8.4.11

Isabel Alçada, o BPN e a ASAE

10 de Março – Há uns tempos, Isabel Alçada condenou que se manipulassem meninos e meninas para fins de propaganda e difusão de falsidades. Julguei que a senhora decidira trocar o cargo pela frontalidade e denunciar um estilo que, não sendo inédito, marcou os últimos tempos da Educação em Portugal. Durante uns instantes, dei por mim a admirar intensamente a coragem da senhora e cheguei mesmo a esboçar um poema em seu louvor. Depois li o resto da notícia e os versos foram para o lixo.
Afinal, a senhora apenas discorda do uso de alunos num protesto contra a redução das subvenções às escolas privadas ditas com contrato de associação. Não se opõe a que os mesmos alunos sejam, por exemplo, aparafusados diante do Magalhães e ensinados a jurar os méritos da geringonça na presença do primeiro-ministro e das câmaras televisivas. Quando o Governo se serve dos fedelhos, trata-se de divulgação de "boas práticas" ( reparem na expressão distinta ). Quando são os pais a ‘servirem-se’, trata-se de vil propaganda.
Sempre empenhado em crescer, porque as clientelas o exigem e porque é esse o seu desígnio, o Estado decide as escolas em que as criancinhas devem "estudar", as manifestações em que as criancinhas devem participar, os alimentos que as criancinhas devem comer, as horas a que as criancinhas devem dormir e os modelos gerais de comportamento de acordo com os quais as criancinhas devem ser criadas. As criancinhas, em suma, pertencem ao Estado e não às famílias que, admita-se, ao longo de décadas assistiram indiferentes ou entusiasmadas ao sequestro e, em qualquer dos casos, pagaram-no. Aí está a factura.

13 de Março – É bom reflectir para não esquecer. A burla cometida no BPN não tem precedentes na história de Portugal. O montante do desvio atribuído a Oliveira e Costa, Luís Caprichoso, Francisco Sanches e Vaz Mascarenhas é algo de tão elevado, que só a sua comparação com coisas palpáveis nos pode dar uma ideia da sua grandeza.
Com 9.710.539.940,09 € (NOVE MIL SETECENTOS E DEZ MILHÕES DE EUROS…..) poderíamos:
Comprar 48 aviões Airbus A380 (o maior avião comercial do mundo).
Comprar 16 plantéis de futebol iguais ao do Real Madrid.
Construir 7 TGV de Lisboa a Gaia.
Construir 5 pontes para travessia do Tejo.
Construir 3 aeroportos como o de Alcochete.
Para transportar os 9,7 MIL MILHÕES DE EUROS seriam necessárias 4.850 carrinhas de transporte de valores. Assim, talvez já se perceba melhor o que está em causa.
Distribuído pelos 10 milhões de portugueses, caberia a cada um cerca de 971 € …

14 de Março – Em Nisa, uma visita da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) à empresa Louro e Louro – a última queijaria a funcionar em Nisa – deixou o proprietário às portas de um enfarte. "Somos um casal de 72 e 73 anos, que trabalha desde os dez anos, sete dias por semana. Garantimos trabalho nesta região, para além de garantirmos o escoamento do leite de pequenos produtores. Mas há algum tempo que nos sentimos perseguidos", lamenta Joaquim Louro. De acordo com o produtor, a ASAE "implicou" há três meses com as ervas que existem nas imediações da empresa. "Sou contra os químicos, sempre fui, se for preciso agarro nas ervas e como-as para provar que não fazem qualquer mal. Mas a ASAE quer que ponha herbicida, o que realmente faz mal", contesta o homem. No início do mês, os inspectores voltaram à fabrica para verificar se a ordem já tinha sido cumprida. "É a falta de senso que manda neste País, onde fazem leis sem perceber do que estão a tratar, e depois outros aplicam-nas sem perceber nada do andam a fazer", diz. E tem toda a razão, acrescento eu. Querem saber porquê? Aí vão dois exemplos: há três anos, a ASAE enverrou uma câmara da fábrica por haver queijos com bolor. Lamentavelmente, os ‘inspectores’ desconheciam que era uma fase normal da produção. Mais recentemente, há três meses, a empresa recebeu duas coimas. Uma delas era motivada pela “existência de cadáveres na fábrica”. Tratava-se de uma mosca.

Nova Aliança, 19 / Março / 2011

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