10.2.10

O poder muda e o casamento entre católicos e não católicos

13 de Dezembro – O poder muda realmente as pessoas! É impressionante ver a transformação de algumas de condição modesta quando atingem posições importantes em termos de fama, de riqueza e de poder. Ainda hoje recordo um funcionário que todos os dias vinha ter comigo a lamentar-se da pouca saúde, dos problemas da mulher e dos filhos. Quando passou a chefe de outros funcionários, deixou de vir ter comigo e começou logo a atormentar os que dependiam dele.

Tenho visto muitos casos semelhantes entre operários e empregados. Já para não falar do que se passa na política. Antes das eleições, alguns políticos cumprimentam-nos calorosamente e pouco falta para nos abraçarem. Depois, assim que conseguem um cargo, tornam-se inacessíveis. Em alguns casos, é impossível contactá-los por telefone e não respondem a cartas. Com o tempo, acabei por perceber que agem assim por estarem convencidos de que o poder tem por base o medo. No início da carreira, invejam os superiores. Como os temem, para lhes caírem nas boas graças, comportam-se de forma reverencial, servil e até, como acontecia com o meu queixoso funcionário, tentam obter a piedade deles. Contudo, se os observarmos bem, percebemos que, no fundo, são pretensiosos e ávidos.

Não confiam nos colegas, não os respeitam, vêem-nos como adversários. Para alguns, os subordinados não passam de indivíduos invejosos e hostis que se comportam com deferência apenas por medo. É por isso que, após uma promoção, se tornam autoritários e déspotas: apenas se sentem seguros quando os subalternos obedecem a tremer. Quando conquistam cargos ainda mais importantes, todos os outros se tornam rivais. É por essa razão que apenas escolhem colaboradores medíocres que concordam com tudo. Felizmente, também há indivíduos que se comportam de forma oposta e que vêem o poder como uma liderança assente na criatividade, no mérito e na capacidade de obter resultados. E alguns, ao contrário dos primeiros, não sentem receio no início da carreira, porque confiam em si próprios e nas suas capacidades e apenas desejam poder exprimir--se e mostrar aquilo de que são capazes. Quando chegam ao poder, não vêem os seres talentosos como potenciais adversários; pelo contrário, procuram colaboradores com valor e rodeiam-se de especialistas, de homens de cultura e de artistas, a quem pedem opiniões e conselhos. No caso dos primeiros, o principal objectivo é aumentar o poder; os verdadeiros líderes têm ideais, sonhos e rodeiam-se de todos aqueles que desejam partilhá-los, para uma realização conjunta.
15 de Dezembro - O i-online dá notícia da proibição, pelo Papa Bento XVI, do casamento entre católicos e não católicos. O pretexto da notícia é uma tradução, parcial e não oficial, em espanhol de uma tradução em italiano do texto original em Latim.
Na parte respeitante ao casamento, a notícia é falsa. O Papa não proibiu coisa nenhuma (nem proibiu nada que não fosse já proibido). O Código de Direito Canónico (CIC) previa o casamento entre católicos e o casamento entre um católico e um não católico (casamento misto), sujeitando-os, porém, a ritos e requisitos algo diversos. E continua a prever depois da decisão papal que fundamenta a notícia. A alteração do texto de várias normas, como se explica no texto papal (que, nesta parte, não aparece na tradução espanhola usada pelo i), visou apenas clarificar o regime aplicável aos casamentos em que intervenha alguém baptizado, mas que se tenha afastado da Igreja (relativamente aos quais havia dúvidas sobre se deveria, ser tratados como católicos ou como não católicos, para efeitos da determinação do rito e requisitos aplicáveis).
Os jornalistas não têm de saber latim, mas não custava muito, por exemplo, consultar o texto anterior das normas do CIC, para perceber o disparate do título.

Nova Aliança,24 / Dezembro / 2009

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