18.6.14

A 'Casa do Cinema' e o Aeroporto de Beja

25 de abril - Mário Soares esteve no Largo do Carmo, ao lado dos capitães de Abril, para pedir o derrube do governo de Passos Coelho, se for necessário na rua “e a mal”. Longe vão os tempos do 10º aniversário do 25 de Abril, em 1984, em que Mário Soares, então primeiro-ministro do governo de Bloco Central PS-PSD,com o FMI pela segunda vez em Portugal, dizia na Assembleia da República aos capitães de Abril que contestavam a sua governação, parecendo o Passos Coelho de hoje: “O Povo, no seu bom senso, sabe quem lhe fala a verdade, tem consciência de que a crise é geral – não somos nenhuma excepção por essa Europa além – e está sobretudo cansado da demagogia, da agitação inconsequente, de uma certa retórica pseudo-revolucionária que já ninguém suporta”. 4 de maio - Estávamos em 1998, Fernando Gomes presidia à Câmara Municipal do Porto, Manuel Maria Carrilho reinava como ministro da Cultura e Manoel de Oliveira ia fazer 90 anos. Para aquelas almas profundamente imbuídas de paixões culturais nada melhor do que fazer erguer um monumento de betão – mas com pedigree cultural, pois o desenho seria de Souto Moura – com o pomposo nome de “Casa do Cinema”. Escolheram a melhor e mais refinada zona da cidade do Porto – a Foz, como não podia eixr de ser – e lá ergueram as paredes do que seria a futura residência do cineasta (seria ele um sem-abrigo desconhecido?) e, ao lado, as arrecadações para guardar o seu espólio. A obra levou uns anos a fazer – afinal Portugal nunca deixaou de ser Portugal – e, quando ficou pronta, a câmara não se entendeu com o cineasta. A lindas paredes ficaram ao abandono, ninguém parece ter estado muito incomodado, os anos passaram, tudo se foi degradando, e entretanto Manoel de Oliveira somou mais dez anos, tornou-se centenário, nunca achou que tivesse de mudar os tarecos para um casa nova e acabou a entender-se com a Fundação de Serralves, onde entretanto está a surgir outra casa Manoel de Oliveira, esta da autoria de Siza Vieira (noblesse oblige). Chegamos assim ao ponto de, dez anos depois, o “betão cultural” que custou mais de dois milhões de euros – não se indignem já, foi para “investimento”, ainda para mais um “investimento cultural” – ir agora à praça por apenas 1,5 milhões. É o que se chama uma história exemplar da saloice nacional, do encantamento parolo com certos “símbolos da cultura” e da leviandade com que se gasta o dinheiro dos contribuintes. Ao menos que corra bem o leilão. 12 de maio - Um dos jornais televisivos da TVI 24 abre com a seguinte manchete: “PS questiona Governo sobre interesse dos EUA na Base Aérea de Beja Socialistas exigem que novas utilizações da infraestrutura «não ponham em causa» o desenvolvimento do aeroporto”. Os leitores recordam-se certamente do que aqui já foi dito do Aeroporto de Beja que recebe em média dois voos por semana. Mas é tudo culpa do actual governo que desinvestiu no aeroporto, da senhora Merkel porque ela é sempre culpada de alguma coisa e depois dos americanos que eram para vir, comprometendo desse modo o desenvolvimento do aeroporto e depois como não hão-de vir comprometem-no ainda mais. Quando o PS for governo faz-se um programa de desenvolvimento para o aeroporto de Beja. Eu sugiro que se levem os ‘desencorajados’ de avião até Beja de preferência em Julho, metem o nariz na rua e regressam para casa animadissimos e quiçá até dispostos a trabalhar numa churrascaria. Obs. Segundo a TSF os ‘desencorajados’ recusam sistematicamente as propostas de emprego dos centros de emprego mas não são pessoas que não querem trabalhar, são sim pessoas desencorajadas. Nova Aliança, 14 / maio / 2014

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