18.6.14

Isabel Jonet e a segurança social inglesa

4 de abril – Tal como noutras actividades, também o Facebook tem os seus lápis azuis. Infelizmente há gente que pouco mais faz que bisbilhotar o que os outros dizem e fazem, tentando com isso apanhá-los em falso, se a ocasião o permitir. Quem ousar pensar de forma diferente tem o castigo correspondente: é crucificado na ‘rede’ e o trabalho de uma vida reduzido a cinzas. Neste momento a pessoa em questão é Isabel Jonet. Como tudo na vida, as redes sociais são boas ou más conforme o uso que delas se faz, e obviamente, foi a isso que a presidente do Banco Alimentar se referiu quando falou no prejuízo que elas podem causar aos desempregados. E o maior prejuízo que podem causar é deixar as pessoas agarradas a “amigos que não existem” e a “viver uma vida que é uma total ilusão”. É pena que certos “gurus” pseudo-intelectuais da nossa praça – leia-se das nossas redes sociais –, dediquem os seus talentos a denegrir quem não pensa como eles demonstrando uma visão deformada sobre a realidade, que não olha para as obras, mas sobrevaloriza e deturpa as palavras e as ideias só porque, na democracia deles, há coisas que não se podem pensar e muito menos dizer. Isabel Jonet tem um defeito: fala com franqueza. E tem outro defeito ainda maior: diz o que pensa sabendo sobre aquilo de que fala. Isto para além desse defeito supremo que é não ser politicamente correta, entenda-se, não ser de esquerda. Ela acha que assim é praticamente impossível conseguir-se um emprego, e não custa concordar com a senhora - excepto, claro, se partirmos do princípio de que tudo o que a senhora diz é uma afronta aos desvalidos, dado que a senhora tem o descaramento de distribuir comida entre os pobres, em vez de retórica. Neste caso, a opção óbvia consiste em distorcer um bocadinho ( no mínimo… ) as palavras de Isabel Jonet e verter indignação a rodos. Onde? Ora essa: curiosamente no Facebook, que serve justamente para que a loucura, à semelhança de certa pobreza, não permaneça envergonhada e confinada a hospitais e consultórios psiquiátricos. Difícil não é perceber como é que inúmeros viciados nas "redes sociais" não arranjam emprego, mas perceber como é que outros tantos mantêm o seu. 6 de abril - A Segurança Social britânica retirou cinco filhos a um casal português que ali vivia. A própria magistrada reconhece que as crianças queriam viver com os pais. Pela Europa fora, como se vê, o Estado arroga-se no direito de fazer o que quiser com uma família. Sobretudo as mais pobres. Sim, é de pobreza e não de Justiça que se trata. Lembram-se de Liliana Melo, a cabo-verdiana a quem tiraram sete filhos em Portugal, apesar de não haver maus tratos, queixas, apesar de a senhora já estar empregada, numa operação de tal forma tosca que se esqueceram de um dos filhos? A mesma Liliana, que não sabia sequer ao que ia quando foi a tribunal? Aquela a quem não deixaram mais ver os filhos? Lembram-se que, depois disso, uma advogada e várias pessoas se mobilizaram para a defender? Lembram-se que o caso foi à Relação? Pois bem, a Relação já julgou e...surpresa das surpresas, confirmou a sentença da 1ª Instância. A Liliana continua, por ora, sem os filhos, à espera de novo recurso. As advogadas entendem existirem erros manifestos e grave violação de princípios estruturantes do Estado de Direito. No tempo em que o Direito era Justo, levava em conta situações concretas e não abstratas. Ora na 1ª Instância, que a Relação ora confirmou, escreve-se que "não há prova de maus tratos" (não há, aliás, prova de um delito que seja); aquele acórdão reconhece que há afetividade entre os irmãos e entre mãe e filhos e apenas se prova o que é evidente - que Liliana é pobre. Ponto! Num ataque da mais pura desumanidade, a sentença refere que falta higiene, que a luz chegou a estar cortada por falta de pagamento! E que há um quarto para cinco crianças! E que Liliana não laqueou as trompas e ainda teve mais filhos, já depois da família começar a ser acompanhada pela assistência social. Foi isto que a Relação quis confirmar. E ainda acrescentou este trecho vergonhoso. Totalmente vergonhoso no cinismo que demonstra para a pobreza. Leiam-no devagar e por favor não se engasguem: "A falta de empenho dos progenitores em proporcionar desafogo material aos menores é por si próprio uma grande violência que legitima a decisão tomada pela 1ª instância". Claro que sim, senhores juízes, a pobreza é uma enorme violência. Mas não será porventura maior violência do que a pobreza arrancarem os filhos a uma mãe? Quem não sabe o que é amor, compaixão, família dificilmente compreenderá. Muito menos perceberá porque razão no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem ou na Declaração dos Direitos do Homem é a família e o apoio à família, unida, que está no centro do combate à pobreza. Há um poema de Tomás Ribeiro (séc. XIX), chamado ‘D. Jaime’, que refere a determinado passo: "El-Rei de Castela é nobre/ não manda insultar um velho/ pode mandá-lo ser pobre/ matá-lo à míngua de pão/ mas mandar que um pai lhe entregue o próprio filho?! Isso não". Talvez isto tenha um nome: ignorância. Nova Aliança, 17 / abril / 2014

Sem comentários: