30.1.15

A estação parva

26 de agosto – Com o país em férias, vive-se a ‘silly season’, a tal estação parva em que nada acontece. Bom,,, quase nada. O que dizer da tragédia do cvasal polaco que caiu de uma arriba com cerca de oitenta metros? Os filhos assistiram a tudo e não o esquecerão até ao fim dos seus dias. O que dizer da recriação histórica que trouxe ‘catraias’, redes e pregões ao areal de Caxinas, um lugar de Vila do Conde que continua a albergar uma das maiore comunidades piscatórias do país? O que dizer dos dezasseis óscares europeus de turismo ganhos por Portugal? De Lisboa à Madeira, do Porto ao Algarve, eis tudo o que um turista precisa; que o destino confirme o que ele espera. O que dizer nestes dias de um pensamento escrito num dos ‘Diários’ de Miguel Torga: “A olhar as mentiras dos salões, esquecemos a verdade das celas”? O que dizer de mais uma releitura de ‘O Leopardo’ de Lampedusa? As mesmas interrogações, as mesmas contradições, a mesma necessidade de perceber a existência. Por isso, talvez se tenha celebrizado a frase do romance imortalizado no filme de que “é preciso que mude alguma coisa para que tudo fique na mesma”. O que dizer do reencontro de Randhatul Jannah, dado como morto em 2004, por ocasião de um dos maiores tsunamis registados no Oceano Índico, com Jamaliah e Septi Rangkuti, seus pais? Encontrada a quarenta quilómetros da sua aldeia, Randhatul foi salva por um pescador e alguém notou a sua semelhança com acriança desaparecida dez anos antes. O que dizer do pedido feito pelo vice-primeiro ministro da Turquia, Bullent Arinc, para que as mulheres turcas não se riam em público? O ponto é que, se ele acha tal coisa, o mínimo que se pede é que não diga coisas engraçadas como “as mulheres não se devem rir em público”. Se ele acha tal coisa é, muito provavelmente, porque ele próprio não se ri em privado, o que advém do facto de ter uma figura risível. O que dizer da última decisão do Tribunal Constitucional? Os cortes são aprovados durante o período claramente identificado como de emergência, e apenas no caso em que se vislumbra alguma justiça dentro da injustiça geral qu écortar direitos adquiridos. Depois, os governos que se organizem. Os juízes, tantas vezes acusados de fazerem política por caminhos ínvios, desta vez fizeram-na efetivamente dando uma lição aos políticos. Ao imporem o limite temporal para os cortes nos salários, contribuem ainda para dar um sentido aos sacrifícios, algo que competia ao governo. O acordo do Tribunal Constitucional mostra que o equilíbrio de poderes está bem e recomenda-se. O que dizer da deputada do PS, Maria João Rodrigues? Não se conforma por não ter sido nomeada comissária, mesmo depois de Jean-Claude Juncker ter afirmado que ele nunca fez parte da ‘lista de desejados’. A senhora diz agora que aquilo que lhe custa”não é não ter sido selecionada, é não ter sido submetida à seleção pelo Presidente da Comissão”. Ou seja, queria que ao menos o senhor juncker tivesse olhado para ela, mas o raio do homem nem isso fez. O que dizer ainda das PPP? Ao fim de todo este tempo, a única poupança que se conseguiu foi pelo cancelamento de novos projetos e pela anulação de contratos para manutenção futura das autoestradas. Mas as taxas de rentabilidade obscenas de vinte e tal por cento que o Estado pagou, essas estão inalteradas. Não houve por isso nenhuma renegociação das rendas dos contratos de PPP. Nova Aliança, 5 / setembro / 2014

Sem comentários: