16.9.12

Mário Soares, Miguel Portas e Marinho Pinto

25 de abril – Há muito tempo que me habituei a declarações sem sentido de Mário Soares. Hoje aconteceu mais uma. Recordo ao leitor que são os nossos impostos que lhe pagam carro, motorista e, aparentemente, multas de trânsito. Pelo seu passado, tem responsabilidades institucionais e o dever de as cumprir. A sua "solidariedade" com os militares de Abril é das atitudes mais vergonhosas da sua longa carreira, e é sobretudo uma hipocrisia do tamanho do défice português. Esse senhor esqueceu-se de certeza que trouxe o FMI para Portugal num dos seus governos. Esqueceu-se também de ter pago os subsídios de Natal aos funcionários públicos em certificados de aforro. Nessa altura, onde é que estava Abril? Mais recentemente, não se cansou de louvar o visionário Sócrates e a sua política desastrosa que nos levou à falência e nos colocou de mão estendida diante da troika. E agora é este senhor que nos vem dar lições de democracia? Por favor, haja alguém que o ajude a passar os seus dias com dignidade. 26 de abril – Não conheci pessoalmente Miguel Portas. Só sabia que era filho de e irmão de. Dizem-me que foi também um político cordato. É bom saber que tinha família notável e que a convicção não obriga à antipatia. Na hora dos obituários – generosos e abundantes, como é costume entre nós - cai bem que se diga bem. Contudo, não havia muitas informações. Os jornais, pelo menos, não as deram. Sabemos que passou pelo PCP e fundou o Bloco de Esquerda. Mas isso não é necessariamente um grande feito. Muitos devem ter feito o mesmo caminho entre as duas forças. De repente, dei-me conta de um vídeo: "Não consigo compreender como um eurodeputado no dia em que viaja pode receber 300 euros em ajudas de custo, mais o subsídio de distância e mais um subsídio de tempo...", protestava o eurodeputado Miguel Portas, de forma educada (mas não foi só isso que anotei), no Parlamento Europeu, em fevereiro de 2010, já em tempo de crise, onde se acabava de votar um aumento para eles próprios, os eurodeputados. "Temos a obrigação de dar o exemplo e hoje demos um mau exemplo", concluiu ele. Discurso bonito mas isolado. Pelo menos, não me recordo de mais nenhum eurodeputado português com o mesmo tipo de discurso. Ontem, escrevia um correspondente em Bruxelas: "Ele foi o mais ativo na luta contra os privilégios desmesurados dos seus colegas deputados." E alinhava vários exemplos. Ontem, foi pelo texto desse jornalista de um jornal estrangeiro, El Mundo, que eu confirmei a dimensão pública de Miguel Portas. E tive pena que em Portugal o não tivessem escrito. 28 de abril – Gostaria o leitor que alguém lhe chamasse escaravelho do diabo ou mosca morta? Conheço pelo menos uma pessoa que não se importaria. O seu nome? Marinho Pinto, o representante máximo dos advogados. Tenho a certeza que o bastonário não processará quem o considere um mero inseto ou uma venenosa carraça, sobretudo depois de o termos visto a insultar a ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, no programa ‘Conversas Improváveis’ da SIC Notícias. Como se diz em linguagem jurídica, o momento televisivo deve criar jurisprudência. Se Marinho resolve chamar "barata tonta" a uma senhora, concorde-se ou não com as suas políticas sobre a Justiça, todos temos o direito de chamar sapo ao sr. bastonário. Ou pior. O que quererá ele? Audiência? Deveria concorrer à próxima edição da Casa dos segredos. 2 de maio -Ontem aconteceu qualquer coisa ‘nova’ no País. Nas ruas, as centrais sindicais assinalaram o 1º de Maio com ainda menos gente do que o habitual. No Pingo Doce, foi ignorado o Dia do Trabalhador e as lojas abriram com uma promoção que atraiu milhares. Nas ruas, protestou-se com pouco eco contra o Governo, no ‘hiper’ as pessoas acotovelaram-se contra a crise. Com confusão, pancada, protestos, caos. Atenção ao que se passou. Entre o protesto e a barriguinha, desmobilizou-se a luta cívica e venceu a fúria do açambarcamento. Qualquer fósforo mal usado pode mesmo incendiar o nosso pequeno retângulo. in Nova Aliança, 10 / 5 / 2012

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