7.11.08

O património de Lisboa e o ensino do português

29 de Setembro - "Estou de plena consciência. Aluguei um andar, legal, com valores legais", disse a sra. D. Ana Sara Brito, ao lado de Costa, o presidente da CML de quem é vereadora. Acrescentou que se tratava de "uma casa atribuída legalmente e de acordo com critérios à época e a situação à época." Talvez a criatura quisesse dizer que "estava de consciência tranquila" e saiu-lhe a "plena consciência" que, afinal, com a explicação posterior dos "critérios", acaba por ser freudianamente mais adequada. Pelo meio mencionou a inevitável "ética" e a "confiança" de Costa. Está certo. Trinta anos de maus hábitos não se mudam de um dia para o outro. Mesmo que lhe chamem "património disponível". Só o nome da coisa é todo um programa.

30 de Setembro - Em poucos dias - não é "notícia" porque estraga o falso "glamour" em que o regime vive - suicidou-se uma meia dúzia de agentes policiais, ora da GNR, ora da PSP. Desde quase adolescentes (vinte e pouco anos) até homens mais maduros, esta gente que supostamente vela pela nossa existência, decidiu colocar um termo à deles porquê? A presença constante de uma arma é tentadora? A vida "privada" e a de agente da autoridade cruzaram-se em algum nó górdio irreversível? Sem provavelmente terem lido muita filosofia, estes homens, no acto limite do suicídio, descobriram aquele que alguns consideram o único "tema" verdadeiramente filosófico. E levaram, para a eternidade, esse segredo. Falo disto porque eram pessoas com uma função especial que, diz-se, o regime tem o dever de acarinhar para que eles cumpram o dever de nos proteger. Afinal, nem eles conseguiram proteger-se de si próprios. Dá para pensar.

1 de Outubro - O SEF/Porto deteve cinco estrangeiros suspeitos dos crimes de usurpação de identidade e de uso de documento alheio, por se encontrarem a fazer exames de língua portuguesa em lugar de outros, revelou fonte escolar.
Cinco homens, dois paquistaneses, um marroquino, um são-tomense e um guineense, foram detidos nas escolas Almeida Garrett de Gaia e Carolina Michaelis do Porto quando tentavam fazer o exame de língua portuguesa, em vez de outros imigrantes (do Gana, do Paquistão, da Índia e de Marrocos) - e com identidade falsa. (...) As autoridades suspeitam de que o actual sistema de exames tem proporcionado um grande número de fraudes a nível nacional, com imigrantes com alguns anos de permanência em Portugal, a substituírem outros que pouco ou nada falam e escrevem português." Lusa
A nova Lei da Nacionalidade exige que um imigrante que solicite a nacionalidade portuguesa, tenha, entre outros requisitos, um conhecimento mínimo da língua falada e escrita, o que implica a realização dos respectivos exames.

Espero que a diligente Directora Regional de Educação do Norte não passe mais esta informação à Ministra da Educação. Com a vontade que a Ministra tem de alcançar a marca de 100% de sucesso escolar, este método pode mesmo vir a fazer "escola".

2 de Outubro - Na inimitável "Quadratura do Círculo" o dr. Costa, presidente da CML e ilustre dirigente do PS absolutista, acusou a blogosfera de ser um "submundo" que manifestamente o repugna. Bastou olhar para a cara dele quando começou a falar da coisa para perceber que, se pudesse, vontade não lhe faltava para suprimir o referido "submundo". Pacheco Pereira "salvou" um por cento da blogosfera desse "submundo" e adiantou que esse um por cento valia por muitas das coisas que se publicam e exibem na tranquila "superfície" desejada por Costa. Concordo com isto e também abomino o anonimato. Tal como acho que noventa e nove por cento do que se escreve nos jornais, se ouve na rádio e se vê na televisão é "submundo". Todos os dias , aliás, me deparo com a dificuldade em descobrir na percentagem que resta algo que me ilumine, esclareça e não me meta nojo. Aliás, mais valia ao dr. Costa ter estado calado. Será que ele ainda não reparou que até uma respeitável instituição como a CML possui um anónimo "submundo" que o presidente não domina, não conhece e manifestamente receia?
3 de Outubro - Uma mulher de 90 anos que vive há duas décadas num contentor em Viana do Castelo vai finalmente ter direito a «casa a sério», graças à construção de uma passagem inferior à linha de caminho-de-ferro. Esta senhora não teve a "sorte" de viver em Lisboa. Provavelmente a Câmara de Viana do Castelo não tem "património disponível", como a CML, e a senhora não tem amigos que lhe "metessem cunhas" para, em vinte anos, arranjar uma casa. Quem, dos bafejados pelo "património disponível" da CML, estaria pronto a aguentar a vida num contentor?

Nova Aliança, 16 /10 / 2008

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