15.4.09

O 'Carnaval' de Torres e os números da Caixa

21 de Fevereiro – Este Carnaval ofereceu a todos uma manancial de temas formidável. Paredes de Coura, Torres Vedras, a feira do livro no Porto e a sentença do suborno foram exemplos de algo que pensávamos estar bem afastado das nossas mentes. Infelizmente, não estão.

No Minho, os professores foram obrigados a marchar num desfile carnavalesco por uma DREN que, afinal, já depois de eles terem marchado de luto, veio dizer que não obrigara a nada.

O episódio de Torres Vedras, na verdade, não merece grande gasto de energia, porque proibir que apareça um monitor do computador Magalhães, e logo esse, com a primeira página da pesquisa «Google=mulheres» é coisa de gente demente. O que aprendemos do episódio foi que: a) em Portugal, o Ministério Público tem poderes de censura; b) o Ministério Público pode censurar uma obra sem a ver; c)o Ministério Público pode censurar uma obra sem que o autor se possa defender; d) o Ministério Público pode censurar uma obra sem que a decisão tenha que ser aprovada por um juiz.
Portanto, rimo-nos da história, atribuímo-la ao excesso de zelo de uma senhora de província – já lhe ouvi chamar Dona Pombinha, em memória de uma conhecida figura de telenovela - estacionada no tribunal local. Mas há a queixa, a miserável queixa, a queixa atenta, a denúncia por causa da moral, a queixa virtuosa que vai parar ao tribunal por causa das imagens e por causa do Magalhães a desfilar entre corpos cheios de frio, expostos à «cupidez dos foliões». Portanto, como gente decente, desviamos o olhar e rimo-nos como de costume, dizendo que não tem importância. Não tem. Hoje, é isso que não tem importância. Amanhã, a Justiça, a Justiça que tem tempo para estas minudências, manda encerrar o bom humor e põe a gargantilha depois de alguém fazer queixa por causa de sabe-se lá o quê. E nós, o que faremos?

E o suborno? – o leitor estará a pensar que história será esta que rivaliza em graça com as anteriores – eu explico: trata-se do caso em que um tribunal veio suavizar um caso de suborno, aplicando-lhe uma multa de cinco mil euros e chamando-lhe, reparem bem: “corrupção activa para acto ilícito”. E onde o facto de o réu ter subido na vida “a pulso” valeu mais do que ter dito, explicitamente, em conversa gravada: “Nisto não sou virgem. (…) Conforme faço uma escriturazinha, rapo dois mil euros aqui, 10 mil acolá. (…) Ponho isto num cofre para a gente ir fazendo umas ratices”. Isto sim, é pornografia. Mas dá mais nas vistas da nossa incultura um sexo de mulher num quadro de Courbet apreendido na feira do Porto. Até porque, vá-se lá perceber se o original da obra exposto no Museu d'Orsay em Paris não é, afinal, um instrumento pornográfico ao serviço de uma nova função cultural que os franceses pensaram para o equipamento cultural. Ou, o que dizer então da série recentemente estreada na televisão, que retrata a vida privada de Salazar? Uma sugestão ( trocista, atenção!!!! ): apreende-se o filme, encerra-se como medida cautelar a estação e coloca-se sob termo de identidade e residência os incitadores da devassa.
Este é ainda uma parte do País que se herdou, atrasado e sobretudo sem estrutura alguma de formação e informação. Não se poderia ministrar por aí uns cursos de cultura geral, gratuitos a quem toma essas decisões?


25 de Fevereiro – Se os números anunciados estão correctos, foram registados nos últimos tempos as seguintes entradas e aumentos de capital do Estado na Caixa:

Dezembro de 2007 – 150 milhões; Agosto de 2008 – 400 milhões; Outubro de 2008 – 390 milhões (venda de participações ao Estado); Dezembro de 2008 – 1000 milhões

Fazendo bem as contas, de Dezembro de 2007 até Março de 2009, o contribuinte (eu) enfiou 1940 milhões de euros na Caixa Geral de Depósitos. Recebeu 340 milhões. Faria de Oliveira disse hoje que ia entregar mais 300 milhões. Simpático. É fazer as contas. Já só me está a dever 1300 milhões de euros. 1300 milhões de euros é a dívida da Caixa Geral de Depósitos ao contribuinte português só no último ano e meio. Quase o dobro do buraco total do BPN. Mas é só o senhor Manuel Dias Loureiro quem é chamado a uma comissão parlamentar. Pergunto, não seria melhor para a economia nacionalizar a Caixa?

Nova Aliança, 5 / Março / 2009

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