25.7.07

A inauguração da barragem

Confesso e penitencio-me: não estive presente na inauguração da barragem. Já tinha o fato pronto e a gravata escolhida porque me disseram que dessa maneira teria hipótese de presenciar de perto o acto do corte da fita ( eu queria mesmo era aparecer na tv ). Bom, mas a verdade é que, para grande pena minha, um imprevisto me levou para fora da cidade, pelo que só através da televisão pude ver o que na realidade aconteceu.

E vi, ou por outra pensei ter visto mas, depois de ler a nota da Direcção, publicada no último número, tenho de confessar outra coisa: será que podem existir opiniões diferentes da minha? Teremos visto a mesma coisa? Claro que não. Dessa forma, não concordo nada com essa nota e julgo mesmo que há no texto vários equívocos. Mesmo sabendo que, ao transmitir uma posição contrária ao da Direcção, poderei ter dissabores, colocando mesmo em risco o meu futuro no jornal, vou em frente e explicá-los-ei.

Primeiro equívoco. É afirmado que “nunca se tinha visto uma inauguração de uma obra pública, após 32 anos de democracia, policiada até aos dentes”. Ora, parece-me que o sentido que se está a dar a este “policiamento” não é o correcto. O que se passou foi que os agentes, na sua grande maioria, quiseram associar-se aos festejos e transmitir uma manifestação de força à cidade e aos visitantes ilustres. Então, compreende-se que se critiquem as “operações stop” junto da Escola Manuel Fernandes quando se sabe que a estrada que conduz à barragem é muito estreita? Tal operação evitou os engarrafamentos, a confusão e o bom desenrolar da festa. Julgo, por isso, que a Direcção não tem razão.

Segundo equívoco. Já a caminho da denominada “Cidade da Água”, estavam mais duas brigadas policiais. E muito bem, na minha opinião. Não se esqueçam que há estômagos mais sensíveis que têm horas certas para as refeições e um atraso desnecessário no desenrolar do programa poderia levar a complicações gástricas, sempre de evitar. Penso que a associação que a Direcção faz entre a presença destas brigadas e a chegada daqueles que esperavam a comitiva na Praça da República é inoportuna e infeliz. Inoportuna porque se esquecem que a cidade nos sábados de manhã é muito dinâmica, pelo que a cerimónia na Praça da República só iria atrapalhar ainda mais o trânsito e as condições de estacionamento, tão debilitadas mesmo sem tantos carros. Infeliz porque a presença de tanta gente no local da inauguração só veio trazer mais dignidade e solenidade ao acto em si. Não se esqueçam, são as “boas práticas”.

Terceiro equívoco. Fala-se muito no texto em Vip’s, julgo que com intenção ofensiva. E isso eu posso tomar por ofensa pessoal. Já disse que pensava ir de fato e gravata. Então eu sou Vip? Digam lá, sou Vip? Então, por querer aparecer na televisão bem vestido ao lado do senhor primeiro-ministro, do senhor do sinal, do marido da senhora vereadora, do senhor deputado já sou Vip? A imagem que ilustra no último número a inauguração vem dar-me total razão. Os engravatados estão todos sentados e com cara de importante e tirando aqueles que indiquei três ou quatro linhas acima, a verdade é que não conheço mais ninguém. Vejam lá na fotografia se os outros, todos eles sem fato e gravata, arranjaram lugar para se sentar!!! Estão é a ver se alguém se levanta. Então os que eu não conheço também serão Vip’s? Agradecia, por isso, que da próxima vez houvesse mais atenção e não se colocassem, de ânimo leve, rótulos nas pessoas. Vip??!!!! Ora francamente…

Quarto equívoco. A troca de impressões, sempre salutar, entre autarcas e população. Sem ter falado com ninguém, julgo ter havido alguma confusão na compreensão de algumas expressões. A tirada: “Cale-se sua parvalhona, nem sei quem você é” é precisamente uma dessas expressões. Acredito que as palavras terão sido: “cale-se sua sabichona, nem sei quem você é”. E digo isto porquê? Porque “a directora de um dos serviços do Hospital” mostrou nos debates entretanto ocorridos e mesmo em declarações à comunicação social saber imenso do assunto e estar demasiado bem preparada para o discutir. Não se chama “parvalhona” a quem sabe mais do que nós, pois não? Quanto ao gesto do senhor Presidente fazendo “Chiuuuu”, estou certo que tal se deve ao facto de a senhora popular, revelando alguma “falta de educação”, ter interrompido uma conversa interessante que estava a ter com o senhor primeiro-ministro. Por falar em “falta de educação” não me esqueço do Vip. Grrrrrr…

Quinto e último equívoco. Perpassa em todo o texto da Direcção um ar de inconveniência, tentando insinuar que o que se tem feito não defende os interesses da cidade. Uma injustiça, mais uma vez. Recordo que quando se falou em portagens na A23 logo o senhor presidente organizou uma manifestação automóvel que até Castelo Branco mostrou bem a força da nossa razão. Não vai acontecer mas no caso de fechar o Hospital, o Tribunal e a esquadra da PSP, estou certo que o mesmo presidente organizará uma manifestação de canoas ( o meio de transporte mais usual nos abrantinos ) por esse rio acima até à zona do Tejo internacional e com os tacos da nossa equipa de basebol mostraremos a esses governantes do PS quem manda.

Espera aí. Eu disse PS? Então mas… na Câmara não está o PS? E no Governo… também o PS? Bem, isso agora não interessa nada. Já estou a ver os senhores da Direcção a dizer: “está confuso, coitado”. Ah, ah, mas eu disse “não vai acontecer”. Ora recuem lá meia dúzia de linhas. “Não vai acontecer mas…”. Então, está ou não está? “Vip” e “confuso”, pois sim…

“Eles hádem ver”… Hádem, hádem…

Nova Aliança, 6 / 7 / 2007

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