2.10.06

Bento XVI, a Hungria e o novo Procurador

15 de Setembro - A generalidade dos comentários à intervenção de Bento XVI oscila entre dizer que o texto "foi mal entendido", "treslido" ou nem sequer "lido"; outros, no entanto, preferem salientar a "imprudência", tratando-o sobranceiramente por "incauto"; há até quem o acuse de "atirar achas para a fogueira" e mesmo quem vislumbre uma sinistra conspiração destinada a tornar o Vaticano na sede universal da luta contra o fanatismo religioso, embusteando, pelo caminho, todos os patinhos cujo intelecto não consegue atingir tais dimensões labirínticas. Muitos dos comentadores nem sequer leram o texto…

Queria, no entanto, colocar a seguinte questão: e se o Papa quisesse mesmo dizer aquilo que tantos pensam, i.e. que o Islão tem na sua génese e na sua essência elementos de intolerância e de violência de tal modo potenciadores do fanatismo que o tornam incompatível com a modernidade e a razão?

Nesse caso, teria de pedir desculpas? E onde estão as desculpas dos líderes religiosos islâmicos pelos incontáveis crimes que nos últimos anos se têm cometido em nome do seu credo? Algum responsável muçulmano se lamentou pela utilização permanente de princípios religiosos nos massacres perpetrados em toda a parte durante a nossa geração? Desde logo, alguma vez um teólogo, intelectual, dirigente político ou líder religioso do mundo muçulmano pediu desculpas por tantos responsáveis estarem constante e publicamente a vilipendiarem outros credos, outras culturas e a demonizarem todas as formas distintas de entender o mundo em relação àquela que o profeta terá decretado há cerca de 1386 anos?

Algum de entre eles lamentou que o Corão seja utilizado como pretexto sagrado para, por exemplo, perpetuar a obscena menorização das mulheres?

17 de Setembro – “Solidariedade intergeracional” é o termo pomposo que agora se utiliza quando se referem benefícios presentes a serem pagos pelas gerações futuras. Fala-se muito disto a propósito das SCUTs e da Segurança Social. Evidentemente que as gerações futuras não são ouvidas nem achadas...

18 de Setembro – Lá como cá. Na Hungria, o primeiro-ministro confessou ter sonegado informação na campanha eleitoral, omitindo a verdadeira situação económica do país. Isso fez com que tivesse ganho as eleições. Comparando com o que se passou em Portugal, conclui-se que não é grave que o Primeiro-Ministro minta mas é grave que ele se gabe disso.

19 de Setembro - Nem a França escapa a isto: em certas escolas, há WC para “franceses” e WC para “muçulmanos”. Em tempos, na África do Sul, esta segregação tinha um nome e bem feio.
Os mesmos que defendem esta simpática divisão de crianças na hora do xixi são os mesmos que ainda hoje, passados 40 anos, relembram que na América havia WC para "brancos" e WC para "negros". A isto chamamos coerência…

20 de Setembro - Um bioquímico ligado ao Hezbollah (Hussein Haj Hassan) apresenta-nos um raciocínio bastante científico e arrojado. Diz-nos que não é anti-semita ( era só que o faltava ). Mas Hassan notou, repare-se, que os judeus são um "grupo pan-nacional que funciona duma maneira que permite aos judeus actuarem como parasitas das nações que lhes dão abrigo”.

21 de Setembro – No momento em que Oriana Fallaci nos deixa, vale a pena lembrar as suas palavras numa entrevista ao The Wall Street Journal: “O servilismo com os invasores envenenou a democracia, com consequências óbvias para a liberdade de pensamento e para o conceito de liberdade”.


22 de Setembro - Leio no Público que já há fumo branco na Justiça, com um novo Procurador-Geral da República, o magistrado Pinto Monteiro, até agora juiz conselheiro. Não conhecendo o novo PGR, lembro porém declarações proferidas em Agosto e que só o dignificam. Numa entrevista, precisamente ao Público, Pinto Monteiro dizia que os juízes novos não têm "humildade", o que "gera falta de cortesia", e que o acesso ao Supremo "é um sistema viciado". Afirmava ainda que "o Conselho Superior de Magistratura não controla rigorosamente nada quando devia ser implacável" e "não pode actuar como associação sindical". Mais, ainda, "só pode ser juiz quem deve e não quem quer". Espera-se, por isso, um PGR reformador. O que, a confirmar-se, só pode ser uma boa notícia.


Nova Aliança, 29 / 9 / 2006

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