16.9.12

Isaltino e Eusébio

26 de janeiro – A novela ‘Isaltino’ continua. Ele não é apenas um autarca ou até só um réu. É já um símbolo deste regime decrépito. Representa infelizmente o que há de pior na promiscuidade entre negócios e política, simboliza a corrupção e a total impunidade. Toda a sua vida política e empresarial e todo o seu enriquecimento são representativos do quanto este regime se degradou. E não nos podemos queixar… As suas sucessivas eleições para a Câmara de Oeiras já nem surpreendem. Os oeirenses sabem que a generalidade dos políticos não é séria e por isso acreditam que ter como presidente um ‘criminoso’ com obra é talvez um mal menor. Lembram-se do slogan "Rouba mas faz"? Isaltino foi acusado dos crimes de participação económica em negócio, corrupção, branqueamento de capitais, abuso de poder e fraude fiscal. Segundo a acusação, Isaltino Morais "recebia dinheiro em envelopes entregues no seu gabinete" para licenciar loteamentos, construções ou permutas de terrenos. Depois de um longo processo, já com sete anos, veio a consequente condenação. A que se seguiram recursos e mais recursos. Mas, mesmo depois de os recursos terem sido declarados improcedentes, o presidente da Câmara de Oeiras continua à solta. O próprio presidente do Supremo Tribunal de Justiça veio proclamar que a prisão já deveria ter tido lugar e que "não faz sentido que a pena ainda não tenha sido executada". Mas graças ao seu enorme peso político, e dispondo do apoio de advogados que se mexem com perfeição no pântano em que o aparelho de Justiça se transformou, Isaltino permanece impune. A sua não detenção faz perigar o Estado de direito, pois o mínimo que se exige a um sistema de Justiça é que consiga executar as suas decisões. E esta situação pode até constituir uma sentença de morte para a própria democracia. Pode um Estado que não é de direito ser democrático? Não creio… 30 de janeiro – Durante o dia não se falou de outra coisa: o 70.º aniversário de Eusébio. Deixem-me recordar-vos uma data grandiosa da Hiostória de Portugal: 23 de julho de 1966. Nesse sábado, o Eusébio da Silva Ferreira ensinou aos portugueses o que é vontade e pertinácia - afinal valores que ajudam mais os portugueses, sobretudo agora, do que a futilidade dos futebóis. Nessa tarde, um grupo de sábios portugueses defrontava colegas da Coreia do Norte, em Inglaterra. Discutiam um problema que apaixonava e continua a apaixonar o mundo - quantas vezes era possível meter uma esfera de couro num cabaz de rede pousado na relva? - e os asiáticos, aos 25 minutos, já tinham metido três. O grave foi ver como os portugueses desesperaram. Todos? Não: o ‘professor’ Silva Ferreira pegou na esfera (viu-a armilar, como a da pátria na bandeira) e, sozinho, levou-a, uma, duas, três e quatro vezes ao destino. Os colegas de apáticos viraram eufóricos, quiseram aplaudi-lo mas ele enxotou-os: a hora era de lutar. Só à 4.ª esfera aceitou abraços e ainda ofereceu uma 5.ª a um colega. Um jornal inglês titulou: "Master-mind Eusebio". Silva Ferreira tinha o mesmo nome do tal futebolista, mas o jornal ao chamar-lhe "Espírito Superior" não estava a falar de pés. O vídeo desse Portugal-Coreia do Norte deveria passar nas escolas e em todos os locais de trabalho para formar o carácter dos portugueses. in Nova Aliança, 3 / 2 / 2012

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