13.7.06

Futebol e Parlamento, Portugueses do Hino e Fecho de Maternidades

1. Se os deputados da Nação serviram de exemplo, então o país deve ter parado anteontem, dia 21 de Junho. Esquecidos já do “mau exemplo” que ofereceram ao país no dia em que faltou quórum lá no sítio para votar umas leis, atiraram para longe as promessas de “repensar” a imagem que os portugueses têm dos seus políticos. Aquelas cabeças não fizeram por menos: no dia do jogo entre Portugal e o México, os senhores deputados não apareceram à hora marcada para o trabalho habitual. Sem hesitações, decidiram antecipar os trabalhos e adiar as comissões parlamentares para horas mais apropriadas. Depois das benesses a vários títulos ( o caso das multas perdoadas é significativo ), este é mais um exemplo de seriedade e rigor que o país regista e que deve ter seguido por qualquer profissional. Embora escreva alguns dias antes, espero que os juízes tenham estado fora dos tribunais, os médicos fora dos hospitais, os professores fora das escolas, os operários fora das fábricas e os trabalhadores dos serviços fora dos respectivos locais de trabalho. Espero ainda que os loucos tenham saído dos hospitais e os criminosos das prisões.
Tal situação não foi bem pensada. Havia uma solução mista que certamente agradaria a muitos e que ia ao encontro dos que têm uma grande capacidade de trabalho e conseguem fazer várias coisas ao mesmo tempo. Bastaria que se montasse um ecrã gigante em plena Assembleia da República. O próprio espaço físico adaptar-se-ia à famosa “onda” mexicana. O senhor presidente da Assembleia trataria de servir as imperiais e se o primeiro-ministro estivesse presente, encarregar-se-ia dos tremoços e dos amendoins. Digam lá que não era bem pensado…

2. Quando ainda está fresca na memória de todos a história das bandeiras nacionais com publicidade à mistura, seja a bancos ou a estabelecimentos de electrodomésticos, soube-se que foi negada a nacionalidade portuguesa a uma mulher indiana, casada com um português e com filhos nascidos e educados em Portugal.
O facto de falar fluentemente a nossa língua e de viver há mais de dez anos em Portugal foram insuficientes para que o Tribunal da Relação de Lisboa considerasse a existência de uma ligação efectiva à nossa comunidade. Falhas? A cidadã não demonstrou conhecimentos de História de Portugal, não foi capaz de nomear figuras públicas da cultura portuguesa e mostrou ignorar o hino nacional.
Assim de repente fico a pensar se estes parâmetros levariam uma grande percentagem de portugueses a conseguir a nacionalidade lusa. Parece-me que não. E não posso deixar de lembrar a prontidão com que se atribui a nacionalidade em alguns casos ( como o do futebolista Deco ) que ignorarão os vultos da cultura, as batalhas mais célebres e que do hino apenas se lembram das “armas”. Não falando já da sua ligação matrimonial nem nos descendentes portugueses, dez anos é realmente muito tempo. Tempo suficiente para conseguir a nacionalidade portuguesa. Se a senhora gostasse de futebol e colocasse uma bandeira na janela, isso convenceria o Tribunal?

3. Em Elvas, no primeiro dia do encerramento dos respectivos serviços de obstetrícia, uma mulher enviada para Portalegre perdeu o filho. A utente em causa foi transportada durante cinquenta quilómetros numa ambulância sem quaisquer condições e não foi acompanhada por um profissional devidamente habilitado para lidar com a situação. Num país decente e sério o primeiro-ministro e o ministro da pasta já se teriam demitido e aguardariam calmamente o processo judicial. Assim…


Nova Aliança, 10 / 06 / 2006

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