1.10.12

A 'nossa' responsabilidade

Os tempos não correm fáceis. Entre comunicações ao país, idas aos concertos e jogos de futebol, os portugueses sentem-se roubados e explorados. De uma forma geral, as crises que destroem os países começam nas finanças (com a bancarrota), continuam na economia (com recessão e desemprego), atingem a política (com os governos em desagregação) e finalmente chegam às ruas (com a sociedade em revolta). Facilmente sentimos que as duas primeiras fases – o naufrágio financeiro e económico – já foram cumpridas. Portugal vive agora a terceira. Perante isto, Passos não consegue explicar por que motivo o governo ‘carrega’ como nunca na mais pura extorsão fiscal, sem que existam progressos visíveis no tão prometido emagrecimento do Estado. Passos não explica, no fundo, por que motivo continuam a ser os funcionários públicos os mais prejudicados (para além dos dois subsídios, houve antes disso uma ‘subtração’ de uma percentagem do vencimento levada a cabo pelo Pinto de Sousa, lembram-se? ) e esquece as fundações e as famosas PPP. Estará o país a entrar na sua quarta fase? Pelo menos, saiu à rua sob o simpático slogan ‘Que se lixe a troika – Queremos a nossa vida de volta!’. Fez bem: gritar alivia e, além disso, o que está a suceder é imperdoável. Mas convinha esclarecer dois pontos sobre o slogan. Para começar, a ‘troika’ não aterrou em Lisboa por sua vontade e num dia qualquer. Foi um governo PS quem a chamou, depois de ter falido o país. Sem o dinheiro da ‘troika’, esse mesmo povo não teria um cêntimo no bolso. Restava-lhe a saída do euro, a adopção de uma nova moeda – e de uma nova vida. Que vida? Não, com certeza, a vida de fantasia que o euro permitiu – a governos, empresas, famílias, etc. Chegados a este ponto, para quem nos podemos voltar? Para o Presidente da República, responderão alguns. Será? Não foi esse mesmo Presidente da República que, com a história da boa e da má moeda, colocou no poder o Pinto de Sousa? E, mesmo que o fizesse, o que viria aí? Novas eleições para levar ao poder quem enfiou o país no buraco e não tem uma única ideia válida para tirá-lo de lá? Um governo de ‘salvação nacional’, tipo bacalhau com todos, onde os partidos da esquerda e da direita darão as mãos em cânticos patrióticos? Tudo o que o Presidente tinha a dizer, já o disse Ferreira Leite: as últimas medidas anunciadas por Passos são um desastre para a economia. Arranjem outras. Ponto final. Se Passos tiver juízo e quiser salvar a cabeça, agirá em conformidade. Repito o que tenho dito aqui algumas vezes. Somos nós os culpados da situação. Quem é que dá sempre um ‘jeitinho’? Que outros povos valorizam os espertos e não os sábios ou os justos ? Conhecem outro povo que aplaude o vencedor do Big Brother, mas não sabe o nome dum escritor? Que respeito merece um povo que reelege uma Fátima Felgueiras, um Isaltino Morais, um Valentim Loureiro e outros? Qual o povo que admira o pobre que fica rico da noite para o dia? Conhecem outro que ria quando consegue sacar a Tv Cabo do vizinho? O que esperar de um povo que não sabe o que é pontualidade? Quem atira o lixo para a rua e depois reclama pela sujeira? O que esperar de um povo que não valoriza a leitura? Quem finge dormir quando um idoso ou um deficiente entra no autocarro Pensem nisso, o problema não são os políticos, são os Portugueses! Os políticos não se elegeram, fomos nós que os elegemos. Nova Aliança, 20 / Setembro / 2012

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