15.11.06

Scuts, Rivoli e TLEBS

19 de Outubro – O Governo vai colocar portagens nas scuts.Em 11 de Dezembro de 2004, numa das poucas questões respondidas aos jornalistas sobre a região, Sócrates disse que "caso seja eleito – primeiro-ministro, como veio a ser - , as auto-estradas sem custo para o utilizador, SCUT's, vão permanecer sem custos". Na óptica do candidato, "não faz qualquer sentido estar a colocar portagens neste tipo de vias". O ex-ministro do Ambiente recordou ainda que estas vias foram "obras socialistas" e se nessa altura foram projectadas para não terem portagens "não seria agora, que pela mão do PS, as portagens se tornassem realidade para os utilizadores".» Foi apenas mais um momento “húngaro” de Sócrates.

20 de Outubro – O senhor Amaral Tomás, dos Assuntos Fiscais, veio "garantir" que a retirada de benefícios fiscais a deficientes só vai afectar uns cento e tal. Parece que isto se mede assim, às dezenas ou às centenas.

21 de Outubro – A propósito do Rivoli apetece perguntar se subsídio à cultura" e "cultura" são sinónimos? Lendo-se o que alguns críticos do liberalismo escrevem parece que sim. Ao que parece quem é contra o "subsídio à cultura" só pode ser contra a "cultura". Ora esta tese só é defensável se se pensar que "cultura e "subsídio à cultura" são a mesma coisa. Esta identidade entre a "cultura" e "subsídio à cultura" é curiosa sobretudo quando vinda de quem acusa os liberais de economicismo.a definição de cultura defendida por determinados artistas foi concebida para que se torne impossível qualquer avaliação dos resultados. A cultura é definida como aquilo que os artistas fazem, aquilo que os artistas consideram que tem valor, algo de intangível que não se pode pôr em causa e algo de que o grande público não gosta. Desta forma, o que um artista fizer está sempre bem porque é cultura, só os artistas é que podem criticar a cultura porque só eles a entendem e se o público gosta já não é cultura, é enlatado. Desta forma, os artistas, façam o que fizerem, são inimputáveis.

22 de Outubro - Um dos critérios definidos pelo Governo para introduzir portagens nas SCUT prende-se com o facto de os automobilistas disporem de uma alternativa que permita fazer o mesmo percurso num tempo máximo de até 1,3 vezes. Quer o Governo dizer com isto que o tempo a levar numa alternativa pode ir até mais 130% do que numa SCUT, e não 30%. Questionada pelo JN sobre a questão dos 1,3 vezes e dos 30%, e garantindo que tudo foi devidamente explicado na conferência de imprensa, fonte oficial do Ministério das Obras Públicas frisou que o acréscimo será de até 130% (e não 30%). Por exemplo, se na SCUT que nos leva até Viana do Castelo demoramos 60 minutos, quer com isto dizer que na alternativa poderemos demorar até 138 minutos, ou seja, até 2 horas e 18 minutos. Isto é, 60 minutos a multiplicar por 2,3 vezes. O documento disponibilizado pelo Ministério aos jornalistas refere "Foi assumido um índice de referência de 1,3 vezes (...)".

24 de Outubro - Se bem percebi o estado português propõe-se dar seringas aos detidos mas não só não cria salas de chuto - porque isso seria tornar lícito o consumo de drogas nas cadeias - como também não fornece a droga. Coloca-se então a questão: fornece as seringas para quê? Será para estimular o tráfico nas cadeias? E se não se define um local onde os detidos de podem injectar – dado que isso seria tornar lícito o consumo de drogas nas cadeias - quer isso dizer que alguns detidos vão andar a passear com seringas que injectam em quem e nos locais que lhes apetecer?

1 de Novembro – Dez mil escoceses meteram-se em vários aviões e vieram a Lisboa conhecer a Catedral e ver jogar o Benfica. Houve tempo até para homenagear o malogrado Féher. Pelo meio não destruíram nenhuma estação de serviço, não provocaram desacatos na Baixa, nem trouxeram nenhum guarda Abel. Por uma vez, ficaram muito bem as camisolas verdes e brancas na Luz.

3 de Novembro – Estou ainda a tentar perceber a "Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário" ( a já célebre TLEBS ). Questiono-me, desde logo, pela oportunidade e utilidade do exercício. Vejamos alguns exemplos, encontrados por Vasco Graça Moura:

«Entre outros, há pronomes indefinidos que dão agora pelos nomes sorumbáticos de “quantificadores indefinidos”, “quantificadores universais” e “quantificadores relativos”. Nos advérbios, encontramos coisas alucinantes como “advérbios disjuntos avaliativos”, “advérbios disjuntos modais”, “advérbios disjuntos reforçadores da verdade da asserção” e “advérbios disjuntos restritivos da verdade da asserção”. O sujeito indefinido passa a ser o luminoso “sujeito nulo expletivo”. O “aposto ou continuado” chama-se bombasticamente “modificador do nome apositivo”, podendo ser do tipo “nominal”, “adjectival”, “proposicional” ou “frásico”...»

Não sei se reparam no barroco das expressões, na complexidade dos arranjos vocabulares e na fabulosa orgia sonora. Parece que alguém anda a tomar umas substâncias estranhas…

Nova Aliança, 10 / 11 / 2006

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