9.10.08

Palin, a ERC e o Magalhães

6 de Setembro - Esta coisa da Sarah Palin ter contratado uns amigos para uns cargos lá no Alasca é um problema para o qual nós portugueses somos muito sensíveis e exigentes. Não o admitimos lá, num país e num Estado que não é o nosso, e muito menos o admitiríamos – estou certo - aqui ( onde, graças ao nosso espírito crítico, estes problemas não existem ). Político que o fizesse cá teria a sua carreira terminada no dia seguinte. O que é notável nos portugueses não é apenas o seu sentido ético. O que é notável é o seu sentido ético universal, independente dos interesses próprios, do local ou da cultura. A preocupação desinteressada por questões éticas no governo do Alasca é comovente.

8 de Setembro - Normalmente as coisas passam-se assim: ou é a vida que imita a arte ou é a arte que imita a vida e não há que tomar partido. Ambas as situações são boas. A diferença está no preço. Não vale a pena discuti-lo porque o mercado da vida e o da arte encarregam-se de o regulamentar. Por exemplo, vacas.
O artista Damien Hirst enfiou uma vaca inteira numa barrica transparente cheia de formol e vendeu-a por 11,5 milhões de euros a um coleccionador de Londres. É o preço da vaca artística.
Em Idanha-a-Nova desconhecidos roubaram uma vaca de uma quintarola e o proprietário do animal afirmou-se lesado em 13 mil euros. É o preço da vaca não-artística. Há aqui uma disparidade. É o preço do formol, certamente.

10 de Setembro - Apesar de intimada pela Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos (CADA), em Janeiro, a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) só agora permitiu que o Expresso consultasse o "processo Sócrates", de quase 300 páginas.
Inicialmente, a ERC recusou a sua consulta, tendo o semanário protestado junto da CADA. Uma edição recente do jornal revelava pormenores sobre as audições, que tiveram como objectivo avaliar a existência de pressões sobre os jornalistas no caso do diploma de Sócrates.
A ERC concluiu ser normal que existam pressões nas relações entre jornalistas e políticos. Esta conclusão é aventada no acórdão que se reporta às diligências efectuadas pelo Governo e pelo próprio primeiro-ministro, José Sócrates, para que fossem travadas as notícias sobre a sua licenciatura na Universidade Independente.
Assumindo "um certo grau de tensão", a ERC refere que ela é compreensível, "dada a cultura profissional dos primeiros e pelo choque que resulta do facto de ambas as partes agirem com interesses divergentes". Por outro lado, a ERC entende que Sócrates, ao tentar travar na imprensa as notícias sobre a sua licenciatura, não efectuou qualquer pressão, antes fez démarches. ( Repararam na subtileza???? )
A ERC concluiu que os telefonemas efectuados para o jornalista do PÚBLICO que investigava o caso, Ricardo Dias Felner, e para o director do jornal, José Manuel Fernandes, apesar de terem sido feitos pelo próprio Sócrates, não reuniam "elementos factuais que comprovem ter existido o objectivo de impedir, em concreto, a investigação".
Tanto Ricardo Dias Felner como José Manuel Fernandes, nos depoimentos que fizeram na ERC, disseram que o modo como foram abordados pelo primeiro-ministro resultou numa "tentativa de pressão ilegítima". O director do PÚBLICO foi ainda mais longe, reportando-se à conversa com Sócrates, no decurso da qual o primeiro-ministro teria dito: "Fiquei com uma boa relação com o seu accionista [Paulo Azevedo] e vamos ver se isto não se altera." Qualquer semelhança entre esta declaração e uma forma de pressão é certamente mera coincidência.

14 de Setembro - O "Magalhães" vai dar pano para mangas. Já vamos na segunda leva. Primeiro, houve aquele anúncio de um "produto nacional" que, afinal, de "nacional" tem apenas um terço. Depois - aconteceu hoje - o governo deslocou-se em bando a escolas, cheio do "Magalhães" e de "controlo parental". Este neologismo quer dizer que é suposto os paizinhos atentarem naquilo a que os meninos têm acesso através do bicho. A SIC experimentou três e foi parar a sítios de "gatas maravilhosas". O "Magalhães", por consequência, promete não apenas "info-ligados" (um belo termo da lavra do 1º ministro) mas igualmente "adiantados sexuais". Finalmente, o "Magalhães" terá o seu apogeu quando, dentro de dias, Chávez vier cá comprá-lo, com ou sem as "gatas maravilhosas". Grande "Magalhães".

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