19.4.13

O monarca

8 de abril – Há para aí uns bastardos na comunicação social que não têm vergonha na cara e continuam a fazer fretes aos amigos e conhecidos. Vão longe os tempos em que o jornalista procurava a independência e a isenção. Hoje, está instalado o compadrio. Querem um bom exemplo? Mário Soares. Alguém que ficará na história pelo papel que teve depois do 25 de abril está a ter um ‘ocaso’ verdadeiramente lamentável. De forma pouco séria, Soares nunca viu nenhuma virtude em nenhum governo que não fosse do seu partido. Muito recentemente, Soares não se distinguiu dos demais capangas socráticos na defesa do chefe. Ante as trapalhadas e mentiras de Eng., o ex-Presidente usou a cassete dos Lellos e Santos Silvas desta vidinha. O alegado "pai da democracia" transformou-se em pai do PS. A alegada dignidade do ‘senador’ revelou a dentola dos jotinhas. Porquê? Para Soares, a democracia é o PS e o PS é a democracia; nesta quase ‘monarquia republicana’ chamada III República. Aliás, naquela cabeça, o regime é o ele mesmo, o regime é o próprio Soares, D. Soares I. Esta presunção de superioridade dinástica subiu de tom após a subida ao poder do actual governo. Para Soares, todos os problemas começaram agora. Numa linguagem arruaceira, Soares tem sugerido um incremento da violência social. Qual miguelista invertido, Soares anda a sonhar há meses com várias Marias da Fonte. E, neste fim-de-semana, passou dos limites quando disse o seguinte sobre Cavaco: "por muito menos do que isto foi D. Carlos morto". Independentemente dos diversos disparates protagonizados pelo Presidente da República, isto é linguagem de taberna, obviamente vergonhosa para um ex-Presidente de uma democracia. Mas, claro, D. Soares I não se sente numa democracia onde ninguém está acima de crítica. D. Soares I julga que está no seu reino, a monarquia republicana onde todos lhe devem respeitinho. Mas o pior é o silêncio dos média e é aqui que os jornalistas bastardos entram. Ao contrário de outros, Soares pode dizer o que quiser. Pode ter atitudes machistas perante eurodeputadas, pode gozar com os contribuintes quando o seu carro é multado, pode refazer à vontade a sua biografia , pode ser um mero apparatchik do PS, pode até acenar com violência política, pode tudo isto porque passa sempre entre os intervalos da chuva. Ele é o Rei, e o Rei, como se sabe, nunca se molha mesmo quando vai nu. Enquanto esteve no poder, D. Soares nunca se molhou porque recebeu sempre um tratamento principesco nas redacções ( leiam a biografia da autoria de Joaquim Vieira ). Agora, depois da reforma, é tratado como um ser inimputável. Ou seja, Mário Soares passou as últimas décadas numa redoma situada acima do bem e do mal. Só falta mesmo a água de malvas. 11 de abril – O tempo que a comunicação social poupa com Soares gasta com os cenários de papel das remodelações. Aí há sempre algo para dizer. Confiram, por favor. Se o novo ministro é do partido, dizer que é um boy, se o novo ministro não é do partido, dizer que não tem experiência política. Se o novo ministro é um académico, dizer que é um teórico, se o novo ministro é um homem de acção, dizer que não tem qualificações para o cargo. Se o novo ministro vai trabalhar fora da sua área, dizer que é um erro de casting, se o novo ministro vai trabalhar na sua área, referir que tem conflito de interesses. Se o novo ministro é jovem, dizer que não tem experiência, se o novo ministro é velho, dizer que não há renovação da classe política. Se o novo ministro nunca trabalhou fora de Portugal, dizer que não tem experiência internacional, se o novo ministro trabalhou fora de Portugal, dizer que é um estrangeirado que não compreende o país. Se o novo ministro vem do próprio governo, dizer que não há renovação do governo, se o novo ministro vem de fora do governo, dizer que levará demasiado tempo a estudar os dossiers. Se o ministro não é substituído, dizer que é uma vergonha para Portugal, se o ministro é substituído, dizer que é a prova que o governo é incapaz de governar e tem de se demitir todo. Se o ministro tem demasiadas pastas a cargo, dizer que não dá conta do recado, se o ministro vir parte das responsabilidades atribuídas a outro, dizer que o estão a esvaziar e que é incompetente 13 de abril - O ministro Nuno Crato foi exemplar no caso Miguel Relvas. E o primeiro-ministro também, reconheça-se, pelo menos a acreditar que disse sempre ao ministro da Educação, como o próprio garantiu, para se investigar o caso até às últimas consequências: "Cumpra a lei", foi a citação de Crato na SIC/Notícias. Se tivesse sido assim no caso da licenciatura de Sócrates - e é preciso terem muita lata para as viúvas, os órfãos e amigos próximos do ex-primeiro-ministro - se atreverem a falar de ética a propósito de Relvas - outros galos cantariam hoje muito mais baixinho. O senhor Mariano Gago terá aprendido alguma coisa? Nova Aliança, 18 / abril / 2013

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