3.7.07

O novo aeroporto, os erros dos alunos e o polaco renascido

30 de Maio - Rui Tavares, um senhor de pose altiva (Choque Ideológico, RTP-N), confessou ao auditório que gosta de Mário Lino. Este, ao menos, «diz o que pensa». Rui Tavares considera isso uma bênção, quer se tratem, ou não, de baboseiras ou frases sem sentido. E, desta vez, Mário Lino não só falou o que pensa como disse a verdade: a sul do Tejo existe muita pouca gente ( gente que desgraçada e estupidamente ainda não deu o salto ) e qualquer opção a sul obrigaria as pessoas a «passar o Tejo», rumo ao norte, o que seria uma tragédia uma vez que só existem duas pontes e a “distância” é enorme. Rui Tavares parte do princípio de que as «pessoas», chegadas a sul do Tejo, vão querer passá-lo porque toda a acção se presume na parte de cima. Em «baixo» o interesse é parco, em «cima» o frenesim é irresistível..

Para esta gente, o país é isto: o seu umbigo. Rui Tavares deve passar a vida a pavonear-se na sua Lisboa cosmopolita, onde existe uma Tema para adquirir as revistinhas da praxe; onde há estúdios de televisão para o Sr. Rui Tavares aliviar a sua imensa sabedoria. Essa coisa do país real, da descentralização e do combate às assimetrias é só para inglês ver. As assimetrias não só existem, como são para cumprir. Há que povoar e edificar até à exaustão todo o metro quadrado de superfície a norte de Lisboa porque, a sul, os «resistentes» hão-de capitular e, mais tarde ou mais cedo, dirigir-se para norte. É o mesmíssimo tipo de critério utilizado à escala global, e tantas vezes criticado pela esquerda do Sr. Rui, na hora de decidir investimentos e incursões a sul: o critério utilitarista e economicista. Porque o sul é pobre, tem pouca gente, tem pouco interesse, o tal “deserto”, estão a ver?!...


3 de Junho - Os erros de ortografia e construção de frases não contaram para a avaliação das provas de aferição dos 4.º e 6.º anos. Justificação do Ministério da Educação: foi de propósito. Quer dizer, não contabilizar os erros fez parte das "técnicas de avaliação". O objectivo era avaliar a "competência de interpretação". E para isso os erros seriam irrelevantes.

Um erro de ortografia pode ser, de facto, menos grave que uma interpretação torta. Não vale a pena discutir estas questões técnicas. Embora o ministério não explique como é que se avalia a interpretação de alguma coisa se não se conseguir percebê-la por erros ou falta de clareza na "construção frásica".

O que é mais questionável nesta decisão é a imagem que transmite aos alunos e à sociedade. De falta de rigor e de exigência.

Também é preciso não esquecer que as notas destes exames - apesar de não contarem para mais nada a não ser aferir o grau de conhecimento do aluno - vão ser conhecidas, dia 21 de Junho. E que lição tirará de uma nota alta um aluno que faça muitos erros de ortografia? Nenhuma que seja boa e lhe sirva para o futuro.

6 de Junho - Um ferroviário polaco que passou 19 anos em coma, Jan Grzebski, devido a um acidente que sofreu em 1988, acordou agora e achou o mundo muito diferente, tendo o seu país deixado de pertencer ao entretanto extinto Pacto de Varsóvia e passado a ser membro da NATO, bem como da União Europeia.
Progressivamente imobilizado, depois de um choque com um vagão lhe ter provocado um tumor no cérebro, Grzebski conta que ouviu os médicos dizerem que só teria mais um mês ou dois de vida, mas que afinal a mulher o salvou, graças aos cuidados que sempre lhe dispensou.

“O que hoje me surpreende é que toda essa gente anda por aí com telemóveis e nunca deixa de se queixar. Eu não me queixo de nada. Quando entrei em coma só havia nas lojas chá e vinagre, a carne era racionada e formavam-se por toda a parte bichas para a gasolina”, declarou o “ressuscitado” ao canal TVN24, evocando as suas memórias dos tempos em que o regime comunista procurava resistir ao descalabro. Aos 65 anos, sentado numa cadeira de rodas, vem contando como Gertruda, a companheira, fez as vezes de toda uma equipa de cuidados intensivos, mudando-o de posição de hora a hora, para que não desenvolvesse infecções enquanto estava acamado. “Vejo tantos produtos nas lojas que fico com a cabeça à roda”, afirma Jan Grezebski, que encontrou os quatro filhos já casados e com 11 netos.

7 de Junho – Casa cheia no Sardoal para ver representar uma das maiores actrizes portuguesas de sempre: Maria do Céu Guerra. Felizmente que ainda existem em Portugal autarquias com programas culturais. O mundo não é todo feito de basebol e canoagem…

Nova Aliança, 22 / Junho / 2007

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