3.3.08

A nova ponte, o Bastonário e os projectos ga Guarda e Covilhã

8 de Fevereiro - O LNEC recebe uma nova encomenda logo após o estudo do novo aeroporto. Esta possibilidade devia ter sido logo posta de parte antes do estudo sobre o novo aeroporto. Só assim a decisão do LNEC sobre o novo aeroporto teria sido totalmente livre. O LNEC andou a estudar o novo aeroporto sabendo que se a resposta fosse do agrado do ministro então poderia ter direito a novas encomendas. A questão é ainda mais grave se tivermos em conta que a necessidade de um estudo sobre a nova ponte foi criada pela conclusão a que chegou o estudo sobre o novo aeroporto. A decisão sobre a nova ponte também não será livre. Já se percebeu que poderão existir novas encomendas na calha. Se o LNEC der a resposta “errada”, perde as encomendas. Tem todos os incentivos para dar a resposta “certa”.
10 de Fevereiro - Marinho Pinto disse a verdade. O País que manda reagiu mal. Primeiro, acusaram-no de falta de fundamentação e clamaram por “provas”. Depois falaram de “populismo”, de querer aproveitar descontentamentos de toda a espécie. Logo insinuaram sinistras “ambições políticas”. Agora, nas ‘conversas de pé da orelha’, sugerem que o bastonário não está bom da cabeça.
No resto do Mundo atribui-se às crianças pequenas a faculdade de tudo dizerem sem estarem atadas a ajustes cirúrgicos entre a sinceridade e a moral social - por cá, nem isso concedemos e temos um ditado que ensina assim: “Dizer a verdade como os malucos.” Porque, durante séculos, fomos amestrados a mentir para podermos existir.
Perante a campanha de desacreditação que estamos e vamos continuar a assistir, o cidadão deve estar armado com uma simples evidência: Marinho Pinto disse a verdade.
12 de Fevereiro – No jornal Público: “Inspecção-Geral das Actividades em Saúde vai investigar incentivos à realização de transplantes”. Parece que os médicos precisam de incentivos para salvar vidas. A vida humana afinal tem um preço. E não é baixo. Esses incentivos estão a ser distribuidos de forma muito pouco igualitária. Ainda não se descobriu uma fórmula para nacionalizar as capacidades dos médicos.
13 de Fevereiro - Mário Crespo, no JN, desculpa Sócrates recorrendo aos padrões da época. Nos anos 80 toda a gente fazia aquilo. De facto, nos anos 80, tal como agora, a corrupção infiltrava todos os níveis do aparelho de Estado. Pelo menos Mário Crespo não procura negar os factos. Eu, pessoalmente, até aceito a desculpa. O que não estou a ver é porque razão é que desculpas semelhantes haveriam de deixar de ser válidas para o momento presente. O SNS desperdiça dinheiro? Não faz mal, esse é o padrão da nossa época. Há fuga ao fisco? Não faz mal, esse é o padrão da nossa época. Como é que um político que seguiu os piores padrões dos anos 80 pode convencer os seus concidadãos a mudar os padrões actuais?
14 de Fevereiro - As notícias sobre Sócrates produziram alguns resultados interessantes:
A RTP usou a expressão “A nova ofensiva do jornal Publico contra o PM (…)” para noticiar o caso. Proponho que o Público passe a referir-se às notícias da RTP como “Mais um frete da RTP ao governo …”. O primeiro-ministro classificou, com ar muito ofendido, as notícias do Público como “ataque pessoal e político”. Como se isso constituísse algum ilícito. Admito que lhe faça confusão ainda existirem órgãos de comunicação que publicam notícias desfavoráveis. É a vida. Ontem, Sócrates desmentiu a notícia do Público que dizia que ele tinha assinado projectos manuscritos por outras pessoas. De seguida, confirmou a notícia ao assumir não apenas a responsabilidade como também a autoria de todos os projectos. Repare-se: ele dia que todos os que assinou são da sua responsabilidade, não diz que foi ele que os fez. A diferença é importante... A notícia está confirmada a partir do momento em que Sócrates assume a autoria de projectos manuscritos por outros. Hoje negou ter auferido qualquer remuneração para além da que auferiu como deputado. Pretendeu dessa forma desmentir a notícia do Público. O Público, por seu lado, não afirmou que Sócrates recebeu qualquer remuneração para além da que auferiu como deputado. Limitou-se a afirmar que Sócrates desempenhou funções para além das de deputado.
Depois de ontem ter assumido a autoria de todos os projectos, hoje Sócrates alegou que a sua actividade a partir de 1989 foi residual.

Nova Aliança, 21 / Fevereiro / 2008