16.4.13

Balanço de 2012, Votos para 2013

2 de janeiro - As coisas não mudam. No final do ano é costume formularmos votos de Bom Ano Novo. É normal que as pessoas desejem umas às outras o melhor para as suas vidas no ano que vai entrar, que tudo aconteça de acordo com as melhores expetativas, que os seus desejos se realizem e não faltam os votos de saúde, de muitas alegrias e felicidades. Todos sabemos como são especialmente importantes as palavras de alento e de esperança de mudança para as pessoas apanhadas pela famigerada ‘crise’, muitas delas sem disporem de qualquer rendimento, que procuram trabalho mas não encontram resposta positiva, e que se confrontam diariamente com dificuldades financeiras para resolver necessidades tão essenciais como a habitação ou a escola dos filhos. O agravamento dos sacrifícios em 2013 vai especialmente pesar sobre todos aqueles que estão no desemprego e que vivem com carências económicas significativas. Perante isto, o que desejar para 2013? Que o país cresça em consciência social e que, como tal, governo, políticos, empresas e cidadãos ganhem maior sensibilidade social, sejam mais responsáveis e estejam mais disponíveis para contribuir para o reforço da solidariedade social, seja no plano político, seja no plano institucional e individual. Esta esperança funda-se na observação do ano de 2012 que não deve deixar ninguém indiferente perante o sofrimento de muitos portugueses. Justamente num momento em que a taxa de desemprego atinge níveis muito graves e em que a pobreza está a crescer a partir de níveis já de si elevados esperava-se do Estado Social uma maior capacidade na protecção das pessoas e famílias atingidas por estas chagas sociais. O Estado Social falhou quando era mais necessário, para quem dele necessita. A situação é de grande emergência financeira, mas passou a ser também de grande emergência social. Desejo, pois, o maior cuidado nos cortes anunciados de 4,4 mil milhões de euros na despesa pública, que sejam procuradas e encontradas alternativas que não afectem os níveis de rendimento já de si muito baixos e precários da maioria da população e que não reduzam os níveis de protecção social já de si fragilizados. 7 de janeiro - Escolho o povo português como figura de 2012. Na verdade, quem mais poderia ser? Em 2012, a sociedade civil explodiu no espaço público e soube usar a exposição mediática. Agiu fora dos partidos, que os cidadãos sentem actuar de acordo com interesses próprios, não os seus. Em 15 de Setembro, os manifestantes renegaram o enquadramento partidário, mas não originaram movimentos sociais. O grito extinguiu-se. Mais importantes foram erupções perenes de sociedade civil. Perante um sistema irreformável, os cidadãos defendem-se no espaço público, em novas formas de acção e com novos protagonistas. Destaco Paulo Morais. É uma voz activa, sólida, factual, avessa à demagogia. Expõe processos legais e ilegais de corrupção, promiscuidades de deputados e interesses económicos. Desmonta o sistema. A TV deu espaço a outras vozes, como Tiago Caiado Guerreiro, Carlos Moreno, Domingos Azevedo e Medina Carreira. O êxito do programa em que participa deve-se precisamente à denúncia do sistema. Como neste nada muda, havia tendência à repetição, pelo que o programa acrescentou convidados anti-sistémicos, para enriquecer o debate e quebrar a monotonia. Aqueles protagonistas e outras manifestações da sociedade civil, como os estudos da Fundação Francisco Manuel dos Santos ou o blogue Má Despesa Pública, abrem janelas que abalam a novilíngua de políticos e seus agentes nos media. Estes, todavia, ainda dominam, pois os canais de TV também pertencem ao sistema: apenas deixam entrar um pouco de ar fresco contra a demagogia, a retórica oca e deslocada da realidade de que muitos portugueses, na rua, nos espaços de liberdade na Internet e um pouco nos media tradicionais, revelam estar saturados. Nova Aliança, 10 / janeiro / 2013

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