8.1.07

As crianças nos hotéis, Carolina e os portáteis nas escolas

13 de Dezembro - Segundo os jornais, já deram entrada nos tribunais do Porto e de Gaia pelo menos seis processos contra Carolina Salgado, por difamação. A confirmar-se tal informação, o Ministro da Justiça estará já a considerar convidar Carolina para ser ouvida a par das 15 maiores utilizadores empresariais que entopem a justiça portuguesa. O objectivo é aliviar os tribunais das inúmeras cobranças de dívidas relacionadas com empresas.
16 de Dezembro - Há silêncios diferentes uns dos outros: os que calam por conveniência e os que calam por desinteresse. No primeiro, e para não sair de Portugal, os que perguntavam pelo MIT; os que explicavam o génio de destruir Arafat e inventar a democracia pelas armas no Médio Oriente; os que gritavam contra Israel e o ocidente mas não se interessam pela nova guerra civil no Líbano apesar (até por causa) da «força» da ONU; os que falam em censura na RTP mas não clamam pela intervenção de quem de direito; os que percebiam imenso de futebol em Agosto e Setembro; os que não perdem tempo a saudar a «crítica» anónima ordinária até perceberem que não estão a gabar quem pensam; etc., etc. Precisam tanto do silêncio para continuar sempre na mesma, sempre a escrever mais depressa do que pensam, que até apagam as referências aos outros. Os outros escreveram a tempo. E não precisam de se repetir. Moral da história: quem precisa, cala-se, de preferência fazendo muito ruído para entreter e continuar. Quem não precisa, cala, por saber que em Portugal ter razão antes do tempo é o menos; não se pode é querer saber da razão, isso é insuportável para os que dispõem sempre da razão no tempo certo, o deles.
18 de Dezembro - Segundo uma reportagem na SIC Notícias de ontem, parece que há uma espécie de hotéis e de restaurantes em Portugal que “desaconselham” o uso de crianças pela clientela. Felizmente, para eles, não “desaconselham” o uso de “pretos”, de “chinocas”, de “gays”, de “lésbicas”, de “anormais”, de “pobres” por serem “pobres”, ou de canídeos. É que se assim fosse, certamente já lá teriam há muito tempo à porta, literalmente, toda a indignação do “politicamente correcto” português, desde as mais variadas organizações “libertárias” e contra as “injustiças”, representativas daquilo que mais "puro" há na sociedade civil, até ao Governo e à generalidade dos partidos políticos - do CDS ao BE, passando pelo PSD e pelo PS. Mas como se tratam de crianças que, provavelmente, nem sequer são mal tratadas pelos paizinhos, não há lei, não há Constituição. Isto é... a Constituição que se lixe! E já agora tenhamos esperança de que não se ande por aí a "desaconselhar" a entrada a "velhos" e "velhas" em estabelecimentos afins.
20 de Dezembro - Segundo variadíssimas cabeças com provas dadas, parece que não se pode acreditar em Carolina Salgado. E não se pode porquê? Porque a Carolina está ressabiada. Ora, convém colocar algum travão na hipocrisia. A senhora decidiu escrever um livro, procedimento ainda pouco habitual em Portugal, mas vulgar em Inglaterra ou nos Estados Unidos. Se tivesse soprado as informações aos jornalistas a coberto do anonimato não haveria qualquer escândalo. Felizmente, resolveu dar a cara. A senhora Carolina Salgado pode ser a mais miserável e mesquinha das personagens, mas o que está aqui em causa e deve ser averiguado é o que ela diz, e não as razões que a levaram a dizer.
22 de Dezembro – Lembram-se dos PC’s portáteis adquiridos pelo ministério da educação? Alguns terão sido atribuídos de forma errada. Na sequência deste processo, o ME, tentando reparar o erro, mandou um ofício e uma guia de transporte (via fax), solicitando às escolas, que não tinham recebido portáteis, que os fossem buscar às outras escolas.Como provavelmente, nenhuma escola (ou nenhum professor responsável pela escola) resolveu fazer essas viagens, o ministério encontrou uma solução que não é de todo imaginativa nem será inédita, “desbloqueando uma verba para se comprar mais portáteis” para as escolas que não receberam a encomenda inicial. Ninguém me convence que isto não faz parte de um plano bem gizado para, à revelia de critérios economicistas, aumentar o parque computacional das escolas públicas e contribuir para aumentar os efeitos do plano tecnológico.
24 de Dezembro – A Polícia britânica interrogou o primeiro-ministro Tony Blair, durante cerca de duas horas, no âmbito das investigações em curso sobre as suspeitas dum negócio de títulos nobiliárquicos. É a primeira vez que no Reino Unido um primeiro-ministro, ainda para mais em exercício, é chamado a “ajudar a Scotland Yard” em investigações criminais. O caso foi levado à Justiça depois de levantadas suspeitas a indícios de alguns financeiros e industriais terem apoiado o partido que suporta o Governo, aceitando “emprestar” avultadas somas solicitadas para dispendiosas campanhas, para serem posteriormente agraciados com títulos nobiliárquicos que, por proposta do Governo, a Monarquia lhes concedia. Sem desmerecer a pinderiquice nacional, e mal comparado, este caso seria o mesmo se a Polícia Judiciária se pusesse agora a investigar o que poderia estar por detrás dos quilos de condecorações que Sampaio distribuiu quando esteve em Belém, dando comendas e oficialatos a torto e a direito, já que cavaleiros, condes e barões não podia armar.

Sem comentários: