16.9.12

A grande 'festa' da Parque Escolar

15 de abril - O texto de hoje é uma festa. Por três minutos, convido os leitores a esquecer a crise, a troika, os aumentos da gasolina, as contas do supermercado. Provavelmente, quando chegar ao fim, não vai sentir vontade de rir mas… é a vida e a vida é uma festa. A senhora Maria de Lurdes Rodrigues, antiga ministra de José Sócrates, defendeu no Parlamento, com o mesmo humor de qualquer humorista, que o programa Parque Escolar foi "um êxito", não "houve derrapagens", enfim, "foi uma festa para o País". Chamada a explicar no Parlamento as trapalhadas da Parque Escolar, Maria de Lurdes Rodrigues resumiu-as numa frase: "A Parque Escolar foi uma grande festa para o País." ( Como o leitor já reparou, abre-se aqui um parêntesis para ‘ler’ o que vai na imaginação da personagem. Ora, para ela, a cena deve ter-se passado da seguinte forma: Os professores celebravam. As crianças riam. Populares davam vivas aos governantes. As janelas abriram-se para mostrar colchas e rendas vistosas. Agrupamentos de escolas e EB 2/3 abraçavam-se e entoavam cânticos de louvor ao alegado engenheiro Sócrates. Eu própria saí à rua e fiquei tão feliza fim por me juntar à alegria que tomara conta de Portugal inteiro. Fico assim sempre que um desígnio público –lembram-se dos estádios do Euro? - desata a espatifar o dinheiro dos meus impostos e enviar 180 milhões para destino desconhecido. É uma vergonha como se pode dizer mal de tudo isso… Cambada de ingratos e de antipatriotas… Veja-se, por exemplo, as verbas que, a troco de uns candeeiros, desaguaram no arquitecto Siza Vieira. Como a minha ex-colega Isabel Canavilhas bem registou, os candeeiros de autor justificam-se porque Siza Vieira é "um grande artista" e o ambiente nas escolas não pode ser "nivelado por baixo". Esta linha de pensamento obriga-me a aconselhar a decoração das novas salas de aula com originais de Degas e Vermeer, artistas ligeiramente maiores do que Siza Vieira e, sem dúvida, dignos da apreciação dos nossos corpos docente e discente. E digo mais, ensino propriamente dito pode rastejar à vontade, convivemos bem com os currículos anedóticos, a erosão dos padrões de exigência, a indisciplina e a pura violência frequentes nos liceus, até aceitamos bem o baixíssimo nível dos senhores que coloca a tutelar o sector. A única coisa que não posso tolerar é uma escola feia, e quem sugerir ser absurdo gastar fortunas (e desviar fortunas) para embelezar uma inutilidade (e animar clientelas) escandaliza as pessoas de bem. Vamos mas é a aceitar os candeeiros de Siza Vieira e o resto e, em troca, a dispensar as audições parlamentares, que invariavelmente servem para nada ). Neste ponto, faço questão a fazer notar ao leitor que os parêntesis fecharam, o que significa que agora sou eu que falo e não alguém que delira. A verdade é que uma auditoria à empresa Parque Escolar se revela arrasadora. A crueza dos números do Tribunal de Contas aponta para um agravamento de 337% no custo previsto das obras, ou seja, de 940 milhões em 2007, chegou-se aos 3168 milhões em 2010. Valores que não convencem a dita senhora. Ainda imbuída do mesmo tom festivo, expressa um conceito inovador: "Deixámos uma dívida boa." Não sei se conseguem alcançar a subtileza da expressão… “Dívida boa!!!!!!!!!!!!!” Já durante a audição a Isabel Alçada, ex-governante que justifica a utilização de mármores e madeiras nobres, a mesma Gabriela Canavilhas defendeu a existência de candeeiros de Siza Vieira nas escolas por se tratar de "um grande artista", acusando a maioria parlamentar de querer "nivelar por baixo". Miseráveis? Nunca! A ideia é gastar à tripa-forra e quem vier a seguir que pague a conta. Foi por esta linha de raciocínio que agora estamos a penar, e ainda a procissão vai no adro. Que grande festa. in Nova Aliança, 26 / 4 / 2012

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