1.1.09

O Zé e a educação 'kafkiana'

26 de Novembro - O ministro português Fernando Teixeira dos Santos é considerado pelo jornal britânico "Financial Times" (FT) como o pior ministro das Finanças entre os 19 países da União Europeia (UE) analisados. Logo ele de quem dizem que salvou o país da recessão. O fraco desempenho da economia nacional e o baixo perfil europeu justificam a escolha. O melhor é o finlandês.

4 de Dezembro – Conhecem-no certamente. José Sá Fernandes é o responsável pelo facto de os lisboetas terem ficado privados durante muito tempo do túnel do Marquês. Num país a sério, o senhor teria sido responsabilizado criminalmente pelo facto. Era a velocidade no interior, era a altura, era o nível de inclinação e, como podemos verificar diariamente, tudo está mal e os acidentes “sucedem-se”.
Por sua responsabilidade, o túnel foi embargado levando a horas intermináveis de espera por parte dos automobilistas, não falando já no prejuízo do comércio da zona. Esse episódio foi apenas mais um onde a personagem se vangloriava de se colocar sempre ao lado do cidadão, assumindo mesmo o epíteto de “consciência crítica” da cidade. Era a época do slogan “O Zé Faz Falta!”.
Curiosamente, o balão cívico esvaziou e uma piscadela de olho socialista fê-lo desaparecer da circulação. Enfim, nem tanto… o sujeito propôs, na semana passada, um "corredor pedonal e ciclável na terceira travessia do Tejo". No texto da proposta, Sá Fernandes lamenta que as actuais pontes não tenham uma ciclovia. É, de facto, injusto que os almadenses não possam vir de bicicleta para Lisboa. O facto da ponte sobre o Tejo estar a 70 metros de altura e só um pormenor. É verdade que, em dias de algum vento, a travessia é proibida a motas com menos de 125cc. Mas isso não é nada que não se resolvesse com um pouco de lastro nas bicicletas.
E se os políticos de outros tempos tivessem a visão de Sá Fernandes teriam permitido que os almadenses fizessem a viagem para Lisboa de bicicleta na ponte Vasco da Gama. São só 17 quilómetros. O suficiente para o triatlo.
Seja como for a ideia de permitir ciclistas na nova ponte Chelas-Barreiro é mais uma inovação digna de registo. É o Zé no seu melhor. Seis ou sete quilómetros a mais de quarenta metros de altura. Vamos a isso, Zé. Tu vais à frente.




5 de Dezembro - A ministra da Educação vivia no melhor dos mundos. As escolas rebentavam pelas costuras com a pressão burocrática que sobre elas tem sido exercida. Os apelos à suspensão de um modelo que parece ter sido importado da lógica de funcionamento do castelo kafkiano multiplicam¬ se pelo país. A ministra vem confessar que afinal há alguns acertos a fazer, bem, não são só as tais duas folhinhas apregoadas... A leitura atenta da legislação implicada neste processo vem desmentir a falácia dos responsáveis ministeriais, quando alegam que a possibilidade de reduzir a dimensão burocrática do processo está ao alcance das escolas. Não está, pois ela deriva em exclusivo daquilo que é imposto por todo o material legislativo que foi despejado sobre as escolas. Ignorar isso parece mais um sinal de que os responsáveis ministeriais desconhecem as leis que eles mesmo assinaram.
Perante um sistema que obriga a gastar cerca de dois dias de trabalho de uma escola para avaliar cada professor, parece justo aplicar o termo de hipertelia ao monstro avaliativo do ministério. Este conceito parte da noção de finalidade (telos) para se referir à lógica que determina o movimento de um sistema para além de todo o propósito racional. O sistema procura, assim, legitimar a sua existência através de uma reprodução infinita, destituída de qualquer finalidade externa a si; toda a sua energia é gasta para o manter em funcionamento, o que pode ser comparado à proliferação enlouquecida das células cancerosas. É, pois, para o estado de saturação inerte que a situação das escolas portuguesas está a ser empurrada.
Isilda Jana (IJ) respondeu a um pedido do seu chefe e vem defender a ministra. Não sei de que escola se lembra IJ mas eu lembro-me que a escola de IJ era uma escola de animação, hoje é uma escola de burocracia; era como um bosque mediterrânico, hoje é uma floresta negra cheia de impressos para preencher; era uma escola sem memória, hoje é uma escola que não esquece aquilo que é feito para a tornar pior. E o homem, como diz o poeta galego Ramiro Fonte, “entre outras moitas consideracións, é um ser memorioso que necessita crear lembranzas para valerse na súa vida.[…] Porque a memoria é como a auga, foxe das nosas mans”. Há coisas que não deviam fugir-nos das mãos.

Nova Aliança, 11 / Dezembro / 2008

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