21.4.08

Masculino ou Feminino? , a Madeira e a Islândia

3 de Abril – Género masculino ou feminino? –

Thomas Beatie tem uma história que, até certo ponto, não é original: Thomas nasceu com sexo feminino e não gostou.
Vai daí, fez o que vários outros, em circunstâncias igualmente complicadas, também fizeram: "mudou" de sexo. Um necessário implante, algumas aconselháveis remoções e, a toques de testosterona, lá trilhou os caminhos da sua transformação: voz mais grave, formas físicas masculinas e espuma de barbear no seu wc.
Até aqui, tudo bem.
Acontece, porém, que ( segundo a imprensa ) Thomas Beatie está grávido.
Através de um processo de inseminação, o referido senhor conseguiu realizar um presumível sonho seu: ter um filho.
Mas há-de ter conseguido mais.
É previsível que a parte mais recente da sua história seja narrada com recurso exaustivo a termos como "preconceito" e "discriminação fundada em motivos religiosos". É conhecida a fórmula, não entrarei por aqui.
Entro, sim, por uma certeza de que não se livrará: com a realização do seu presumível sonho, Thomas Beatie deita por terra os efeitos de anos e anos de transformação. Doravante, Beatie dificilmente conseguirá destacar a condição de transexual em detrimento do estatuto de mulher mascarada.
Se tudo lhe correr regularmente, em Julho de 2008 Thomas Beatie será mãe. E se dúvidas restarem acerca do seu género, elas acabarão aqui.
4 de Abril – Dezasseis anos são uma eternidade -
Os socialistas madeirenses estão zangados com Jaime Gama e têm razão para isso, porque um partido não é, propriamente, um fórum de debate para filósofos ( muito menos o PS, apesar de o seu líder se chamar Sócrates ), mas um corredor que dá ou devia dar acesso ao poder. Os socialistas madeirenses lembram que Jaime Gama chamou Bokassa (o ditador africano) a Alberto João Jardim há dezasseis anos, e que agora lhe elogia a obra e o trajecto; ora, dezasseis anos são uma eternidade que pode ter mudado quer Jardim quer Jaime Gama. Pelo que conheço de Jardim, não parece que se tivesse alterado muito do perfil e da substância da sua figura política; já de Jaime Gama não sei, mas tenho as minhas impressões sobre o PS – e uma delas é a de que o presidente do Parlamento ( e segunda figura do Estado ) não costuma dar ponto sem nó, ou seja, nunca é inocente num deslize, se se trata de um deslize. Jaime Gama a elogiar Jardim significa que ignora o partido – e que Jardim deve ser reanalisado. E que quis dizer aquilo que disse.




9 de Abril – Afinal não é a Finlândia –

Parece que a Islândia, esse país cinzento e frio, ganhou o primeiro lugar no ranking dos países onde as pessoas são mais felizes e é o lugar do mundo onde se pode dizer que se vive melhor. De acordo com um artigo publicado na revista do El Pais de 6 de Abril, os habitantes desse paraíso sabem educar crianças saudáveis e felizes, vivem descontraídos porque os seus problemas têm respostas adequadas, são práticos e sem preconceitos e têm uma noção de sociedade solidária, multicultural, que só tem paralelo nas aldeias dos países africanos. Alguns dados estatísticos são bem expressivos: índice de natalidade mais elevado da Europa e idade jovem das mães, apesar da elevada taxa de trabalho feminino, 6º rendimento per capita do mundo; maior número de pessoas que compram livros, elevada expectativa de vida, incrível crescimento das exportações, cultura sistemática de protecção do ambiente.
Não sei se a explicação para este fenómeno está na importância das mulheres nessa sociedade – a Islândia foi o primeiro país há vinte e oito anos a eleger uma mulher para Presidente, mas para já podemos acreditar nos motivos que o antigo presidente da Câmara de Reikiavik adianta para terem educação gratuita de alta qualidade, serviços públicos de saúde tão competitivos que a clínica privada só se ocupa dos serviço estéticos de luxo, captarem cérebros e fixarem empresas, entre outros sucessos retumbantes. Diz o ex presidente da Câmara, médico e político ( a participação política e cívica é geral ) que essa prosperidade é explicada “porque os Governos adoptam políticas progressistas e sensatas e a matéria prima humana da ilha é forte, pragmática e imaginativa. Há uma relação íntima entre a saúde do país e a qualidade das decisões políticas que se tomam (…) para a saúde de um pais, mais importante que não fumar são os fenómenos sociais em que fazemos ‘finca pé’ – igualdade, paz, democracia, água limpa, educação, energia renovável e direitos da mulher.”
Parece simples, não é? Se não fosse tão frio, apetecia dar lá um saltinho só para ver de perto…



Nova Aliança, 17 / Abril / 2008

Sem comentários: