2.4.08

O túnel do Rossio e a violência

15 de Fevereiro - É absolutamente normal que os cirurgiões de hospitais públicos portugueses tenham dois ordenados. Um para lá estarem fisicamente. Outro para trabalharem enquanto lá estão.

16 de Fevereiro - A Ginjinha esteve fechada por não ter casa de banho. A Ginjinha reabriu sem casa de banho. Hoje, estamos mais seguros exactamente em quê? Poderão ter a gentileza de listar os, certamente inúmeros, casos de  intoxicação alimentar na Ginjinha que foram notícia antes do estado ter decidido zelar pela nossa saúde?
17 de Fevereiro - Foi criada uma conta  para ajudar a família do sargento Luís Gomes, no balcão do Montepio de Torres Novas com o NIB: 003600699910007345677.
São necessários 30 mil euros para a indemnização do pai biológico da criança e as custas com a justiça e advogados ascendem a 40 mil.
18 de Fevereiro - «Vitalino Canas já veio exigir provas das afirmações do bastonário presidente da câmara de Lisboa. «São declarações que têm de ser bem sustentadas e demonstradas porque são acusações sérias», salientou o porta-voz do PS, afirmando que espera ver Marinho Pinto António Costa «a comprovar essas declarações. Entretanto, o Procurador-Geral, presidente da ERC Pinto Monteiro, Azeredo Lopes anunciou que determinou a abertura de um inquérito às declarações do bastonário presidente da Ordem dos Advogados Câmara Municipal de Lisboa, disse à Lusa fonte da Procuradoria ERC.»
19 de Fevereiro - Foi reaberta a estação central de Lisboa três anos e dez milhões de euros depois dos problemas no túnel do Rossio.
O Governo andou bem: mudou de empreiteiro e conseguiu poupar tempo e dinheiro.
Curioso foi o discurso do primeiro-ministro: disse Sócrates, com o arrebatamento que as inaugurações provocam aos governantes, que o “túnel do Rossio faz já parte da identidade não apenas de Lisboa mas de todos os portugueses“.
Quem se atreveria a negá-lo? O túnel do Rossio é um paradigma das questões nacionais tal como a Expo’98, os engarrafamentos no garrafão da ponte e as complicações nos acessos a Campolide - se o assunto é importante para Lisboa tem de ser fundamental para o País.
E todos nós, no Porto, em Braga, em Vila Real, em Aveiro, em Bragança e em Faro, esquecemos a crise e suspiramos de felicidade ao pensarmos que os comboios já circulam no túnel do Rossio.


20 de Fevereiro -Agora que o Tribunal de Contas chumbou, e muito bem, o empréstimo que permitiria a António Costa continuar a gerir a autarquia à larga, adiando as soluções para depois das próximas eleições, talvez valha a pena lembrar ao Sr. Presidente que tem muito por onde pegar, para começar a resolver os problemas da cidade. Tem por lá “a pesada estrutura da autarquia mais a E-nova, a Ambelis, a OML, a ATL, as SRU, a EGEAC, a Emarlis, a Gebalis, a Lispolis, a Casa da América Latina e sei lá que mais organismos que dão emprego a milhares de eleitores e respectivas famílias e a muitos quadros do(s) partidos(s).” E por isso pode começar a trabalhar e a “fazer o que é preciso - fechar grande parte destas estruturas devastadoras de recursos, diminuir o quadro de pessoal da câmara, cortar subsídios,dizer muitas vezes não”.  Por aqui se vê a fibra de um político. Temos homem na autarquia ou vamos apenas assistir à choraminguice do costume e à habitual distribuição de culpas?
24 de Fevereiro – Onda de violência. Um dias destes, um homem saiu de casa para ir beber a "bica" no café habitual. Saiu de lá cadáver, com um tiro disparado à queima-roupa. Uma mulher preparava-se para estacionar o carro, ir para casa, começar o fim de semana e acabou morta à tiro enquanto falava ao telemóvel com uma amiga. Um rapaz de vinte anos fechou a loja num centro comercial e, quando se dirigiu ao carro, foi surpreendido por um tiro na cabeça que o deixou em coma. Um filho matou os pais esmagando-lhes a cabeça, suicidando-se de seguida. A esta gente silenciada pela violência gratuita resta-lhe a infeliz consolação de não ter de ouvir a retórica política produzida nestes momentos, a velha retórica da "confiança". Eu sou desconfiado por natureza e prevejo um agravar da situação nos próximos tempos. Por isso, pelo sim, pelo não, há por aí alguém que me venda uma arma, de preferência com silenciador?

Nova Aliança, 6 / Março / 2008

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