8.2.08

Os santos nas escolas, Luís Pacheco e o novo aeroporto

1 de Janeiro – O fumo “bom” - O director da ASAE foi apanhado a fumar num espaço fechado, mas garante que não estava a violar a lei. Parece que dentro de um casino o fumo não prejudica a saúde…


6 de Janeiro – Nomes dos Santos nas escolas - Uma escola que se chame Escola Secundária Santo António passará a chamar-se Escola Secundária Fernando Martim de Bulhões. Uma que se chame Escola Secundária Santo Agostinho passará a chamar-se Escola Secundária Aurélio Agostinho ou Escola Secundária Agostinho de Hipona. A Escola Secundária Rainha Santa Isabel vai passar a chamar-se Escola Secundária Isabel de Aragão.

É possível que a Escola Secundária Padre António Vieira tenha que se chamar Escola Secundária Sr. António Vieira.

Uma hipotética Escola Secundária Nossa Senhora de Fátima terá que mudar de nome para Escola Secundária Fatima bint Muhammad.

7 de Janeiro – Os nossos bolsos - Não sei se ficou claro para todos: são 68 cêntimos por mês que o governo vai pagar aos reformados para não lhes entregar, em Janeiro, o aumento a que têm direito relativo a Dezembro. O secretário de Estado explicou na SIC essa sua tendência para a generosidade: «Não seria aceitável que os pensionistas recebessem um valor de pensão qualquer em Janeiro e no mês seguinte o valor do seu recibo de pensão era menor, diminuía.» Não seria nada aceitável. Está na cara. E quanto a juros, qual é o banco em que o governo tem conta?

9 de Janeiro – Ele dará o exemplo? - Em matéria de linguagem, o director da ASAE ensinou o caminho: “É o rumo desta sociedade e nós, se não quisermos viver nesta sociedade, temos a hipótese de emigrar.”

11 de Janeiro – O exame conterá matéria da TLEBS ? - Esta história, contada no Diário de Notícias, é exemplar: como é que uma emigrante cabo-verdiana, de 48 anos, que trabalha 16 horas por dia, que está em Portugal desde 2000, que vive com o marido e os três filhos, que tem casa própria, que paga contribuições, que tem vida feita aqui, tem o descaramento de pedir a nacionalidade, se não passa no exame de Língua Portuguesa? Ah, nação valente, imortal, quantas das tuas lágrimas são o orgulho de Portugal?

12 de Janeiro – Um escritor bem “português” - Há dois séculos que a literatura portuguesa anda a tentar inventar imagens fiéis da "nossa terra". Quando se fizer o balanço dessa velha mania, ver-se-á que alguns dos esforços mais memoráveis são de Luiz Pacheco. Por exemplo, Porto-Lisboa a pedir esmola. Eis o resumo (versão de Exercícios de Estilo, a melhor): no Porto, decidido a ir de comboio para Lisboa, o autor só tem dinheiro para o bilhete até Soure. Tenta, com uma mentira, comover o chefe da Estação de S. Bento: espera-o em Lisboa uma pessoa de família doente. O chefe de estação percebe a vigarice, mas decide empurrar para a frente: que compre bilhete para Soure, e, em lá chegando, fale com o chefe do comboio. Em Soure, o chefe do comboio barafusta imenso, mas (e é o que importa) não o põe fora na estação, passando a chatice ao revisor. Este, sem vontade de levantar o devido "auto", tem uma ideia para "legalizar" o viajante: e se ele pedisse esmola aos outros passageiros? O próprio revisor chama a atenção da carruagem (de terceira classe, apinhada de gente, cestos e garrafões), e exibe o desgraçado: sem bilhete, em chegando a Santa Apolónia, irá preso (mentira). Todos se condoem: coitadinho. As moedas aparecem, o bilhete e a multa são pagos. Pela cabeça do autor passa a ideia de recorrer novamente ao truque da próxima vez que viajar.
Aldrabice, aversão às responsabilidades, sentimentalismo: é um Portugal imaginado, mas a quem é que apetece dizer que não é verdadeiro?

13 de Janeiro - Aeroporto Mário Lino - A cara de pau de Mário Lino sentado ao lado de Sócrates quando este anunciava que o novo aeroporto ficará no suposto "deserto" e, paradoxalmente, tinha o topete de gabar o ministro que tinha feito da Ota um "compromisso pessoal", é bem reveladora da extrema elasticidade da espinha moral de quem nos governa. São capazes de admitir tudo e o seu contrário, reduzem a pó as suas promessas mais enfáticas com a maior facilidade, abandonam compromissos éticos em nome da "ética da responsabilidade" e mentem, mentem sempre, compulsivamente, quase por acto de fé.
Apesar de tudo, o dia de hoje é feliz - evitou-se um erro gigantesco e pouparam-se muitos milhões ao erário público (e privado, por consequência socialista). E muito se deve a Mário Lino: sem a sua actuação politicamente grotesca, talvez a Ota fosse para a frente. No mínimo, o futuro aeroporto de Alcochete merece ostentar o seu nome. E dou mais sugestões, mas para os serviços de apoio do novo aeroporto: restaurante 'Jamé', papelaria 'Compromisso pessoal', café 'O maior camelo do deserto'...

Nova Aliança, 24 / Janeiro / 2008

Sem comentários: