13.2.09

O que aí vem...

30 de Dezembro – "Se isto fosse um país a sério..." É das expressões que mais tenho ouvido. Em cafés, entre colegas, entre pessoas das mais variadas profissões. Deixa no ar a ideia de que claramente não é. De que não há justiça, de que não há consequências perante as acções. Que se vive num regime de impunidade, onde o crime de facto compensa. É um Portugal no condicional, à condição de nação do futuro do pretérito. Coisa inacabada e sem remédio. O "se isto fosse um país a sério" dá para tudo, para todas as ocasiões. Para criticar a justiça (ou falta dela) no futebol, nos negócios pouco claros, nos processos judiciais por crimes económicos, etc, etc…

Oiço esta expressão da boca de quem, por norma, vive do seu trabalho, e assiste à não efectivação penal dos crimes vindos a público. Há como que uma sensação de frustração social, que revela a tristeza pela ignorância de saber roubar, de só saber trabalhar.


31 de Dezembro - Este ano não vale a pena fazer a tradicional revista do ano. A cada dia que passa, vemos coisas de que não estávamos à espera. Num dia nacionaliza-se um banco, no outro banqueiros prósperos vão de corda ao pescoço às finanças, mais à frente a banca privada recorre a avais do Estado... Políticos de direita e de esquerda citam Keynes ao pequeno-almoço e choram por mais regulação ao deitar. É um tempo em que apenas se espera chegar vivo ao dia seguinte e pouco mais. É por isso que olhar para trás pouco conta.


1 de Janeiro – O que vai acontecer em 2009:
Uma revolta juvenil algures na Europa será interpretada por grandes intelectuais como o rastilho que levará a uma revolta generalizada das classes oprimidas.
Os alunos portugueses continuarão a ter sucesso.
José Sócrates vai anunciar um novo grande projecto industrial que tirará a economia portuguesa da crise.
A TVI descobrirá que esse grande projecto é uma cópia do que tinha sido apresentado há três anos.
José Sócrates anunciará um novo plano de combate à crise.
Os Estados Unidos continurão a tratar os combatentes inimigos à margem da Constituição Americana e da Convenção de Genebra.
A culpa continuará a ser de Bush.
O campeonato de futebol será ganho por um dos três “grandes”.
A União Europeia continuará a sua política unilateralista acobardando-se nas missões militares internacionais.
O Tibete continuará tão esquecido como esteve nos últimos 4 meses de 2008.
Serão anunciados estudos científicos que prevêem grandes catástrofes daqui a 50 ou 100 anos.
A Ministra da Educação continuará a culpar os professores de tudo o que de mal acontece nas escolas.
A energia das ondas será anunciada como a energia do futuro.
O carro eléctrico será anunciado como o carro do futuro.
Vai emergir um novo líder de esquerda que representará a esperança num futuro melhor.
O fracasso dos planos de combate à crise provará a necessidade de mais planos.
A Islândia sairá da crise antes de Portugal.
Haverá uma onda de criminalidade no Verão.
Os candidatos autárquicos começarão a frequentar os cafés e a “misturar-se” com o povo.
O Procurador-Geral da República considerará que determinado tipo de crime é prioritário.
Maria José Morgado será nomeada para um caso importante.

Nova Aliança, 9 /1 / 2009

1 comentário:

Anónimo disse...

Vou referir-me ao aumento da criminalidade que referiu, e muito bem e que não merece da parte dos nossos governantes a atenção que merecia.

Os partidos de esquerda e os que se dizem de esquerda, culpam o aumento da criminalidade do da pobreza, mas isso não justifica tudo nem serve para lhe conceder impunidade. Há 50 anos os portugueses eram bem mais pobres do que hoje e a criminalidade violenta era praticamente inexistente entre nós, em particular ao assalto com extrema violência sobre as vítimas. Se mais pobreza implicasse mais criminalidade, então não teria sido assim. Se a criminalidade não é ainda maior nas estatísticas em Portugal é porque muitas vítimas já nem se queixam porque já nem esperam ver os criminosos punidos, mesmo que seja apanhados.

Já há algum tempo um Mayor de Nova Iorque decidiu que não se deveria menosprezar a pequena criminalidade nem os pequenos delitos, porque a sensação de impunidade se instala nos jovens delinquentes, estes vão facilmente progredindo para infracções cada vez mais graves até que a situação se torna incontrolável. Implementou então a célebre "Tolerância Zero" que, como se sabe, deu óptimos resultados, reduzindo num só ano a criminalidade em Nova Iorque em cerca de metade. Até os comboios que andavam todos sujos com "grafittis" andam hoje impecavelmente limpos.

A actual política portuguesa de manter na rua os criminosos, mesmo depois de várias reincidências, faz (como dizia o Mayor) crescer a sensação de impunidade: o criminoso continua com as suas actividades criminais, vai subindo o nível dos seus delitos e serve de exemplo para que outros delinquentes mais jovens sigam o mesmo caminho.

Esta política errada está a atrair ao nosso país a criminalidade europeia, que se apercebe dos nossos cada vez mais "brandos costumes". Não podemos tolerar que isto aconteça, na esperança de que os criminosos sejam um dia capturados noutro qualquer país da UE e que aí cumpram pena.

Dificultar a obtenção de uma licença de porte de arma não tem qualquer efeito sobre os criminosos violentos. Quem acredita que eles tiram uma licença de porte de arma e a compram num armeiro legal? Não! Compram-na nos mercados do submundo do crime e muitas delas são até superiores às das polícias. O tempo em que os delinquentes faziam sobretudo uso de armas furtadas já lá vai, por isso dificultar a obtenção de uma arma legal serve para o criminoso se sentir mais seguro e impede a autodefesa da vítima, que pode sentir arrombarem-lhe a porta mas nada poder fazer porque não tem com que se defenda. Há um ditado americano que diz: "mais vale ter uma arma e nunca precisar dela do precisar de uma e não a ter".

Os partidos de esquerda (não só em Portugal) parece terem ficado traumatizados pelos regimes totalitários, pois desculpabilizam até à exaustão a criminalidade com as dificuldade económicas e com isso estão a desorientar o seu eleitorado natural: os mais pobres que são também os mais desprotegidos face à criminalidade. Têm por isso muita responsabilidade relativamente ao crescimento da extrema direita a nível internacional, que tem um discurso bem mais sensato sobre o combate crime. A excepção parece ser Barack Obama que prometeu ser implacável no combate ao crime e defender ao mesmo tempo os mais desfavorecidos. Não me parece incompatível.

Zé da Burra o Alentejano