15.9.08

O Racismo e as previsões do Banco de Portugal

12 de Julho -Rui Tavares poderia ter escrito uma crónica igualzinha a menorizar o assassinato de Alcino Monteiro. Racismo? Crime motivado pelo ódio racial? Nada disso. Se fosse no Porto, lá entre eles, ninguém diria que é racismo. Porque é que em Lisboa haveria de ser diferente? O que aconteceu com Alcino Monteiro ou o que aconteceu na Quinta da Fonte é criminalidade comum, excepções a que não se deve dar grande importância. Coisas que dão jeito ao Paulo Portas e nada mais. Ah, claro que podemos discutir coisas profundíssimas como as armas ilegais, o bairro social, o racismo e preconceito inter-étnico (nomes diferentes para a mesma coisa, mas a segunda designação torna o racismo mais compreensível) etc. Mas agora não me apetece. Rui Tavares acha que, se desconversar, o caso da Quinta da Fonte deixa de ser um caso evidente de conflito inter-étnico. Rui Tavares, no Público de hoje, dá hoje uma resposta incisiva a todos os que achava que a esquerda tinha ignorado e assobiado para o ar, no caso da Quinta da Fonte. A Fernanda já tinha aflorado o assunto, desmentindo aqueles que, como eu, imaginavam que o único tema que levaria o 5 Dias dissertar sobre  “acontecimentos” na Quinta da Fonte seria a veemente denúncia de preconceitos sociais conservadores atávicos que impediam a concretização de um casamento gay inter-étnico no bairro. O caso da quinta da fonte demonstra o que acontece quando as minorias passam a maiorias. Fico mais descansado por saber que todos diferentes mas todos iguais. A Alta Comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural considerou hoje os confrontos com armas de fogo no bairro da Quinta da Fonte, em Loures, um caso "isolado"."Na sexta-feira à tarde, meia centena de indivíduos de dois grupos envolveram-se em confrontos com utilização de armas de fogo, segundo a PSP, que indicou ter detido dois indivíduos e apreendido algumas armas de fogo e munições de calibre variado. No dia anterior, uma rixa entre dois grupos de do mesmo bairro tinha provocado nove feridos ligeiros e danos em várias viaturas." (Lusa)Dois casos isolados, portanto. Está tudo bem.Pois bem, já ninguém pode argumentar que a esquerda ignorou o caso. O Rui dedica a sua crónica de última página, inteirinha, ao caso. Faz longas considerações sobre as noites do Porto, as noites de Lisboa, a vida como ela é e a nossa mania de interpretar erradamente os acontecimentos, bem ilustrada com comparações arrasadoras sobre crimes idênticos mas que nós interpretamos como diferentes. Consegue provar empiricamente que não é por dizermos ‘pretos e ciganos’ que os problemas se resolvem. O artigo é excelente. Conclui-se que, no passado dia 11 de Julho, na Quinta da Fonte, freguesia da Apelação, concelho de Loures, distrito de Lisboa, não aconteceu nada. Rui Tavares, no Público de hoje, dá hoje uma resposta incisiva a todos os que achavam
14 de Julho - "As previsões do Banco de Portugal só foram conhecidas depois do debate do Estado da Nação. (...) Isto chama-se Cooperação Estratégica….entre o Banco de Portugal e o Governo"Vítor Constâncio foi à assembleia da república. Como é um homem culto e muitíssimo inteligente não quis maçar os deputados com aquilo que é o seu trabalho e falou sobre quase tudo o resto. Políticas energéticas, nichos de mercado para exportações e outras coisas que mais. Sobre Aimar, curiosamente, nem uma palavra. «A confiança na nossa economia atingiu, já este ano, níveis mínimos verdadeiramente históricos. Crescimento, investimento, confiança, tudo parece afundar-se nos gráficos…
(...) É preciso dizer a verdade: isto não está a correr mesmo nada bem!!
Em qualquer país, esta situação há muito que teria feito soar as campainhas de alarme».
José Sócrates, AR, 2 de Outubro de 2003.
«Agora, o desemprego sobe mais entre as pessoas com curso superior e sobe mais entre os jovens!! (...) É por isso que, se há uma "imagem de marca" deste Governo, se há uma imagem que marca a governação desta maioria, ela é, sem dúvida, a marca do desemprego. Triste marca!
(...) O Governo só tem tido uma preocupação: por um lado, inventar desculpas, por outro, procurar culpados. E vai logo aos suspeitos do costume: a culpa já foi da "pesada herança", já foi dos sindicatos, já foi das leis laborais e até da Constituição, tendo passado, depois, para a conjuntura internacional»
José Sócrates, AR, 2 de Outubro de 2003

Manuel Pinho diz que "o Banco de Portugal prevê uma desaceleração do crescimento em Portugal bastante menor que em vários países europeus que estão à beira de uma recessão".
Manuel Pinho exemplificou com os casos de Espanha e do Reino Unido.
Outra das grandes preocupações do Governo no início do seu mandato, passava pela "generalização do acesso à Internet e às tecnologias de informação e comunicação (TIC)". Ora, se em 2005/2006, altura em que o Governo tomou posse, Portugal ocupava a 27.º posição no ranking que mede o acesso às TIC, tendo o Governo assumido o compromisso de melhorar tal posição, a verdade é que Portugal ocupa em 2007/2008 a 28.ª posição. Onde é que anda a oposição?
Uma das preocupações do Governo no seu Programa, passava pela fraca competitividade de Portugal "a fraca competitividade e a baixa produtividade estão na raiz do baixo crescimento da economia portuguesa. Em vez de melhorarmos, temos descido nos rankings internacionais". O Programa remete para um quadro, no qual constatamos que Portugal, em 2003/2004, se encontrava em 25.º lugar no quadro da competitividade. Ora, de acordo com a mesma fonte utilizada pelo Governo, Portugal, em 2007/2008, encontra-se em 40.º lugar no mesmo quadro da competitividade, o que significa que desceu 15 lugares desde 2003/2004. Onde é que anda a oposição?

Nova Aliança, 24 de Julho de 2008

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