29.7.10

José Saramago, o encerramento de escolas e o ministro que tudo falhou

19 de Junho - José Saramago nunca foi homem de consensos e desde muito cedo escolheu um caminho de combate. Combateu por um tipo de sociedade em que acreditava e combateu contra a sua própria circunstância, de uma pobreza que à partida o destinaria a uma existência nos antípodas daquela que teve.
Nesse sentido, aliás, toda a sua vida tal qual a conhecemos foi a de um homem literalmente levantado do chão. Combateu a fome e lutou pelo conhecimento do mesmo modo que se barricou contra o fascismo e a censura. Combateu a mesquinhez de um certo tipo de exercício do poder como aquele que atacou o seu ‘Evangelho’. Nunca se calou, nem mesmo perante o PCP, com quem foi gerindo uma relação emocional mas cada vez mais discreta e distanciada.
Nesta hora, há quem prefira destacar a obra para não ter de falar de alguns aspectos da biografia. Outros, puxarão pela biografia para subalternizar a obra. Há mesmo quem não destaque nem uma coisa nem outra porque não gostava de Saramago ou lhe era indiferente. Não se discute nenhuma das opções, todas terão as suas razões. Para Portugal, porém, quer se queira quer não, Saramago foi um grande escritor que engrandeceu o País e um homem que nunca abdicou da coragem e da frontalidade. E como ele já não ficam muitos!
Saramago sempre exigiu (e quase sempre conseguiu) que o poder político o tratasse com veneração. A meu ver, ele não foi vítima de censura nem de qualquer perseguição. Ou então também falaríamos de censura quando o escritor eliminou as dedicatórias que fizera a Isabel Nóbrega .
Ao saber da morte de Saramago, o Presidente da República emitiu uma nota a lamentar o sucedido, e enviou as condolências à família. Cumpriu o que se exigia mas podia e devia ter feito mais, pois Saramago era uma personalidade relevante do país.
Morreu um português com um reconhecimento importante e como tal a Presidência da República devia marcar uma presença que não se limitasse ao Chefe da Casa Civil.
23 de Junho - Até se pode compreender o encerramento de escolas com menos de meia dúzia de estudantes, mas esta medida é um atestado de óbito a aldeias e pequenas vilas, a comunidades com história. Professores e funcionários arriscam-se a ficar com horários zero e no quadro de mobilidade, vindo a perder uma parcela do rendimento. Os docentes serão obrigados a sair destas aldeias e desde a Primeira República que eles se encontravam entre as principais referências cívicas das localidades. O critério nem é económico, porque deslocar alunos e professores é mais caro. Parece que há mesmo a intenção do Estado de acabar com o mundo rural. Aliás, no que diz respeito a estas pequenas comunidades, as únicas coisas construtivas a que este primeiro-ministro está ligado são os mamarrachos que assinou e que estão espalhados pelo concelho da Guarda. Neste 10 de Junho que agora passou convém lembrar que as aldeias de todo o País também são Portugal.

26 de Junho - O Ministro das Finanças garantiu que Portugal engrenou numa "trajetória de forte confiança" que levará o país a ser bem sucedido na "obtenção de um défice não superior a 7,3% do PIB no final de 2010".
Trata-se do mesmo Ministro que, para 2009:
a)previu um défice de de 2,2% e o défice foi de 9,3%
b) previu um aumento do consumo público de 0,2% e o consumo público aumentou 2,6%.
c) previu um acréscimo de investimento de 1,5% e o investimento decresceu -11,8%.
d) previu um acréscimo da procura interna dos 0,9% e e a procura interna diminuiu -2,9%
e) previu um acréscimo das exportações de 1,2% e elas decresceram -12%
f) previu um aumento de emprego de 0,4% e o emprego diminuiu -2,9%
g) previu uma taxa de desemprego de 7,6% e ela foi de 9,5%.
Nestas circunstâncias, é mesmo preciso grande lata para garantir o que quer que seja. Não garantiu ele também já este ano que não havia aumento de impostos? E que haveria cortes drásticos nos grandes investimentos? Que credibilidade, pois, que confiança, tais garantias podem merecer?...

Nova Aliança, 24 / 6 / 2010

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