16.10.06

Pinho, a Ópera de Berlim e as agressões a professores

23 de Setembro - Iniciativas como o Compromisso Portugal, desde que na dose certa, podem ser úteis. Mas só por si não servem de muito. Esses senhores defendem o encerramento de postos de trabalho, o apertar do cinto nas famílias mas os seus lucros continuam a subir vertiginosamente. Ou seja, os apertos são para os outros, a riqueza vem para nós. Seria bom que, aproveitando a boa vontade demonstrada, os promotores do Compromisso Portugal começassem a dar mais o dinheiro e menos a cara.

24 de Setembro – Segundo os jornais, Portugal é um dos países da União Europeia com maior número de automóveis por habitante, ocupando o terceiro lugar de uma tabela liderada pelo Luxemburgo, segundo dados divulgados, em Bruxelas, pelo Eurostat. Portugal tinha, em 2004, 572 automóveis por mil habitantes, sendo a média dos 25 de 472 carros por mil habitantes. Percebemos agora a razão da entrada todas as manhãs em Lisboa de milhares de veículos que transportam apenas o seu condutor. Definitivamente, não gostamos dos nossos vizinhos.

25 de Setembro – Quando, no dia 27 de Outubro de 2003, Gilles de Robien, ministro francês dos Transportes, foi apanhado em excesso de velocidade por um radar não oficial de uma revista, a caminho de um evento público com escolta motorizada, prontamente pediu desculpas, apesar de todas as atenuantes. Referiu que a escolta “não é desculpa” e que “ninguém está acima das leis de trânsito”. No sábado, dia 9 de Setembro, o ministro da Economia português, Manuel Pinho, foi apanhado a 212 km/h na auto-estrada do Norte, quando ia para uma reunião sem escolta policial nem qualquer medida excepcional de segurança rodoviária. Ao contrário do francês, o português calou-se. Mandou dizer que tinha saído atrasado de casa e que não fazia comentários porque o assunto era “muito desagradável”. Sim, é verdade, os países são muito diferentes…

26 de Setembro – A notícia “A descida efectiva das despesas do Estado com salários deve-se quase exclusivamente à diminuição destes encargos com os professores” percorreu a imprensa dos últimos dias. É verdade, sim senhor. Mas também é verdade que, no meu caso pessoal, e devido ao bloqueio nas subidas de escalão, o Estado está a roubar-me 12 meses X cento e tal euros por mês. Quantos professores estarão na mesma situação? Bastantes e desta forma é fácil subir as receitas. É só fazer as contas. E os políticos, também ficarão sem subir de escalão?

27 de Setembro – A Ópera de Berlim cancelou a produção de "Idomeneo", de Mozart, com medo do ofender os muçulmanos, radicais ou moderados. No programa «Bom dia Portugal» noticia-se a substituição pela ópera de Berlim do «Idomeneo». Ora, se bem entendo, o censurado e perseguido passa a provocador. A censura passa a acto de respeito.O medo é travestido em sinal de tolerância. A capitulação passa gesto de boa vontade. A intolerância chama-se susceptibilidade. Os intolerantes já nem precisam de ameaçar. Primeiro horrorizaram-nos os seus actos. Agora já pensamos como eles. Pomo-nos no lugar deles. Vasculhamos o que escrevemos, dizemos e fazemos em busca do menor sinal, som ou traço que os possa ofender. Rasuramos o que possa suscitar aquilo que antigamente se designava como fúria e ódio e que agora, na novilíngua, se designa como reacção duma susceptibilidade ofendida


28 de Setembro – Sete alunos de uma escola secundária de Alcobaça foram agredidos no interior da escola por dois jovens do sexo masculino que não frequentam o estabelecimento de ensino. O facto de não existir portaria terá facilitado a entrada dos agressores. À escola não chegam os seguranças que proliferam em organismos públicos como centros de saúde, hospitais, arquivos, bibliotecas e instituições militares. Infelizmente...

29 de Setembro – Os jornais dizem que temos um presidente da câmara vaidoso e egocêntrico q.b. Não há publicação municipal, fontanário, ruela, praça, varanda, jardim, travessa, casa do povo, junta de freguesia, urbanização, melhoramento, que não leve logo uma placa com o seu nome e/ou com a sua fotografia. De quem falo? Do Presidente da Câmara de Elvas, naturalmente.

30 de Setembro – Definitivamente o caso Apito Dourado não tem qualquer importância. Até o ouro das prendas era falsificado e tinham por isso um simples valor simbólico. Ou a corrupção levada às últimas consequências…

Conselho da quinzena: evitem cruzar-se na estrada com o ministro Pinho.

2.10.06

Bento XVI, a Hungria e o novo Procurador

15 de Setembro - A generalidade dos comentários à intervenção de Bento XVI oscila entre dizer que o texto "foi mal entendido", "treslido" ou nem sequer "lido"; outros, no entanto, preferem salientar a "imprudência", tratando-o sobranceiramente por "incauto"; há até quem o acuse de "atirar achas para a fogueira" e mesmo quem vislumbre uma sinistra conspiração destinada a tornar o Vaticano na sede universal da luta contra o fanatismo religioso, embusteando, pelo caminho, todos os patinhos cujo intelecto não consegue atingir tais dimensões labirínticas. Muitos dos comentadores nem sequer leram o texto…

Queria, no entanto, colocar a seguinte questão: e se o Papa quisesse mesmo dizer aquilo que tantos pensam, i.e. que o Islão tem na sua génese e na sua essência elementos de intolerância e de violência de tal modo potenciadores do fanatismo que o tornam incompatível com a modernidade e a razão?

Nesse caso, teria de pedir desculpas? E onde estão as desculpas dos líderes religiosos islâmicos pelos incontáveis crimes que nos últimos anos se têm cometido em nome do seu credo? Algum responsável muçulmano se lamentou pela utilização permanente de princípios religiosos nos massacres perpetrados em toda a parte durante a nossa geração? Desde logo, alguma vez um teólogo, intelectual, dirigente político ou líder religioso do mundo muçulmano pediu desculpas por tantos responsáveis estarem constante e publicamente a vilipendiarem outros credos, outras culturas e a demonizarem todas as formas distintas de entender o mundo em relação àquela que o profeta terá decretado há cerca de 1386 anos?

Algum de entre eles lamentou que o Corão seja utilizado como pretexto sagrado para, por exemplo, perpetuar a obscena menorização das mulheres?

17 de Setembro – “Solidariedade intergeracional” é o termo pomposo que agora se utiliza quando se referem benefícios presentes a serem pagos pelas gerações futuras. Fala-se muito disto a propósito das SCUTs e da Segurança Social. Evidentemente que as gerações futuras não são ouvidas nem achadas...

18 de Setembro – Lá como cá. Na Hungria, o primeiro-ministro confessou ter sonegado informação na campanha eleitoral, omitindo a verdadeira situação económica do país. Isso fez com que tivesse ganho as eleições. Comparando com o que se passou em Portugal, conclui-se que não é grave que o Primeiro-Ministro minta mas é grave que ele se gabe disso.

19 de Setembro - Nem a França escapa a isto: em certas escolas, há WC para “franceses” e WC para “muçulmanos”. Em tempos, na África do Sul, esta segregação tinha um nome e bem feio.
Os mesmos que defendem esta simpática divisão de crianças na hora do xixi são os mesmos que ainda hoje, passados 40 anos, relembram que na América havia WC para "brancos" e WC para "negros". A isto chamamos coerência…

20 de Setembro - Um bioquímico ligado ao Hezbollah (Hussein Haj Hassan) apresenta-nos um raciocínio bastante científico e arrojado. Diz-nos que não é anti-semita ( era só que o faltava ). Mas Hassan notou, repare-se, que os judeus são um "grupo pan-nacional que funciona duma maneira que permite aos judeus actuarem como parasitas das nações que lhes dão abrigo”.

21 de Setembro – No momento em que Oriana Fallaci nos deixa, vale a pena lembrar as suas palavras numa entrevista ao The Wall Street Journal: “O servilismo com os invasores envenenou a democracia, com consequências óbvias para a liberdade de pensamento e para o conceito de liberdade”.


22 de Setembro - Leio no Público que já há fumo branco na Justiça, com um novo Procurador-Geral da República, o magistrado Pinto Monteiro, até agora juiz conselheiro. Não conhecendo o novo PGR, lembro porém declarações proferidas em Agosto e que só o dignificam. Numa entrevista, precisamente ao Público, Pinto Monteiro dizia que os juízes novos não têm "humildade", o que "gera falta de cortesia", e que o acesso ao Supremo "é um sistema viciado". Afirmava ainda que "o Conselho Superior de Magistratura não controla rigorosamente nada quando devia ser implacável" e "não pode actuar como associação sindical". Mais, ainda, "só pode ser juiz quem deve e não quem quer". Espera-se, por isso, um PGR reformador. O que, a confirmar-se, só pode ser uma boa notícia.


Nova Aliança, 29 / 9 / 2006