14.9.09

Os gestores, o governador e a gargalhada

13 de Julho – Segundo um estudo de Manuel António Pina, publicado no Jornal de Notícias de 24/10/08, "... se os portugueses comuns (os que têm trabalho) ganham pouco mais de metade (55%) do que se ganha na zona euro, os nossos gestores recebem, em média:
- mais 32% do que os americanos;
- mais 22,5% do que os franceses;
- mais 55 % do que os finlandeses;
- mais 56,5% do que os suecos"

E são estes mesmos gestores que chamam a nossa atenção porque "os portugueses gastam acima das suas possibilidades".

15 de Julho – Desculpem mas não posso deixar de voltar ao assunto. O senhor Vítor Constâncio ainda não percebeu que é um triste símbolo de um ciclo que terminou.
Fiado na sua imensa autoridade e contente na sua soberba, Constâncio decidiu pregar um raspanete à Assembleia da República por esta se ter imiscuído nos meandros da supervisão. Nem o relatório final da comissão de inquérito ao BPN, feito à sua medida, conseguiu acalmar os ânimos do governador do Banco de Portugal.
O PS, através da deputada Sanfona, apresentou um texto inócuo e inconclusivo, recheado de citações oficiais e de desculpas de mau pagador. Imune a este tipo de simpatias, Constâncio não perdeu tempo e apresentou-se imediatamente ao país, disposto a desfazer qualquer dúvida sobre a sua iluminada pessoa. E lá explicou, pela enésima vez, que a sua extraordinária actuação estava muito acima das capacidades de qualquer deputado.
Como se viu, só ele, na sua infinita sabedoria, se considera em condições de se avaliar a si próprio, longe da chicana parlamentar e dos golpes sujos da oposição. E ele, como se viu também, tem-se em alta conta: não há falha que o atinja, nem offshore que o diminua. Em guerra aberta com a realidade, consegue ser tudo menos aquilo que, na realidade, deveria ser: um governador do Banco de Portugal.
Durante anos, com suave persistência, Constâncio transformou o Banco de Portugal numa espécie de porta-voz oficial do ministério das Finanças, com défices ao sabor do cliente e previsões à altura das suas necessidades. Lembram-se como a descrição dos números mudavam quando a oposição era governo?
A conferência de imprensa que deu, na semana passada, foi a prova de que já ninguém precisava. Abrigado na sua imensa arrogância, Constâncio pretendeu apresentar-se como um mártir iluminado, sem compreender o espectáculo mais ou menos patético que confirmou apenas a solidão de um homem com o cargo errado no lugar errado.


17 de Julho – Está em marcha mais um atentado urbanístico em Abrantes. A criação pomposa de um Museu Ibérico ( os espanhóis saberão? ) de Arqueologia e Arte de Abrantes arrastará consigo um cubo de dimensões obscenas e que poluirá de forma desmedida um dos pontos mais elevados da cidade de Abrantes. Como, mais uma vez, os cidadãos não foram tidos nem achados, há que procurar outros meios. Está a circular uma petição no endereço electrónico
http://www.gopetition.com/online/28923.html e é essa petição que eu o convido a assinar.


19 de Julho – Antes de férias, eis um texto “actual” de Eça de Queirós. "A gargalhada nem é um raciocínio, nem uma ideia, nem um sentimento, nem uma crítica: nem é o desdém, nem é a indignação; nem julga, nem repele, nem pensa; não cria nada, destrói tudo, não responde por coisa alguma! E no entanto é o único inventário do mundo político em Portugal. Um governo decreta? Gargalhada. Fala? Gargalhada. Reprime? Gargalhada. Cai? Gargalhada. E sempre a política, aqui, ou pensando, ou criando, ou liberal ou opressiva, terá em redor dela, diante dela, sobre ela, envolvendo-a, como a palpitação de asas de uma ave monstruosa, sempre, perpetuamente, vibrante, cruel, implacável – a gargalhada!"



Nova Aliança, 23 / Julho / 2009

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