foi o mais ativo na luta contra os privilégios desmesurados dos seus colegas deputados." E alinhava vários exemplos. Ontem, foi pelo texto desse jornalista de um jornal estrangeiro, El Mundo, que eu confirmei a dimensão pública de Miguel Portas. E tive pena que em Portugal o não tivessem escrito. 28 de abril – Gostaria o leitor que alguém lhe chamasse escaravelho do diabo ou mosca morta? Conheço pelo menos uma pessoa que não se importaria. O seu nome? Marinho Pinto, o representante máximo dos advogados. Tenho a certeza que o bastonário não processará quem o considere um mero inseto ou uma venenosa carraça, sobretudo depois de o termos visto a insultar a ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, no programa ‘Conversas Improváveis’ da SIC Notícias. Como se diz em linguagem jurídica, o momento televisivo deve criar jurisprudência. Se Marinho resolve chamar "barata tonta" a uma senhora, concorde-se ou não com as suas políticas sobre a Justiça, todos temos o direito de chamar sapo ao sr. bastonário. Ou pior. O que quererá ele? Audiência? Deveria concorrer à próxima edição da Casa dos segredos. 2 de maio -Ontem aconteceu qualquer coisa ‘nova’ no País. Nas ruas, as centrais sindicais assinalaram o 1º de Maio com ainda menos gente do que o habitual. No Pingo Doce, foi ignorado o Dia do Trabalhador e as lojas abriram com uma promoção que atraiu milhares. Nas ruas, protestou-se com pouco eco contra o Governo, no ‘hiper’ as pessoas acotovelaram-se contra a crise. Com confusão, pancada, protestos, caos. Atenção ao que se passou. Entre o protesto e a barriguinha, desmobilizou-se a luta cívica e venceu a fúria do açambarcamento. Qualquer fósforo mal usado pode mesmo incendiar o nosso pequeno retângulo. in Nova Aliança, 10 / 5 / 2012

A grande 'festa' da Parque Escolar

15 de abril - O texto de hoje é uma festa. Por três minutos, convido os leitores a esquecer a crise, a troika, os aumentos da gasolina, as contas do supermercado. Provavelmente, quando chegar ao fim, não vai sentir vontade de rir mas… é a vida e a vida é uma festa. A senhora Maria de Lurdes Rodrigues, antiga ministra de José Sócrates, defendeu no Parlamento, com o mesmo humor de qualquer humorista, que o programa Parque Escolar foi "um êxito", não "houve derrapagens", enfim, "foi uma festa para o País". Chamada a explicar no Parlamento as trapalhadas da Parque Escolar, Maria de Lurdes Rodrigues resumiu-as numa frase: "A Parque Escolar foi uma grande festa para o País." ( Como o leitor já reparou, abre-se aqui um parêntesis para ‘ler’ o que vai na imaginação da personagem. Ora, para ela, a cena deve ter-se passado da seguinte forma: Os professores celebravam. As crianças riam. Populares davam vivas aos governantes. As janelas abriram-se para mostrar colchas e rendas vistosas. Agrupamentos de escolas e EB 2/3 abraçavam-se e entoavam cânticos de louvor ao alegado engenheiro Sócrates. Eu própria saí à rua e fiquei tão feliza fim por me juntar à alegria que tomara conta de Portugal inteiro. Fico assim sempre que um desígnio público –lembram-se dos estádios do Euro? - desata a espatifar o dinheiro dos meus impostos e enviar 180 milhões para destino desconhecido. É uma vergonha como se pode dizer mal de tudo isso… Cambada de ingratos e de antipatriotas… Veja-se, por exemplo, as verbas que, a troco de uns candeeiros, desaguaram no arquitecto Siza Vieira. Como a minha ex-colega Isabel Canavilhas bem registou, os candeeiros de autor justificam-se porque Siza Vieira é "um grande artista" e o ambiente nas escolas não pode ser "nivelado por baixo". Esta linha de pensamento obriga-me a aconselhar a decoração das novas salas de aula com originais de Degas e Vermeer, artistas ligeiramente maiores do que Siza Vieira e, sem dúvida, dignos da apreciação dos nossos corpos docente e discente. E digo mais, ensino propriamente dito pode rastejar à vontade, convivemos bem com os currículos anedóticos, a erosão dos padrões de exigência, a indisciplina e a pura violência frequentes nos liceus, até aceitamos bem o baixíssimo nível dos senhores que coloca a tutelar o sector. A única coisa que não posso tolerar é uma escola feia, e quem sugerir ser absurdo gastar fortunas (e desviar fortunas) para embelezar uma inutilidade (e animar clientelas) escandaliza as pessoas de bem. Vamos mas é a aceitar os candeeiros de Siza Vieira e o resto e, em troca, a dispensar as audições parlamentares, que invariavelmente servem para nada ). Neste ponto, faço questão a fazer notar ao leitor que os parêntesis fecharam, o que significa que agora sou eu que falo e não alguém que delira. A verdade é que uma auditoria à empresa Parque Escolar se revela arrasadora. A crueza dos números do Tribunal de Contas aponta para um agravamento de 337% no custo previsto das obras, ou seja, de 940 milhões em 2007, chegou-se aos 3168 milhões em 2010. Valores que não convencem a dita senhora. Ainda imbuída do mesmo tom festivo, expressa um conceito inovador: "Deixámos uma dívida boa." Não sei se conseguem alcançar a subtileza da expressão… “Dívida boa!!!!!!!!!!!!!” Já durante a audição a Isabel Alçada, ex-governante que justifica a utilização de mármores e madeiras nobres, a mesma Gabriela Canavilhas defendeu a existência de candeeiros de Siza Vieira nas escolas por se tratar de "um grande artista", acusando a maioria parlamentar de querer "nivelar por baixo". Miseráveis? Nunca! A ideia é gastar à tripa-forra e quem vier a seguir que pague a conta. Foi por esta linha de raciocínio que agora estamos a penar, e ainda a procissão vai no adro. Que grande festa. in Nova Aliança, 26 / 4 / 2012

Millôr Fernandes

30 de Março – Millôr Fernandes era um dos maiores cronistas de língua portuguesa. A sua morte recente deve levar-nos a ler os textos que deixou. Como este, chamado ‘Notas de Um Ignorante’ que aqui deixo transcrito com todo o respeito pelo autor. “ Entre as coisas que me surpreendem e humilham, figura esta, fundamental, que é a cultura de meus amigos e conhecidos. Não só a cultura no sentido clássico, mas também o conhecimento imediato das coisas e fatos que lhe estão sob os olhos no dia-a-dia da existência. Quem está a meu lado sempre leu mais livros do que eu, conhece mais política do que eu, já esteve em mais países do que eu, já teve mais casos sentimentais do que eu, estudou mais do que eu, praticou e pratica mais esportes. Paro e me pergunto que fiz dos meus anos de vida. Já fui atropelado e sofri alguns acidentes, como explosão, queda e afogamento. Mas entre os acidentados não estou na primeira fila. Tenho vários amigos que já caíram de avião, outros de cavalo, alguns sofreram pavorosos desastres de automóveis, um esteve preso num armário enquanto uma casa (não a dele, é claro!) se incendiava, outro ajudou a salvar o navio Madalena em meio a tremendas ondas que ameaçavam arrebentar sua lancha a todo momento. Que fiz eu de minha vida? Em matéria de cultura encontro imediatamente quinhentas pessoas, só entre as que eu conheço, que sabem mais línguas do que eu, leram mais, falam melhor e mais logicamente, conhecem mais de teatro e citam com precisão escolas filosóficas, afirmando que tal pensamento pertence a esta e contradiz aquela. Que fiz eu? De esportes ignoro tudo, não sei sequer contar os pontos de vôlei, só assisti até hoje a uma partida de pólo, nunca joguei futebol e quando vou ver esses jogos desse esporte, só consigo reconhecer os jogadores mais famosos. Esqueço o nome de todos, e no domingo seguinte já não sei mais o escore da partida a que assisto neste. Nado mal, corro pedras, jamais consegui me levantar num esqui aquático, não guio lancha, joguei golfe uma vez, tênis seis meses, não entendo de velejar (o que já me causou uma grande humilhação diante de esportivíssimas americanas de quinze anos que me conduziram num passeio lá na terra delas), e, em matéria de mares, nunca lhes sei os ventos e fico parvo com o senso de direção de muitos e muitos de meus amigos que jamais supus tomassem nada de brisa e tufões. Guio, mas o motor de meu carro é para mim um mistério indevassável. Sei apenas abrir o capô e contemplar a máquina, atitude metafísica que até hoje não pôs carro algum em marcha. Seria eu então um homem dedicado á cultura propriamente dita, aos livros, ao estudo, ao amor da leitura e do pensamento? Não, pois meu pensamento é confuso e minha leitura parca. Conheço homens, dos que não vivem de escrever, que pensam muito melhor do que eu e leram muito mais, sem contar os especialistas, que conhecem livro pelo cheiro. Entre os que viajam também não sou dos que tenham viajado mais. Com o agravante de que nunca sei bem onde estou, não conheço a distância que vai de Roma a Paris, nem sei se Marselha está ao Sul ou ao Norte da Itália. Fico boquiaberto quando vejo amigos meus apontarem estátuas e falarem sobre os personagens que elas representam com uma facilidade com que falariam de si próprios. Mesmo o conhecimento de nomes, pessoas e fatos adquiridos em viagens eu o esqueço em três semanas. Mas não adianta o leitor querer me consolar, dizendo que talvez eu seja um bonvivã, porque nunca o fui dos maiores, tendo minha vida sido conduzida sempre numa certa disciplina, necessária a quem veio de muito longe. Donde o amigo poderá concluir então que eu sou um trabalhador infatigável, um esforçado, um detonado. E isso também não é verdade porque, com raras exceções, nunca trabalhei demasiadamente e cada vez procuro trabalhar menos, numa conquista ao mesmo tempo prática e filosófica. Bebo? Bebo mal e ocasionalmente. Não sei quando a bebida é boa ou falsificada. Não sei o nome dos vinhos mais triviais e sempre me esqueço qual é o restaurante em que eles fazem um prato que certa vez eu adorei. Por mais jantares a que tenha ido e por melhores alguns lugares que tenha freqüentado, devo sempre esperar que alguém se sirva na minha frente para não pegar o talher errado e o copo idem. Além do que não como muito, nem tenho nenhuma particular predileção por comer. Gosto então da vida calma, sou um praticante da meditação e do ioga? Nunca dos que mais o são. Por outro lado a extrema agitação também não me é familiar. Que fiz da minha vida? Quando há um acidente de rua, vem-me o pavor de tomar partido, pois nunca tenho realmente a convicção do lado certo. Se fala o mais poderoso eu sou inclinado a ficar de seu lado por uma tendência a defender os que hoje são mais comumente acusados de todos os males, vítimas do tempo. Se fala o mais humilde sinto-me inclinado a defendê-lo por um ancestralismo que me faz seu irmão, por idéias arraigadas que fazem com que todo homem queira lutar instintivamente pelo mais fraco. Por quê? Não sei. Sou bom de guardar nomes, caras, datas? Já disse que não. Sempre esqueço o nome dos conhecidos e troco o dos amigos mais íntimos num fenômeno parifásico que só a loucura mesma explicaria ou então a bobeira nata que Deus me deu. E política meu conhecimento chega ao máximo de saber que o Sr. Plínio Salgado pertence ao PRP, o Brigadeiro à UDN e Jango ao PTB e creio que há alguns outros partidos também. Mas mesmo essas convicções não são inabaláveis e, se alguém me pegar desprevenido e fizer dessas letras e nomes outras combinações, lá vou eu a aceitá-las, embrulhado e tonto, até que outro interlocutor crie para mim novas combinações e novas confusões. Mas peguem um puro e simples crime e eu nunca sei quem matou a empregada e em meu peito jamais se chegou a criar uma suspeita sólida a respeito do poeta de Minas. Isso, aliás é o máximo a que vou – sei que houve um crime em Minas Gerais, alguém matou alguém. O morto não está na lista de minhas lembranças, não sei de quem se trata. Sei que o indiciado assassino é um poeta, vi sua cara barbada e meio calva em muitos jornais e revistas. Mas meus conhecidos sabem de tudo. As mulheres de meus conhecidos então nem se fala. Que fiz eu de minha vida? – me pergunto de novo, honestamente, com a surpresa e a amargura com que o Senhor perguntava: “Caim, que fizeste de teu irmão?” Pois boêmio não sou, embora tenha gasto milhares de noites solto pelas ruas. Mas os boêmios me consideram um arrivista da boemia assim como os homens cultos me consideram um marginal da cultura. E os esportistas a mesma coisa com relação aos parcos esportes que pratico. Todos com carradas de razão. E nem a maior parte do meu tempo foi gasta em conquistas amorosas, pois nesse terreno o Porfírio Rubirosa, se me conhecesse, me olharia com o mesmo desprezo com que me olham conhecidos galãs nacionais. Dessa mente confusa, dessa existência confusa, dessas mal-traçadas-linhas de viver creio que só resta mesmo uma conclusão a que durante anos e anos me recusei por orgulho e vergonha – sou, por natureza e formação, um humorista.” in Nova Aliança, 12 / 4 / 2012

Política inglesa vs Política portuguesa

24 de março – Lê-se num jornal diário :”O chefe do Governo britânico está sob pressão, na sequência do escândalo de corrupção que envolveu o co-tesoureiro do Partido Conservador e o levou à demissão. (…) O Partido Trabalhista britânico exigiu a abertura de um inquérito independente para investigar a venda de favores feita em nome do primeiro-ministro David Cameron, embora este tenha negado a existência de financiamentos paralelos no seu Partido e anunciado a abertura de um inquérito interno. "Todas as doações ao Partido Conservador têm de cumprir os requisitos da lei eleitoral", garantiu David Cameron. O governante está sob pressão, após a demissão do co-tesoureiro do Partido Conservador Peter Cruddas, na sequência de ter sido filmado pelo "Sunday Times" a oferecer favores do Governo, mediante avultadas doações. "250 mil libras dá acesso à 'Primeira Liga', que inclui um jantar com o primeiro-ministro, David Cameron, e a oportunidade de poder influenciar a política do Governo", disse Peter Cruddas aos jornalistas do "Sunday Times", que fingiam ser potenciais investidores de um fundo sediado no Liechtenstein. Cruddas acreditava que o facto de as doações serem oriundas do Liechenstein levava a que passassem despercebidas à luz da lei eleitoral britânica. "Se não estiverem satisfeitos com alguma coisa, vamos ouvi-los e faremos chegar as vossas questões à comissão política da porta nº 10 de Downing Street", explicava ainda aos jornalistas disfarçados de investidores. O escândalo levou à demissão do co-tesoureiro do Partido Conservador inglês, que veio pedir desculpa em público pelo sucedido, lamentando "qualquer impressão de impropriedade." "Que fique claro que nenhum donativo pode influenciar a política ou dar acesso indevido a políticos", disse Peter Cruddas, contrariando aquilo que tinha dito no vídeo. Em Portugal, pelo que conhecemos da recente experiência portuguesa isto devia passar-se assim: a) O video não devia ser visto porque era ilegal b) O título teria vários alegados c) Várias vozes estariam a bradar contra os péssimos jornais e os péssimos jornalistas que divulgavam o video d) O conteúdo do video sera considerado matéria privada e o video não seria aceite em inquérito algum e) Ninguém se demitiria e não só passava por mártir do neoliberalismo e da direita trauliteira como ainda exigia aos seus colegas de partido que defendessem a sua honra f) Provavelmente teríamos altas figuras deste país a mandar destrur o video, a tentar cortá-lo em fatias com uma tesoura ou a dizer que ele dava vontade rir. 27 de março – Este país é de modas. E quem está na moda hoje é… António Costa. Político profissional há mais de 20 anos, várias funções ocupadas, de deputado a autarca passando por ministro sem que, em nenhuma delas, se lhe reconheça qualquer obra minimamente relevante. Mas reúne outros requisitos e qualidades de monta para aqueles que julgam que escolhem: é de cor, tem um discurso redondo, é filho e irmão de jornalistas. Quanto baste para ser o melhor candidato de sempre a qualquer coisa de topo, seja a presidência da República ( já imaginaram a suprema felicidade de também termos um Obama? ) ou a “insegura” liderança do PS. Assim de repente, lembro-me da ocasião em que estalou a ‘bomba’ Casa Pia e o cavalheiro foi ‘alegadamente’ apanhado nas escutas a fazer tráfico de influências junto de tudo o que era juiz e ministro da justiça, secretários de estado….para libertar o seu camarada de partido. Com candidatos a cargos de topo desta envergadura, é fácil vaticinar a trajetória de Portugal : 1º Continuação de um estado enorme, altamente corrupto onde os governantes negoceiam contratos ruinosos para o estado e altamente lucrativos e sem risco para certas empresas , para onde saltam como administradores e outros cargos após alguns anos (poucos) de nojo. 2º Continuação do estimulo á pobreza, colocando entraves ao investimento, à iniciativa e ao trabalho bem como incentivando e subsidiando empresas falidas ou inviáveis. 3º Continuação duma carga de impostos de tal maneira elevados que impedem a produção e a viabilidade de muitas iniciativas. 4º Continuação de subsídios diversos, mantendo a ociosidade de uma mole imensa de potenciais votantes nesses candidatos. 5º Continuação da produção de leis que protejem essencialmentes estas “elites” governantes que, ao contrário da restante população que empobrece, enriquece com rendas vitalicias pagas pelo estado e lugares em empresas que previamente beneficiaram ou empresas públicas ou universidades ‘manhosas’, etc. 6º A justiça continuará igual, incapaz de castigar um corrupto, um grande ladrão ou um grande vigarista. in Nova Aliança, 30 / 3 / 2012

Os 'dinossauros' autárquicos e a nossa justiça

3 de Março - Nas próximas eleições autárquicas, alguns dos chamados ‘dinossauros’ do poder autárquico irão tentar ser reeleitos, apesar de a lei de limitação de mandatos o proibir expressamente. Já não no seu concelho, mas emigrando para o município vizinho. Nascerá agora a figura do presidente de câmara emigrante, ainda por cima emigrante ilegal. A lei de limitação de mandatos é clara, determinando que "o presidente de câmara municipal só pode ser eleito para três mandatos consecutivos". E "não pode assumir aquelas funções durante o quadriénio imediatamente subsequente ao último mandato consecutivo permitido". Mas, sem surpresa, os partidos vêm agora reinterpretar a lei no sentido contrário ao do seu espírito. Como o líder distrital do PS de Bragança, que disse que "um presidente não se pode recandidatar caso tenha concluído três mandatos com o mesmo colégio eleitoral. Mas se houver mudança de colégio eleitoral, o PS entende que essa pessoa pode candidatar-se". Mais uma vez, sobrepõe-se a lógica dos aparelhos partidários. Como irão findar o seu terceiro mandato cerca de cento e setenta presidentes de câmara que passarão à situação de desempregados políticos, os partidos tentam encontrar uma solução para estes seus caciques. Colocá-los em lugares de topo da administração pública provocaria enorme contestação, como aliás se verificou com a nomeação de Manuel Frexes para a presidência da Águas de Portugal. A lei de limitação de mandatos foi pensada para impedir ligações perigosas e continuadas a alguns poderes económicos num dado concelho. Mas se for em dois concelhos, parece já não haver problema. Com este estratagema, vão espalhar o mal pelas aldeias, a bem dos caciques locais. 6 de Março - Quem roube um polvo num supermercado, uma galinha ou uns pacotes de leite, pode ser julgado, condenado e preso. Já aos que estão envolvidos em fraude fiscal, crime económico ou corrupção, nada acontece. Alguns são até eleitos deputados e uns quantos condecorados no 10 de Junho. Como diz a ministra da Justiça, "há uma justiça para pobres e outra para os ricos". E estes passam completamente impunes pelo sistema judicial português. De facto, é mais fácil um camelo passar pelo buraco duma agulha do que um rico entrar numa cadeia portuguesa. Ciente disto, a ministra resolveu dar um sinal de que iria haver mais igualdade na justiça, vindo anunciar que os pequenos furtos iriam ser menos perseguidos pelos tribunais. Deixarão de ser crime público e passarão a ser investigados apenas se houver acusação particular da parte dos lesados. Um sinal perigoso, em minha opinião. A ministra deveria promover uma moralização, lutando para que os grandes burlões fossem perseguidos, acusados, julgados e presos. Mas fez exactamente o contrário. Em vez de democratizar a justiça, propõe-se é generalizar a injustiça e até a roubalheira. As consequências desta medida serão tremendas. A impunidade anunciada irá provocar o aumento da pequena criminalidade. E o comerciante de rua estará em muitos maus lençóis. Enquanto as grandes superfícies poderão contratar seguranças, promover a acusação dos assaltantes e acompanhar os processos com os seus advogados, não será assim com o pequeno comércio. Sem apoio jurídico, sem meios, sem capacidade de promover a referida acusação particular, o comércio de proximidade estará à mercê do saque. Alguns comerciantes irão ficar mais pobres do que os vadios que os assaltam. in Nova Aliança, 16 / 3 / 2012

A justiça espanhola, os grupos económicas e os velhos que morrem sozinhos

17 de fevereiro - Em 15 dias, a Justiça espanhola arrumou o processo de Sara Norte. A portuguesa foi detida em 6 de Fevereiro, em Tarifa, no Sul de Espanha, quando chegava de Marrocos com 800 gramas de haxixe no estômago. Ontem, Sara foi condenada a 16 meses de cadeia. Uma decisão rápida e eficaz – porque foi possível à defesa e à acusação chegarem a um acordo sancionado por um juiz: fez-se justiça e poupou-se tempo e dinheiro com um longo julgamento. Por cá, é tudo mais lento, mas nem por isso mais racional: 15 dias depois ainda o processo não teria merecido a atenção do Ministério Público – e nem acusação havia. A nossa Justiça insiste em deixar-se enrolar em velhas teias que lhe tiram lucidez. 20 de fevereiro – A crise para eles não existe. Até hoje, cativam uma parte significativa do orçamento de estado, à custa do qual se habituaram a enriquecer. Beneficiam de rendas das parcerias público-privadas da saúde, como acontece com o grupo Mello ou Espírito Santo. Recebem milhões pelo pagamento de juros da dívida pública. Obtêm concessões em monopólio, como acontece com a Brisa, detentora, por autorização governamental, das auto-estradas de Porto a Lisboa. Os favores que recebem do estado têm revestido as mais diversas formas. No tempo do fascismo, obtinham licenças num regime de condicionamento industrial, em que só os amigos do regime podiam criar empresas. O seu domínio sobre a economia e a política vem dos tempos da monarquia, onde pontificava o conde do Cartaxo, antepassado da família Mello. Já os Espírito Santo descendem do poderoso conde de Rendufe. Assim, estes grupos conseguiram trazer até ao século XXI, incólume, a lógica feudal, a tradição de atribuição de prebendas aos poderosos. Com uma diferença. Enquanto no tempo do feudalismo o rei atribuía privilégios que consistiam na doação de benefícios económicos (terras), a par de poder político (títulos), hoje apenas se concedem favores económicos. Assim, estes grupos mantêm o poder sem os incómodos do escrutínio democrático. Sabem que mais importante do que ter o poder na mão é ter a mão no poder. Até porque sempre influenciaram a política. Conseguiram-no no tempo de Salazar, através do fascínio que Ricardo Espírito Santo exercia sobre o ditador. Em democracia, contratam políticos de todas as tendências. Eanistas como Henrique Granadeiro, socialistas como Manuel Pinho ou social-democratas como Catroga. Neste jogo democrático viciado, os cidadãos são hoje como os servos da gleba de outrora, mas agora sob a forma de contribuintes usurpados. E reféns do sistema vigente, que muitos chamam de neoliberalismo, mas que não é novo nem é liberal. É apenas a manutenção do velho feudalismo e eles vivem felizes.. 26 de fevereiro – Infelizmente, o mundo não gira de forma igual para todos. Quando uma crise desafia o futuro colectivo de um povo não há muito espaço para outras angústias. Essa angústia maior de um futuro que se dissipa tende a monopolizar a estrutura emocional de toda a gente. Nestes tempos, porém, em que tudo se mede pela lógica do dinheiro, dos cortes e da austeridade, convém não ignorar o que nos coloca perante o mais essencial da vida. Ontem, duas irmãs de 74 e 80 anos foram descobertas mortas em casa, há várias semanas, no centro de Lisboa. Idosas, doentes, sem família, sem nada. Sem um pingo de ajuda ou de preocupação de um Estado cada vez mais exíguo, cada vez mais um mero suporte de uma elite endinheirada e longínqua do povo. Este é, cada vez mais, o nosso mundo. in Nova Aliança, 2 / 3 / 2012

Os espertos, os funcionários públicos e Fernando Assis Pacheco

4 de Fevereiro – Os portugueses são realmente pessoas engraçadas. Anda agora toda a gente muito exaltada, acirrada, enervada devido a uma frase inócua de Pedro Passos Coelho, porque ousou pedir que não fossemos piegas. Caiu o Carmo e a Trindade e parece que entrámos no domínio do delírio. Poupem-nos, por favor. De repente, todos nos esquecemos do senhor que nos conduziu ao estado em que estamos e que continua sem ser julgado em tribunal por isso, vivendo tranquilamente e sem rebates de consciência num dos mais caros bairros de Paris. A nossa imprensa, sempre tão rápida a atacar alguns, esquece-se de investigar de onde virá o dinheiro para o dia a dia deste senhor que, recordo, pediu licença sem vencimento na Câmara da Covilhã. Sei perfeitamente como se programam as agendas num meio de comunicação para fazer passar determinada mensagem mas neste caso não queiram tomar-nos a todos por parvos. Acho que um politico não pode insultar, mentir, ofender, achincalhar, humilhar, fazer de nós parvos, e ser negligentemente surdo. Ou seja, não pode ser como Sócrates quando mentiu, não pode ser como Cavaco quando falou das suas contas pessoais. Mas pode pedir para não sermos piegas. O mais saudoso Presidente americano, John Kennedy, também nos deixou coisinhas meigas e nem por isso é menos admirado e lembrado. Uma para amostra: “Não reze para ter uma vida fácil. Reze para ser um homem forte”. Não falando em Churchill, que nos deixou dezenas: “O vício do capitalismo é a distribuição desigual de benesses; o do socialismo é a distribuição por igual das misérias”... Não estou a comparar o génio destes com o modesto percurso de Passos Coelho, estou apenas a tentar dizer que os políticos, mormente os governantes, não deixam de ser pessoas e de poder fazer afirmações num estilo informal. Mário Soares terá sido, nesse domínio, o primeiro a saber conjugar a linguagem acessível, até mesmo o desabafo de ocasião, com a elegância e o estatuto. Dito isto, e aqui entre nós, quando ouvi o primeiro-ministro falar de piegas, dei-lhe alguma razão. Lembrei-me logo dos gerentes de restaurante e dos taxistas a quem, em anos de crise ou de vacas gordas, na miséria ou na riqueza, se perguntarmos como vai o negócio, nunca deixam de ensaiar o discurso (piegas) da lamúria (lembrando Sampaio): “ah, sabe lá, isto anda mal, o negócio já não é como era dantes...”. Um estilo que vem de longe e se remata com o clássico “saudinha é que é preciso”. Pois é. Mas concordo que este é um bom momento para tentarmos ser menos piegas. Menos queixinhas. E mais chegados à frente. 7 de Fevereiro - Eu acho uma injustiça tremenda o permanente ataque aos funcionários públicos, agravado agora com a história da tolerância de ponto. Afinal de contas, são eles que pagam impostos e sem eles não há serviço público. Por outro são eles que pagam a maior factura da austeridade. O ataque aos funcionários públicos é atacar a nós próprios porque atacamos os professores, os médicos, os bombeiros, os juízes, os procuradores, os policias, etc, etc. Isto é, cada aplauso à função pública menos médicos, menos enfermeiros, menos policias, menos tudo, o que como consequência, pior serviço público. Menos escolas, menos hospitais e centros de saúde, menos tribunais, menos esquadras, etc, etc. Somos cúmplices da destruição do serviço público ao aplaudir este constante mal dizer dos funcionários públicos. Até parece que a crise do país é culpa deles. Obviamente que quem estuda Filosofia em Paris assobia para o lado e finge, por ser mentiroso, que não é nada com ele. 12 de Fevereiro – Recordo hoje Fernando Assis Pacheco, que teria hoje 75 anos (morreu em 1995, à porta da Livraria Buchholz). Aproveitando a saída de uma biografia intitulada Trabalhos e Paixões de Fernando Assis Pacheco, da autoria de Nuno Costa Santos (autor também de um documentário que passou no dia do lançamento), vários cronistas da revista Ler dedicam no seu último número ( fevereiro 2012 ) os seus textos ao grande poeta e prosador (na literatura e no jornalismo) que, embora ao de leve, tive a felicidade de conhecer na redação de O Jornal e que não tinha televisão em casa, apesar de ter vários filhos então pequenos. Mas, além das memórias e testemunhos alheios, a revista brinda-nos com inéditos deste artista bem-disposto e versátil, que foi uma espécie de mestre para muitos jornalistas e escreveu um grande romance intitulado Trabalhos e Paixões de Benito Prada, que tem das melhores e mais surpreendentes aberturas da literatura portuguesa. Obrigada, pois, por no-lo trazerem de volta e lhe darem o destaque que merece. in Nova Aliança, 17 / 2 / 2012

Isaltino e Eusébio

26 de janeiro – A novela ‘Isaltino’ continua. Ele não é apenas um autarca ou até só um réu. É já um símbolo deste regime decrépito. Representa infelizmente o que há de pior na promiscuidade entre negócios e política, simboliza a corrupção e a total impunidade. Toda a sua vida política e empresarial e todo o seu enriquecimento são representativos do quanto este regime se degradou. E não nos podemos queixar… As suas sucessivas eleições para a Câmara de Oeiras já nem surpreendem. Os oeirenses sabem que a generalidade dos políticos não é séria e por isso acreditam que ter como presidente um ‘criminoso’ com obra é talvez um mal menor. Lembram-se do slogan "Rouba mas faz"? Isaltino foi acusado dos crimes de participação económica em negócio, corrupção, branqueamento de capitais, abuso de poder e fraude fiscal. Segundo a acusação, Isaltino Morais "recebia dinheiro em envelopes entregues no seu gabinete" para licenciar loteamentos, construções ou permutas de terrenos. Depois de um longo processo, já com sete anos, veio a consequente condenação. A que se seguiram recursos e mais recursos. Mas, mesmo depois de os recursos terem sido declarados improcedentes, o presidente da Câmara de Oeiras continua à solta. O próprio presidente do Supremo Tribunal de Justiça veio proclamar que a prisão já deveria ter tido lugar e que "não faz sentido que a pena ainda não tenha sido executada". Mas graças ao seu enorme peso político, e dispondo do apoio de advogados que se mexem com perfeição no pântano em que o aparelho de Justiça se transformou, Isaltino permanece impune. A sua não detenção faz perigar o Estado de direito, pois o mínimo que se exige a um sistema de Justiça é que consiga executar as suas decisões. E esta situação pode até constituir uma sentença de morte para a própria democracia. Pode um Estado que não é de direito ser democrático? Não creio… 30 de janeiro – Durante o dia não se falou de outra coisa: o 70.º aniversário de Eusébio. Deixem-me recordar-vos uma data grandiosa da Hiostória de Portugal: 23 de julho de 1966. Nesse sábado, o Eusébio da Silva Ferreira ensinou aos portugueses o que é vontade e pertinácia - afinal valores que ajudam mais os portugueses, sobretudo agora, do que a futilidade dos futebóis. Nessa tarde, um grupo de sábios portugueses defrontava colegas da Coreia do Norte, em Inglaterra. Discutiam um problema que apaixonava e continua a apaixonar o mundo - quantas vezes era possível meter uma esfera de couro num cabaz de rede pousado na relva? - e os asiáticos, aos 25 minutos, já tinham metido três. O grave foi ver como os portugueses desesperaram. Todos? Não: o ‘professor’ Silva Ferreira pegou na esfera (viu-a armilar, como a da pátria na bandeira) e, sozinho, levou-a, uma, duas, três e quatro vezes ao destino. Os colegas de apáticos viraram eufóricos, quiseram aplaudi-lo mas ele enxotou-os: a hora era de lutar. Só à 4.ª esfera aceitou abraços e ainda ofereceu uma 5.ª a um colega. Um jornal inglês titulou: "Master-mind Eusebio". Silva Ferreira tinha o mesmo nome do tal futebolista, mas o jornal ao chamar-lhe "Espírito Superior" não estava a falar de pés. O vídeo desse Portugal-Coreia do Norte deveria passar nas escolas e em todos os locais de trabalho para formar o carácter dos portugueses. in Nova Aliança, 3 / 2 / 2012

Manuel António Pina

28 de Novembro - Há alguns assuntos que, por falta de espaço, são ultrapassados por outros, por vezes de pertinência mais duvidosa. A atribuição do Prémio Camões a Manuel António Pina é exatamente um deles. Conheço-o melhor como cronista no Jornal de Notícias mas Pina é um poeta raríssimo. Temos sorte em tê-lo na nossa língua. A sua obra é uma referência de beleza e de perplexidade, uma investigação sobre a natureza da própria poesia e da profunda religiosidade que a cerca, limita e abre para o resto do mundo. Tem um poema (‘A poesia vai acabar', do seu primeiro livro ‘Ainda não é o Fim nem o Princípio do Mundo, Calma é Apenas um Pouco Tarde', de 1974), entre muitos, que me maravilha e comove - e onde pergunta: "Que fez algum poeta por este senhor?" Essa interrogação estende-se a quase todos os seus livros (traduzindo: o que faz a poesia pelas pessoas?) como uma procura do humano e do poético. O Prémio Camões não festeja apenas uma das vozes maiores da nossa língua - é a homenagem a um grande poeta em qualquer geografia. A poesia vai acabar, os poetas vão ser colocados em lugares mais úteis. Por exemplo, observadores de pássaros (enquanto os pássaros não acabarem). Esta certeza tive-a hoje ao entrar numa repartição pública. Um senhor míope atendia devagar ao balcão; eu perguntei: «Que fez algum poeta por este senhor?» E a pergunta afligiu-me tanto por dentro e por fora da cabeça que tive que voltar a ler toda a poesia desde o princípio do mundo. Uma pergunta numa cabeça. — Como uma coroa de espinhos: estão todos a ver onde o autor quer chegar? — Manuel António Pina Ainda não é o Fim nem o Princípio do Mundo. Calma é Apenas um Pouco Tarde Nas crónicas, Pina demonstra a coragem que escasseia no actual meio literário, em que não faltam exemplos de escritores que permanecem no jogo da promiscuidade de acordo com as forças políticas do momento. Alguns críticos estão certos que as suas crónicas vão ser estudadas no futuro, até em teses de doutoramento, pela forma como incorporam a literatura em todas as áreas do quotidiano. Não são textos meramente circunstanciais, embora estejam ligados ao tempo a que pertencem, comparando-as superiores às 'Farpas' de Ramalho Ortigão Defendendo que as crónicas do poeta não têm paralelo na imprensa portuguesa, o Prémio Camões é uma bofetada de luva branca para os que insultaram Manuel António Pina, apelidando-o de pseudo-intelectual". O que é mais espantoso nele é que as qualidades literárias e humanas são equivalentes e ambas elevadas. E isso, nos dias que vão correndo, é muito difícil acontecer. in Nova Aliança, 22 / 12 / 2011

A justiça portuguesa, a Mota-Engil e os bolsos dos portugueses

15 de Novembro - A justiça portuguesa está de parabéns e isso só nos pode deixar felizes. Depois de anos e anos a batalhar eis que surgem os primeiros resultados. Recordam-se da Francisco Sá Carneiro e do eterno mistério que a rodeia, dos desaparecimentos de Madeleine McCann e de Rui Pedro, do caso Casa Pia, do caso Portucale, da operação Furacão, da compra dos submarinos, das escutas ao primeiro-ministro, do caso da Universidade Independente, do caso da Universidade Moderna, dos casos de Pinto da Costa, da corrupção dos árbitros, da corrupção dos autarcas, de Fátima Felgueiras, de Isaltino Morais, da Braga Parques, das queixas tardias de Catalina Pestana, das de João Cravinho, dos doentes infectados por acidente e negligência de Leonor Beleza com o vírus da sida, do processo Costa Freire / Zezé Beleza, do miúdo electrocutado no semáforo, do outro afogado num parque aquático, das crianças assassinadas na Madeira, do mistério dos crimes imputados ao padre Frederico, do autarca alentejano queimado no seu carro e cuja cabeça foi roubada do Instituto de Medicina Legal, da miúda desaparecida na Figueira, de todas as crianças desaparecida antes delas, quem as procurou, das famosas fotografias de Teresa Costa Macedo, onde ela reconheceu imensa gente ‘importante’, jogadores de futebol, milionários e políticos, dos crimes de evasão fiscal de Artur Albarran, dos negócios escuros do grupo Carlyle do senhor Carlucci em Portugal, daquele médico do Hospital de Santa Maria, suspeito de ter assassinado doentes por negligência, etc, etc, etc. Depois de anos e anos a batalhar eis que surgem os primeiros resultados: prenderam um jovem que fez um download de música. Até que enfim ! O país vivia inquieto mas finalmente foi condenado um português por pirataria musical na Internet Tal indivíduo, esse perigoso meliante, poderá passar entre 60 a 90 dias atrás das grades por ter feito o download e partilhado música ilegalmente com outros utilizadores. Ainda bem, sinto-me mais seguro! 19 de Novembro – Recentemente, no seu habitual comentário televisivo, Marques Mendes, recuou até 2010, o ano em foi decido colocar portagens nas Scut, lembrando que houve um acordo entre o Governo de Sócrates e o grupo Mota / Engil para a introdução de portagens nas auto-estradas Costa de Prata, Grande Porto e Beira Litoral. “Só que nessa ocasião o Grupo Mota exigiu que para introduzir portagens naquelas três Scut fossem também renegociados os contratos de outras duas concessões (a da Grande Lisboa e a do Norte – A7 e A11). Aqui é que começou o problema. E que problema”, afirmou Mendes. Para Mendes, que o Grupo Mota Engil “faça uma exigência dessas é um problema seu”, porque “está a defender o seu interesse particular”. “Agora, que o Governo tivesse aceite aquela exigência, isso é que é absolutamente irresponsável. Porque é suposto o Governo defender não o interesse particular mas sim o interesse público”, acrescentou. E logo a seguir revelou os custos para o país deste ‘grande’ negócio. Em 2010, os encargos do Estado com aquelas duas concessões (a da Grande Lisboa e a do Norte – A7 e A11) “eram zero, a partir de 2010, a estimativa de encargos que o Estado vai ter com aquelas duas concessões será de 1,42 mil milhões de Euros”, revelou citando uma estimativa oficial da Direcção Geral do Tesouro). Ou seja, 281 milhões na Grande Lisboa e 1,139 mil milhões na do Norte. Obviamente que, se este fosse um país a sério, os autores de mais este escândalo já estariam presos há algum tempo. É importante saber quanto ganham os políticos, e que relação deve o salário ter com a economia real. Em Inglaterra, essa conversa surgiu depois dos escândalos com os lagos de patos, cozinhas e casas de campo pagas pelos contribuintes. Em França e outros tantos países europeus, tem havido denúncias semelhantes. Em Portugal, o assunto costuma ser arrumado com a compensação justa por estarem ao serviço do povo, e não a ganhar dinheiro no privado. A crise e o orçamento são a oportunidade de ouro para levantar este assunto. Na Eslováquia, por exemplo, a responsabilidade política passa directamente pelos bolsos dos políticos. Para começo de conversa, o salário dos deputados tem uma relação com o salário médio nacional. Uma pesquisa rápida diz-me que, em Portugal, o salário de um deputado era três vezes superior ao salário médio. Era esta a relação considerada justa e necessária. Depois, com défices acima dos 7%, o parlamento voltou a olhar para a relação salarial, e optou por lhe acrescentar um pozinho: se o défice está acima dos 3%, os seus responsáveis (i.e., os altos funcionários do Estado, incluindo ministros e deputados) têm um corte salarial proporcional. Se o défice melhorar, retomam o salário anterior. Os incentivos para o cumprimentos de umas finanças públicas saudáveis não podiam ser maiores... in Nova Aliança, 24 / 11 / 2011