15.4.09

O cartão da Zon e o 'sal' da Assembleia da República

10 de Março – Como cliente da Zon TV Cabo, um familiar meu recebeu há dias um cartão que lhe concedia uma série de entradas gratuitas nas salas de cinema da Zon Lusomundo. Como não entrava num cinema há anos, pousou o cartão sem tencionar utilizá-lo. Logo a seguir, percebeu que, de qualquer forma, não o poderia, já que o sr. Paulo Branco se queixou à Autoridade da Concorrência (AdC), a qual deu provimento à queixa e suspendeu a iniciativa.

O argumento da AdC evoca o "interesse dos consumidores", naturalmente demasiado obtusos para o descortinarem sozinhos. Sozinho, o consumidor médio acharia melhor ver umas fitas à borla do que pagar cinco ou seis euros por cada uma ou, simplesmente, não sair de casa. Valha-lhe Deus. Por sorte, a AdC tem uma concepção da concorrência muito semelhante à do sr. Paulo Branco, um empreendedor incapaz de manter uma "roulotte" de bifanas sem intervenção do Estado. Enquanto produtor de cinema, são lendárias as capacidades do homem em arrancar dinheiro dos contribuintes a fim de financiar maravilhas de que os contribuintes fogem a sete pés. Enquanto distribuidor, a coisa tem corrido pior ao sr. Branco. As salas que abriu em Santarém faliram. Os cinemas Alvaláxia faliram. O "multiplex" no Freeport de Alcochete faliu. E a prosperidade dos espaços que o visionário vai aguentando aqui e ali talvez se meça pelo desespero das suas reclamações.

Não é que as aptidões reivindicativas do sr. Branco tenham sumido, já que em 2007 ele açambarcou todos os subsídios do Instituto do Cinema e do Audiovisual para apoio da exibição comercial. A maçada é que, na ausência de público, que irresponsavelmente prefere os produtos da Lusomundo e de outros distribuidores, nem os subsídios chegam para que as salas do venerável empresário se sustentem.

É por isso que a decisão da AdC, embora saudável, não é suficiente. Além de forçar os contribuintes a pagar a produção e a exibição dos filmes que o sr. Branco produz ou escolhe, urge forçar os contribuintes a vê-los nos lugares que o sr. Branco disponibiliza para o efeito. E não fica caro: a empresa do sr. Branco até oferece aos clientes um inovador cartão com sessões grátis, de que a AdC não discorda. Só falta convencer os consumidores. Mesmo que a mal, é para o seu bem.


12 de Março - Disse, em tempos, um humorista que os saltos altos tinham sido inventados por uma mulher que já estava farta de ser beijada na testa…
Os sapatos com salto tipo aguilhão, aguçam os olhares da sugestão. Conferem o andar certo para se andar para o sítio certo que as mulheres e homens procuram sempre. Dir-se-ia que é a Natureza em evolução nos costumes. Os saltos altos, prometem altos voos, porque conferem beleza estética ao andar feminino, já de si mesmo, em certas ocasiões, um compasso de espera acelerado.

Vem isto a propósito da preocupação dos nossos distintos deputados com a normalização do sal no pão. Eu proponho que o mesmo espírito seja aplicado aos saltos dos sapatos. Das mulheres, claro que homem algum estaria para levar a vida em cima disto (é certo que há excepções mas essas só confirmam a regra). Repararão Vossas Excelências que estes saltos desgraçam os pés e os ossinhos de quem os usar. Mais, escavacam os tapetes, o soalho e os ouvidos dos vizinhos. De igual modo é de duvidar que se consiga conduzir com eles. Por outro lado e sem entrarmos em grandes análises que nos podem levar para outros assuntos, podeis reparar que os saltinhos bem usados podem arrancar pedacinhos de pele e até olhinhos a um ser mais incauto que seja agredido pela utilizadora dos ditos saltos. São milhares quando não milhões de mulheres que prejudicam a sua saúde e põem em risco os outros por se obstinarem em usar estes saltos. Direis que há outros sapatos à escolha. Pois há, senhores deputados. Mas as mulheres pouco informadas preferem estes. É necessário que Vós acauteleis o pouco discernimentos das fracas cabeças femininas. Multas para os fabricantes e vendedores destes sapatos, sessões de terapia, multas para as contumazes utilizadoras e profundos debates na AR sobre este problema impõem-se. A bem da Nação, viva a Assembleia da República transformada na grande zeladora da nossa saúde.

Nova Aliança, 19 / Março / 2009

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