29.7.10

Quem governa Portugal e o regresso da 'sinistra'

25 de Junho - Henrique Granadeiro, essa quase certeza do panorama empresarial português, não tem dúvidas e proclamou do alto do seu imenso poder / saber: "O País é governado por uma coligação de procuradores e jornalistas." Os anões do costume logo ergueram coro a pedir, na gíria bélica a que este PS se habituou, que alguém venha "quebrar a espinha" a uns e outros em defesa da Pátria. Percebe-se o golpe de inteligência fulgurante de uns e outros: o País está perto da falência mas a culpa é dos malditos procuradores e jornalistas. Portugal não tem exportações competitivas nos mercados internacionais e a culpa é daquela dupla perversa. Portugal tem uma fractura social cada vez maior, feita de pensões miseráveis, de gente que é mandada morrer em casa sem assistência dos hospitais ou esquecida pelos burocratas (a maior parte malta do partido), e a culpa é dos procuradores e dos jornais. Portugal tem um desemprego galopante e de longa duração mas, lá está, o rigor lógico-dedutivo da rapaziada vai dar aos culpados óbvios: jornalistas e procuradores. Portugal especializou-se em obras públicas faraónicas e inúteis (estádios do Euro’2004, por exemplo) e quem decidiu e executou as obras foram... jornalistas e procuradores. O BPN e o BPP, óbvio ululante, foram casos criados também por jornalistas e procuradores. O destino da Selecção está traçado e a culpa será dos jornalistas e procuradores. Já sabem…
28 de Junho - Maria de Lurdes Rodrigues, ex-ministra da Educação, concedeu uma entrevista ao ‘Expresso’ onde destila um desprezo pelos professores que seria impensável em qualquer outra pasta. Alguém imagina um qualquer ministro com particular asco pelo seu ‘povo’? E, no entanto, a senhora Rodrigues não tem travão: os professores, para ela, recusam a avaliação porque preferem ser todos iguais.
Que existam milhares de docentes que sejam o contrário desta caricatura e que tenha sido a mediocridade do seu modelo a despertar a ira da classe, eis duas evidências que não perturbam a senhora. Por isso, espanta que Sócrates, no lançamento de um livro da ex-ministra, tenha apresentado a senhora Rodrigues como uma mulher ‘sem ressentimentos’ e, mais, um exemplo de ‘coragem, grandeza e superioridade’. Sobre os ‘ressentimentos’, aplaude-se o momento de humor. É sempre agradável ouvir piadas neste momento de depressão colectiva. Mas não se aplaude a indelicadeza para com a actual ministra, que passou os primeiros tempos a rasgar as medidas da sua antecessora. Será a dra. Isabel Alçada um exemplo de cobardia, pequenez e inferioridade? E o que dirá Sócrates da nova ministra?
1 de Julho – Lê-se nos jornais: ‘Segurança nos comboios da Linha de Cascais vai ser reforçada’. Mas reforçada porquê, pergunto eu? Como é doutrina que não existem problemas de insegurança, que falar de assaltos é populismo, que jamais existiram arrastões em Portugal não se percebe a que ocorrências e tipo de situações se referem estas pessoas. Falam de quê quando dizem que a segurança vai ser reforçada?
3 de Julho – Preparem-se: as autoridades espanholas anunciaram recentemente que a vida da central nuclear de Almaraz II vai ser prolongada por mais dez anos. A central de Almaraz II está localizada em Cáceres e no seu processo de refrigeração é usada água de um afluente do Tejo. Outra central espanhola com impacto no Tejo é Guadalajara-Trillo, cuja vida útil foi definida em 40 anos aquando da sua inauguração, em 1988, e que neste momento se dá como adquirido que se manterá no activo pelo menos durante 55 anos. Quanto às centrais de Vandellòs II e Garoña, que deviam encerrar em 2010 e 2011, também viram o seu tempo de actividade prolongado.
Até aqui nada de novo: a Espanha acompanha uma tendência generalizada para prolongar a vida das centrais nucleares. A crise e as dificuldades políticas em fazer aprovar novas centrais levaram a que seja muito mais fácil hoje decidir o prolongamento da vida das centrais nucleares do que optar pela construção de novas unidades. Os eternos problemas com os países produtores de petróleo, o pânico criado em torno do aquecimento global e o desempenho relativamente seguro das centrais em funcionamento fizeram o resto: o nuclear passou de sinónimo de apocalipse a energia limpa e segura.

Nova Aliança, 8 / 7 / 2010

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