10.2.10

O exame para estrangeiros, o mastro de Paredes e a praia de Madrid

3 de Janeiro – De um modo geral, a cantiga de que os portugueses não valorizam o que têm de bom é uma desculpa para não se criticar o que temos de péssimo. Veja-se o sucedido com os exames de português para imigrantes em que, afinal, uma considerável parte não era realizada pelos candidatos à aquisição de nacionalidade, mas por familiares, amigos ou prestadores de serviços contratados. O SEF reparou na fraude e deteve noventa e tal sujeitos. Incompreensivelmente, não houve autoridade que reparasse no que de facto interessa: o pormenor de que existe por aí gente com um domínio mínimo da nossa língua. Prender esses indivíduos é desperdiçar recursos de que o País carece e que, dada a exigência nula dos respectivos testes, os meninos e meninas do ensino secundário não prometem preencher.
É possível, admito, que a aparente taxa de sucesso nos exames para estrangeiros se justifique pela sua facilidade. Ainda assim, não podem ser tão fáceis quanto os do "secundário", ou então qualquer cidadão do Burkina Faso chegado anteontem à Portela os teria feito. E, como a bem intencionada porém cega acção do SEF revelou, não os fez.
7 de Janeiro - Está a causar certa polémica a decisão da Câmara de Paredes em erguer um mastro com cem metros de altura e uma bandeira nacional na ponta. Não percebo a razão. O autarca em causa explica, e muito bem, que a bandeira visa comemorar o centenário da república e que o mastro visa "georreferenciar" (sic) o concelho. Ao contrário dos adversários do projecto, defendo que a república deve ser comemorada e sobretudo que Paredes deve ser "georreferenciada", até porque, a olho nu, não conseguiria encontrar semelhante lugar mesmo que quisesse (não quero).
Sem surpresa, o problema das más-línguas prende-se com o custo da obra: um milhão de euros. Com surpresa, as maiores más-línguas pertencem à oposição autárquica e invocam a ofensa aos contribuintes, de cujo bolso o mastro fatalmente sairá. O espanto aumenta quando uma das vozes em questão se chama Artur Penedos e é, além de vereador em Paredes, assessor do primeiro-ministro.
Aparentemente, o convívio com o eng. Sócrates não atirou o sr. Penedos para as leituras de Keynes e não lhe ensinou uma verdade irrefutável: o investimento público é essencial ao desenvolvimento do país, logo, por maioria de razão, ao desenvolvimento de Paredes. Como inúmeras das maravilhas que o eng. Sócrates diariamente publicita, o mastro com bandeira colocará Portugal na vanguarda da Europa em matéria de mastros e bandeiras, dinamizará a economia local através do turismo, estimulará a auto-estima dos autóctones mediante a elevação quase celestial da esfera armilar e, não satisfeito, criará empregos, no mínimo dois: um para subir e descer o pavilhão, outro para afugentar os cães que pretendam urinar na base da estrutura. Se o mastro é menos veloz que o comboio de alta velocidade, será inequivocamente mais alto, e 15 mil vezes mais barato.
9 de Janeiro – Via TSF - Na apresentação de mais um estudo sobre o impacto do projecto de alta velocidade no sector do turismo, o ministro das Obras Públicas reiterou que Portugal pode vir a beneficiar «bastante» com o TGV, sublinhando que Lisboa pode mesmo «transformar-se na praia de Madrid».
Foi apresentado, esta quinta-feira, mais um estudo sobre o impacto do projecto de alta velocidade no sector do turismo que aponta para uma subida do número de turistas espanhóis.
O ministro das Obras Públicas, António Mendonça, aproveitou esta oportunidade para reiterar que Portugal pode vir a beneficiar bastante com o TGV.
«Lisboa pode-se transformar por exemplo na praia de Madrid, em termos de condições turísticas, as condições que nós [Portugal] temos para desportos novos como o surf. Há um conjunto de ideias e de oportunidades que importa explorar para aproveitarmos o que esta ligação pode trazer», afirmou António Mendonça.
Este estudo indica que se apenas dois por cento do actuais turistas espanhóis visitarem Portugal em 2015, dois anos depois do TGV, serão 12 milhões e meio, e em 2030, devem ultrapassar largamente os 13 milhões.
É por causa destes estudos que o ministro António Mendonça desafiou os empresários a agarrar a oportunidade do TGV, recusando ter uma visão conservadora.
«Quando o comboio foi introduzido no século XIX, as carroças a cavalos caíram e se calhar na altura os agentes económicos que estavam ligados à exploração de carroças ficaram extremamente tristes, bem como todas as indústrias associadas a esta actividade», exemplificou o ministro.
Os autores deste estudo, a Deloite e a Confederação do Turismo, prevêem ainda que o número de empregos, ligados ao turismo, também dispare. Em 15 anos, serão mais de 35 mil os novos empregados no sector.


Nova Aliança, 21 / Janeiro / 2010

Sem comentários: