14.5.13

Dia da Mãe

1 de maio – No próximo domingo é o Dia da Mãe. Não é fácil sê-lo. Vejo em casa, sei do que estou a falar. Numa corrida sem linha de chegada, acordo com a Mãe acordando com o grito do João, no outro quarto: "Mãe! Acordei!". E eis que está dada a largada. O dia começou. Ainda cambaleando de sono, a Mãe levanta-se e vai acolhê-lo. Logo depois, é a vez da Sofia, que, mais independente, corre para a sala. Minutos depois, estão os dois no sofá a tomar o pequeno-almoço. A Mãe, já desperta, apressa o passo para esticar ao máximo o seu tempo com os filhos. Na mesa da sala, ela toma o café e passa os olhos no jornal. Enquanto ouve o João falar até perder o fôlego sobre as histórias que inventa, escolhe a heroína para a brincadeira da noite e precisa correr ainda mais para se arranjar e chegar ao trabalho a horas. Enquanto troca de roupa, as crianças entram no quarto e pulam na cama. Falam sem parar. Por vezes, o João entusiasma-se. Aí, ela fica nervosa, pede para que parem. Nem sempre é atendida, até que, desolada, olha na minha direção como que implorando para que eu faça algo. Qualquer coisa, diga-se. Desde que os faça voltar a pôr os pés no chão. Se não faço, o seu olhar fuzila-me. Às vezes faço. E às vezes não faço, deixo-os pular. Afinal quando vão poder fazer isso de novo? Com um suspiro, ela deve pensar algo como: "Essas crianças!". Mas é isso mesmo. Somos todos meninos. Uns mais velhos, outros nem tanto. No meio da confusão, ela consegue, nunca sei como, arrumar-se de forma impecável. O que sei é que ela já está pronta, que o João logo estará pronto com a mochila às costas e que a Sofia está lá no quarto dela revirando as gavetas em busca da combinação de cores que julga a ideal para o seu dia. "Sofia querida, essa não combina!". Das gavetas, tira uns jeans pretos e procura no fundo uns ténis da mesma cor. O embate é longo, e lá está a Mãe usando toda a sua psicologia e retórica em busca de um acordo satisfatório para ambas. Geralmente, sou eu quem leva o João à escola. No entanto, sei que, se pudesse, a Mãe o faria com o prazer genuíno. Quando isso não acontece, temos uma espécie de pausa, quando ela está no trabalho e os pequenos na escola. No início da noite, com todos de volta ao lar, vejo-a ainda encontrar forças para abraçá-los à porta de entrada, contar uma história da carochinha enquanto os alimenta, conversar com o João sobre faraós, folhear a enciclopédia de dinossauros, dar vida à heroína combinada durante a manhã, brincar com algum jogo, vestir os pijamas, escovar os dentes, contar mais uma história até que os coloca para, enfim, dormir. Vejo-a então deixar o quarto dos garotos com os olhos semi-cerrados, esforçando-se para se acostumar à luz da sala. No sofá, senta-se ao meu lado. Está cansada, mas tranquila. Os seus meninos dormem como anjinhos no quarto do fundo. Dificilmente haverá alguém no mundo mais feliz do que ela naquele momento. Nova Aliança, 2 / maio / 2013